Em plena catedral de Notre Dame, um marco de Paris, diante das maiores autoridades políticas e religiosas da França, bem como outras testemunhas de várias nacionalidades, a voz embargada e as lágrimas de um brasileiro foram o símbolo da dor de quem foi diretamente afetado pela tragédia do voo 447. Escalado para participar do ato ecumênico em homenagem às vítimas do acidente, o carioca Marcelo Chapman, comissário da Air France, chorou durante a leitura, em português, do texto “Pegadas na areia”, uma mensagem evangélica que fala de Deus acompanhando os passos de um fiel.
” Tive medo, mas ao mesmo tempo confio absurdamente no trabalho da empresa, dos pilotos ao pessoal técnico. Avião da Air France não sai do chão se houver um único parafuso fora do lugar ”
Chapman, de 32 anos, foi traído pela emoção de lembrar do amigo e colega de trabalho Lucas Gagliano, o comissário da companhia aérea francesa que voltava no Airbus 330-200 depois de ir ao Brasil para o enterro do pai. Os dois cariocas tinham feito parte da mesma turma do curso em que obtiveram qualificações para trabalhar na União Europeia.
– Não sei se teria coragem de fazer a leitura se alguém tivesse me avisado que um dos textos seria “Pegadas na areia”. Sempre me emocionou, e não seria diferente numa ocasião como essa, em que pensei muito sobre todo o sofrimento, não apenas o do Lucas – afirmou o carioca, que fez parte da tripulação do primeiro voo da Air France a sair do Brasil após o 447 (o 445, entre São Paulo e Paris, na segunda-feira).
Contratado especificamente para rotas entre a França e o Brasil, Chapman disse ter feito frequentemente o voo 447. Ele não tentou negar ter ficado abalado com o acidente e tampouco apreensivo, mas deixou claro não ter nenhuma preocupação diretamente ligada ao Airbus ou aos pilotos da Air France:
– Um uniforme não nos faz menos humanos. Tive medo, mas ao mesmo tempo confio absurdamente no trabalho da empresa, dos pilotos ao pessoal técnico. Avião da Air France não sai do chão se houver um único parafuso fora do lugar.
Segundo a Air France, mais de 2 mil pessoas compareceram à catedral, entre parentes de vítimas, funcionários da companhia aérea, e autoridades como o presidente da França, Nicolas Sarkozy e a primeira-dama, Carla Bruni, seu antecessor, Jacques Chirac, o premier François Fillon e, representando o governo brasileiro, o embaixador em Paris, José Maurício Bustami. O ato contou com participações de representantes das comunidades cristã, judaica e muçulmana, com pronunciamentos também em francês e inglês.
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