A família de um homem que usou um fragmento da Bíblia com mais de 1.000 anos de idade como amuleto durante seis décadas vai entregar o pedaço de pergaminho a uma instituição de pesquisa de Jerusalém.
Acredita-se que o manuscrito, do tamanho de um cartão de crédito, seja parte da versão mais importante da Bíblia hebraica, o códice de Alepo, também conhecido como texto massorético. De acordo com Michael Glatzer, secretário acadêmico do Instituto Yad Ben Zvi, o fragmento contém versículos do livro do Êxodo, que descrevem as pragas do Egito e uma conversa entre Moisés e o Faraó com a famosa frase “Deixa ir o meu povo”.
A história do pergaminho começa quando Sam Sabbagh, na época um judeu sírio de 17 anos, pegou um pedaço do manuscrito do chão de uma sinagoga em Alepo, na Síria, em 1947. A sinagoga tinha sido incendiada durante tumultos que se seguiram à decisão da ONU de dividir a Palestina e criar um Estado judeu na região.
Sabbagh, que mais tarde imigrou para os EUA, carregou o pergaminho dentro de sua carteira por anos e o usou como amuleto até quando teve de passar por uma cirurgia do coração. O Instituto Yad Ben Zvi, que guarda o que resta do códice de Alepo, ficou sabendo do fragmento há 20 anos, mas não conseguiu convencer Sabbagh a entregá-lo. Com a morte do imigrante há dois anos, sua família decidiu fazer a doação.
Unificação
É importante recuperar o fragmento “porque estamos tendo a chance de unificar as partes que faltavam e colocá-las em seu lugar original”, disse Michael Maggen, chefe de conservação de manuscritos do Museu de Israel e responsável pela restauração do documento. Segundo Maggen, o códice é importante porque traz dados sobre aspectos-chave da gramática e da pronúncia do hebraico bíblico.
O manuscrito foi produzido em Tiberíades, cidade da Galiléia (norte de Israel), no século 10 depois de Cristo. Depois, foi levado para Jerusalém, depois para o Cairo e finalmente para a Síria. “Só temos 60% do códice”, diz Aron Dotan, professor de hebraico e línguas semíticas da Universidade de Tel-Aviv. As partes que faltam são, na maioria, dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento cristão.
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