O som de carros buzinando perturba o silêncio na pequena sala de oração. Em seguida, ouve-se o barulho das explosões distantes. Raeed* olha pela janela e percebe que todos aqueles veículos estão deixando a cidade. O que ele temia durante algumas semanas acontece naquele momento. O exército estava se aproximando. Então ele pega suas coisas com calma e diz para si mesmo: “Aconteça o que acontecer, Jesus estará comigo”. Raeed é um líder cristão tranquilo e confiante. Há 15 anos ele tomou a decisão de ter uma vida de oração e se dedicar à sua pequena comunidade. Mas sua vida silenciosa foi abalada pouco tempo depois que começou a seguir seu chamado.
Certo dia, a caminho de Bagdá, ele sofreu um sério acidente de carro. Havia outras pessoas envolvidas, mas Raeed foi o único sobrevivente. Ele foi levado ao hospital por um tanque de guerra americano e permaneceu em estado de coma. “Acordar para essa realidade foi a coisa mais difícil que já enfrentei em minha vida. Eu não entendia e questionava muito. Cheguei a perguntar para Deus ‘se estamos te servindo, porque temos que passar por isso?’. Mas a resposta nunca veio de forma clara”, disse ele. Balançando a cabeça, Raeed explica: “O que aconteceu me fez mergulhar na fé. Deus trouxe de volta minha vocação e então eu lembrei que, um dia, eu fiz uma promessa a Cristo. Eu disse que seguiria em frente e que nunca olharia para trás”.
Mas outra tragédia atingiu a vida de Raeed, 10 anos depois. “Nossa cidade foi invadida, tivemos que deixar tudo e ir embora. Eu e outros líderes cristãos estávamos no meio das pessoas que corriam pelas ruas, em pânico. Foram tempos difíceis. Em Erbil, tivemos que cuidar de muitas pessoas deslocadas, mas eu sempre pensava que minha meta era seguir em frente, sem olhar para trás. Foi o que prometi a Jesus”, lembra ele. Dois anos se passaram e, atualmente, Raeed vive em um campo de refugiados, em outra cidade. Ele e outros líderes cristãos se uniram para dirigir uma pequena igreja, onde oram e também louvam em meio às dificuldades.
Sua vida de oração é intensa, como ele mesmo descreve: “Se Jesus me trouxe até aqui, este é o lugar onde devo servi-lo. Sozinho eu sou fraco, mas com a ajuda dos irmãos, realizamos muitas tarefas. Para servir a Deus não é preciso fazer algo sobrenatural, só precisamos estar disponíveis para as pessoas que necessitam de ajuda. Não é fácil, a vida em meio à guerra é muito desorganizada e os desafios são grandes, mas sempre nos adaptamos às situações se temos uma fé verdadeira, firmada em Cristo. Tudo é por ele e para ele. Jesus deve ser o centro de todas as coisas e o núcleo da igreja. Ele é a nossa rocha, em quem podemos construir nossas vidas e, aconteça o que acontecer, nunca nos abandonará”, conclui o líder.
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