O texto que você vai ler a seguir foi escrito por Cassia Carrenho com base em fatos reais da vida de Mateus, um cristão colombiano que perdeu o pai quando ainda era criança. Ele foi levado a um orfanato e viveu momentos de revolta, mas o testemunho fiel de seu pai foi a herança que o levou a Cristo. Muitas famílias cristãs, como a de Mateus, são privadas do convívio com o chefe da casa por causa da fé. Mas, o Eterno Pai, em sua bondade e misericórdia, os sustenta e os capacita a perseverar diariamente.
Mateus conhece as dificuldades da vida desde muito pequeno. Ele nem mesmo se lembra das primeiras, mas ouve com atenção quando seus irmãos mais velhos contam.
Mateus nasceu numa família cristã colombiana, em meio ao conflito da guerrilhas e governo. Seu pai, um simples trabalhador, tentava ao máximo ficar longe do conflito e ensinou aos seus filhos, cinco meninos, que deviam fazer o mesmo.
Apesar da simplicidade, o lar de Mateus transbordava alegria e ficou mais alegre ainda com a chegada de uma menininha, a irmã caçula de Mateus.
Mas seus pais temiam que os meninos mais velhos já começassem a chamar a atenção da guerrilha. Mateus era ainda uma menino de 5 anos, mas percebia que alguma coisa estava mudando
A última oração em família
Um dia, Lopes, pai de Mateus, chegou muito assustado e depois que as crianças foram dormir, chamou sua esposa e disse que um membro da guerrilha o havia procurado. Ele tinha sido muito direto: queria os dois filhos mais velhos para lutar pela guerrilha.
Lopes não conseguiu dormir e orou a noite inteira. Lágrimas correram pelo seu rosto só de imaginar seus meninos de 12 e 10 anos pegando em armas e sendo treinados para tirar vidas.
Quando Mateus acordou, percebeu que seus pais estavam empacotando as coisas, prontos para ir embora. Lopes reuniu toda a família e orou pedindo proteção pela viagem. O que ele não podia imaginar é que aquela seria a última oração feita em família.
Mal saíram de casa e foram cercados por dezenas de guerrilheiros que começaram a gritar e a bater no pai de Mateus. Gritavam que ali estava um traidor, aliado do governo, ao mesmo tempo que davam tapas em seu rosto.
A esposa de Lopes pedia para que parassem e os filhos mais velhos, numa tentativa de parar a agressão, diziam que estavam indo encontrar com a guerrilha para serem treinados.
Triste, mas sem desesperança
Apesar da pouca idade, Mateus lembra-se desse dia com detalhes. Lembra da blusa vermelha que seu pai usava e do seu olhar triste, mas sem desesperança. Lembra do cheiro que estava no ar e do sol que começava a despontar no horizonte.
A irmã de Mateus chorava, a mãe tentava acalmá-la desesperadamente. Mateus por muitos anos não entendeu a atitude do pai, que simplesmente calou-se e não tentava reagir aos golpes. Por muitos anos ele ouviu das pessoas que seu pai era covarde, e, só anos mais tarde, quando conheceu o amor eterno de Deus, Mateus compreendeu a atitude do pai.
De repente um homem com um rosto marcado chegou e todos pararam de bater em Lopes. Por alguns segundos a família respirou aliviada, achando que tudo terminaria bem. O pai de Mateus levantou-se, olhou nos olhos daquele homem e disse: Jesus ama você!
Sem nem pensar o homem sacou sua arma e deu vários tiros em Lopes, na frente de toda a sua família.
Mateus lembra bem da expressão no rosto de seu pai, sereno e tranqüilo, e até hoje escuta os gritos de sua mãe e seus irmãos.
A tristeza era enorme, mas aquele homem ainda não estava satisfeito. Mandou que pegassem os 4 irmãos mais velhos, deixando apenas Mateus e a menina com sua mãe.
Não deu tempo de fazer nada. Em menos de 30 minutos, o pai de Mateus fora morto e seus irmãos levados junto com a guerrilha.
Anos difíceis
A mãe de Mateus ficou desesperada, não conseguia trabalhar e sustentar os dois filhos. Cada dia sem notícias dos filhos, era um dia a menos na vida daquela mulher. Ela orava, acreditava que Deus cuidaria deles, mas a dor no seu coração foi tirando sua vida aos poucos.
Sem condição de sustentá-lo, a pobre mulher enviou Mateus para um orfanato cristão. Foram anos difíceis, pois o coração desse menino estava cheio de rancor. Ele tinha raiva dos seus pais, dos guerrilheiros, do governo, de Deus e dele mesmo. No fundo ele achava que devia ter feito alguma coisa.
No orfanato ele recebia comida e muita atenção, mas seu coração estava fechado. Sua mãe e irmã o visitavam toda semana, mas até delas ele se distanciou. Mateus era briguento e sempre terminava as discussões em tapa.
As palavras do pai
Mas havia uma homem muito especial ali que entendia que aquele não era o Mateus verdadeiro e que ele precisa do amor de Deus para ser transformado. José então começou a orar por Mateus todos os dias e tentou se aproximar do rapaz, que então já estava com 11 anos.
Todos os dias José passava por ele e sorria, mesmo quando Mateus estava carrancudo. Mateus não entendia porque aquele homem fazia isso, mas aquilo começou a incomodá-lo. E parecia que Mateus ficava mais agressivo com José, que continuava a sorrir para ele.
Mateus resolveu então fugir desse homem. Sentava-se longe no refeitório, evitava ficar no pátio quando ele também estava, mas, para espanto de Mateus, José sempre estava lá. Um dia o rapaz sentiu uma raiva muito grande desse homem e foi tirar satisfações com ele.
Já chegou gritando e o empurrando. Dizia: Qual é o seu problema? Você é louco? Por que vive sorrindo?
José simplesmente ficou parado sem reagir a suas ofensas. Era a primeira vez que alguém fazia isso, normalmente sempre revidavam e Mateus então podia descarregar sua raiva numa boa briga. Mas ali era diferente... O que ele podia fazer? Sentia-se impotente e seus sentimentos ficaram desnorteados.
Mateus então chegou bem perto desse homem, ergueu o punho fechado para lhe dar um soco, e ele com um sorriso no rosto disse: Mateus, Jesus ama você!
Imediatamente Mateus lembrou-se do seu pai e, chorando, correu sem direção. José foi atrás e o encontrou num canto chorando sem parar.
Naquele dia José pôde então abraçar aquele menino, que aceitou o amor de Deus em sua vida.
Mateus saiu do orfanato alguns anos depois, para morar com sua irmã após o falecimento de sua mãe. Hoje ele é um pastor que luta pela justiça, mas com uma única arma: o amor maravilhoso de Jesus.
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