Um ano e meio depois de cumprir uma sentença nas prisões turcas por um ato de terrorismo que ele não cometeu, Soner Onder viu, em dezembro passado, sua alegria por obter asilo na Suécia ir por água abaixo, quando as autoridades suecas negaram o pedido de residência de sua irmã.
Para Soner, pareceu uma ironia cruel o fato de que, enquanto ele ganhava sua liberdade, sua irmã seria forçada a voltar para a Turquia.
Em vez de ir para a Suécia, como o resto da família, Senay Seydi Onder e um irmão casado ficaram na Turquia para ajudar Soner enquanto ele cumpria sua pena de 12 anos e meio nas prisões turcas.
"Minha irmã é como minha segunda mãe", Soner disse à Portas Abertas de Estocolmo. "Ela me esperou todos esses anos, enquanto eu estava na cadeia." Ele disse que ser uma mulher solteira, membro da minoria cristã da igreja católica síria da Turquia e irmã de um "terrorista" condenado "não era muito seguro" para Senay. Mas, mesmo assim, ela deixou sua família e voltou para a Turquia.
Depois de sua libertação, em junho de 2004, as coisas pareceram estar dando certo para Soner. Depois de obter permissão para viver na Suécia, ele começou a ir atrás de um sonho que ele acalentou durantes seus 12 anos e meio na prisão: educação universitária.
Ele se matriculou na Universidade de Estocolmo em janeiro, planejando estudar Relações Internacionais depois de cursar um ano básico de sueco.
Esse cristão, da igreja católica síria, disse que sua época na prisão, durante a qual ele aprendeu inglês sozinho, o encheu de desejo de estudar. "Antes da minha detenção, eu estava estudando para ser engenheiro civil", Soner comentou. Mas agora ele espera cursar Relações Internacionais, a fim de "lidar melhor com os problemas do mundo".
A libertação de Soner da cadeia foi também um tempo de reencontros alegres com sua família. Ao deixar a prisão de Tekirdag como um homem livre, ele foi recebido por Senay e um grupo de parentes oriundos da Alemanha, Suécia, Holanda e de várias cidades da Turquia para celebrar sua liberdade.
Vindo da Suécia por causa da libertação de seu filho, a mãe de Soner, de 74 anos, disse à Portas Abertas, em lágrimas: "Tinha medo de nunca mais poder entrar em contato com ele de novo".
Duas semanas depois de sua libertação, Soner foi visitar o sepulcro de seu pai no monastério Deyr Zafaran, sudeste da Turquia. Seu pai morreu quando ele tinha apenas 14 anos.
Soner voltava do culto de Natal, de ônibus, em 1991, quando a polícia o deteve. Eles o acusaram de envolvimento na explosão de uma loja de departamentos que tinha matado 12 pessoas na manhã daquele dia.
Apesar de relatórios médicos oficiais afirmarem que Soner foi abusado fisicamente pela polícia, as autoridades da corte rejeitaram suas afirmações de que ele havia sido torturado e forçado a assinar sem ler um documento.
Apesar de mais depoimentos da polícia a seu favor, Soner foi sentenciado a morte em 1994. A sentença foi mudada mais tarde para prisão perpétua, que foi reduzida por Soner ser menor de idade quando o incidente aconteceu.
Depois de tentar todas as outras formas de apelo, o advogado de Soner, Hasip Kaplan, apelou do caso na Corte Européia de Direitos Humanos (ECHR, sigla em inglês). Em um veredicto de julho de 2005, a corte decidiu que Soner havia sido submetido à tortura e não havia recebido um julgamento justo.
Hasip espera que, ainda em fevereiro, a Grande Câmara da ECHR decida se aceitará o apelo de Soner para um segundo julgamento. "Quero ser julgado de novo, porque parei no meio", Soner disse à Portas Abertas em Estocolmo. "Um tribunal turco me condenou por um crime e o tribunal europeu disse que eu não fui julgado corretamente".
Mas Hasip não está otimista. "Em 90% dos casos, a Grande Câmara se recusa a ouvir um apelo", ele disse em Istambul para a Portas Abertas.
A família Onder acredita que a única razão para a detenção de Soner foi que sua carteira de identidade traz como local de seu nascimento a cidade de Diyarbakir. Essa cidade é o centro da atividade rebelde curda. Em 1991 o governo turco estava envolvido em um conflito militar com o Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) no sudeste da Turquia, que no final levou a vida de 35 mil pessoas.
O PKK foi considerado culpado pela explosão da loja de departamentos, motivo pelo qual Soner foi acusado.
No começo, Senay, membro da minoria cristã da Turquia, teve medo de publicar a versão de seu irmão por causa pressão negativa. Os esforços feitos pela igreja católica síria para ajudar Soner foram bastante criticados pela mídia local.
"Os assassinos dos 12 estão sendo protegidos pela Igreja", lia-se na manchete do jornal "Meydan", um dia depois que a Igreja Católica Síria Metropolitana enviou uma carta para o tribunal em favor de Soner.
Com sua mãe e seis de suas oito irmãs vivendo na Europa, Senay continuou a visitar seu irmão na prisão a cada dois meses, levando comida e roupas. Ela se sustentava com uma pequena farmácia. Por causa do status de terrorista de seu irmão condenado e por causa de sua própria posição de minoria cristã, ela teve muito medo dos abusos da polícia e não relatou quando vândalos quebraram as vidraças de sua farmácia.
Ao longo dos 12 anos, Senay continuou a enfrentar dificuldades enquanto visitava seu irmão na prisão. Em dezembro de 1995, quando Soner sofreu ferimentos na cabeça durante uma briga na prisão, Senay não pôde entrar no hospital militar. Uma vez em 1999 e de novo em 2000, ela disse que foi levada sob custódia por autoridades da prisão quando foi visitar Soner.
Em março de 2004, alguns meses antes da libertação de Soner, Senay foi atropelada por uma van enquanto andava na calçada perto de sua farmácia, em Istambul. O impacto a deixou inconsciente, quebrou seu ombro esquerdo e diversas costelas e machucou suas pernas e joelhos.
Segundo Soner, um processo foi aberto contra o motorista da van, que socorreu Senay, mas disse aos funcionários do hospital que ele havia encontrado aquela mulher ferida na beira da estrada. Soner disse que nunca foi feito nada contra o homem que causou o acidente, que deixou Senay no hospital por mais de duas semanas.
Com o pedido de residência de sua irmã negado, Soner teme que ela seja hostilizada se voltar para a Turquia. Em Diyarbakir, "ela tinha que dar dinheiro a gangues, como a Brigada da Vingança Turca, porque éramos uma minoria que eles não gostavam", Soner comentou. "Ela é uma mulher que vive sozinha, e, levando em conta o que ela viveu antes, não é seguro."
A família Onder e seu advogado, Olle Wiberg, planejam apelar da rejeição do pedido de asilo de Senay.
Os cristãos sírios da Turquia, que costumavam ser mais de 70 mil no sudeste do país, se limitaram a cerca de 50 famílias. Muitos deles migraram para a Europa por causa da violência curda que começou em 1984. Essa violência recomeçou no ano passado, depois que o PKK assumiu a responsabilidade de uma série de explosões que atingiram locais turísticos turcos.
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