A unidade da ONG AfroReggae no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que havia sido incendiada no último dia 16 de julho, foi alvo de um novo atentado, no dia 30, desta vez de tiros de fuzil.
O prédio havia sido preparado para ser reaberto, e traficantes teria ordenado que o local fosse alvejado, como forma de intimidação.
Em entrevista ao jornal O Globo, José Junior, coordenador da ONG, afirmou que há a preocupação com a vida das pessoas, e que as ameaças feitas ao AfroReggae são sérias.
“Existe o risco de pessoas inocentes serem mortas. E essa é a nossa maior preocupação no momento: preservar vidas. Eles deram oito tiros de fuzil na fachada da pousada [do AfroReggae no Alemão], na noite de terça-feira, na véspera da reabertura, e na quinta atiraram contra a unidade da Vila Cruzeiro. Acredito que essa retaliação vai continuar. Eu tenho recebido informações de autoridades e de moradores da comunidade falando sobre a pretensão de atentarem contra a minha vida”, afimou.
Segundo Junior, que é desafeto do pastor Marcos Pereira, a investida contra a ONG continuará nos próximos dias: “A situação está muito difícil, mas acreditamos que esses atentados são parte de um processo de intimidação, já que, pela primeira vez, uma instituição não aceita acatar ordens do narcotráfico”, disse.
José Junior afirmou que “só Deus” tem protegido a ONG, e que a crise foi iniciada depois das denúncias contra o líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD): “Apesar de atuar negociando com facções rivais, isso nunca tinha acontecido conosco. Mas, desde que denunciamos o pastor Marcos Pereira, as coisas estão difíceis. O que está acontecendo só demonstra que o que nós falamos sobre ele há um ano e meio é a verdade. Ele é uma das maiores mentes criminosas do Rio de Janeiro”, acusou.
Fernandinho Beira-Mar
O traficante Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, estaria envolvido com os ataques ao AfroReggae e teria pedido a Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que enviasse um “Salve” para José Junior. Na linguagem do tráfico, esse seria um aviso com caráter de ultimato.
Ambos os traficantes estão presos em Catanduvas, interior do Paraná, num presídio de segurança máxima do governo federal. Beira-Mar, inclusive, há oito meses foi colocado num regime especial, em que é monitorado 24 horas por dia, e suas conversas com familiares e advogados são gravadas.
O diálogo entre os traficantes teria acontecido com uma permissão especial do diretor da unidade prisional, e com a gravação da conversa – que foi autorizada pela Justiça – foi descoberto que as facções criminosas do Rio de Janeiro estariam planejando silenciar José Junior.
O advogado de Beira-Mar, Wellington Correa, disse ao jornal Extra que tudo não passou de um mal-entendido: “Foi uma interpretação mal feita do diretor [do presídio] da conversa entre os dois. O Luiz Fernando não tem nada a ver com o Alemão, nem com o pastor Marcos [Pereira, líder da ADUD]. Ele é ateu”, afirmou, omitindo o fato de que Fernandinho Beira-Mar estuda teologia no presídio, com o curso sendo pago pela Igreja Batista do Bacacheri, de Curitiba.
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