Jogador não renega a disciplina, mas não abre mão da sinceridade.
Num meio cada vez mais marcado pelo rigor dos padrões, é difícil hoje em dia alguém assumir na seleção brasileira de futebol posições que poderiam sugerir um rasgo de rebeldia, mas que refletem apenas uma personalidade forte. Disposto a driblar as mesmices dentro e fora de campo, Kaká toma decisões polêmicas com convicção. Pediu dispensa da Copa América, em julho, por excesso de desgaste físico. E já em Teresópolis, no meio da semana, disse que sua obrigação é ajudar a seleção, com uma pequena ressalva: não gostaria de jogar no ataque, de costas para o gol.
Não se trata de um craque que cultua a indisciplina ou renega a hierarquia. Kaká representa exatamente o contrário disso. É um dos que mais se empenham nos treinos e passou a ser o jogador brasileiro mais requisitado para entrevistas, o que ficou evidente nos quatro dias de atividades da seleção em Teresópolis, na preparação para a estréia nas Eliminatórias de 2010, hoje, contra a Colômbia. Se suas arrancadas em campo deixam os zagueiros para trás, diante de microfones e perguntas às vezes embaraçosas, reage com elegância e firmeza.
Favorito ao prêmio de melhor do mundo na temporada, cujo anúncio se dará em dezembro, pela Fifa, Kaká vai assim, aos poucos, assumindo o papel de líder ou de maior referência da seleção, desde a saída de Ronaldo Fenômeno da equipe com o fracasso do Brasil na Copa do Mundo de 2006. Ele, porém, rejeita a idéia de que esses objetivos estejam em sua lista de prioridades. “Não tenho que pensar nisso. Quero crescer com a seleção e com o Milan conquistando títulos, a começar pelo Mundial de Clubes, no fim do ano.”
Kaká foi sincero antes da viagem da equipe a Bogotá, na sexta-feira. Disse que as Eliminatórias não empolgam como outras competições, por causa do intervalo entre os jogos, às vezes superior a seis meses. “Isso não significa desinteresse. É apenas uma constatação.” A altitude de 2.600 metros da cidade da estréia do Brasil não é obstáculo, na avaliação de Kaká. Para ele, o confronto vai ser aberto, com as duas equipes em busca da vitória e a seleção dirigida por Dunga “deve estar tranqüila, ciente de que a pressão da torcidaa será constante”.
Kaká atuará como meia, em companhia de Ronaldinho Gaúcho. Vai poder conduzir a bola de trás e arriscar algumas arrancadas. Ele também aprova a manutenção do trio de atacantes – os dois e mais Robinho – que jogou junto e deu show por 26 minutos no último amistoso, contra o México.
Na expectativa de se destacar de novo hoje, pelo Brasil, o meia-atacante contou que está ansioso para ver o São Paulo se tornar campeão brasileiro. Com identificação grande no clube, não acredita num ?desastre? de última hora, que possa tirar o título do time paulista.
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