Guatemala- Igrejas da América Latina e do Caribe voltam-se a uma agenda moral, abordando temáticas como o aborto terapêutico e o homossexualismo, ou procurando favores políticos e econômicos para a sua denominação, quando a região passa por importantes mudanças políticas, alertou o presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), bispo anglicano Julio Murray, do Panamá.
Líderes de igrejas “estão perdidos na história” e não conseguem perceber que os temas mais importantes são outros, a exemplo da xenofobia, da diversidade cultural e religiosa e, especialmente, o desafio de unir forças para que os governos progressistas eleitos na região nos últimos anos possam aplicar seus programas para o melhoramento de toda a sociedade, pontuou.
Murray apresentou análise sobre o contexto latino-americano para representantes de igrejas e organismos da Europa e da América do Norte que conformam o chamado “consórcio do CLAI”, de apoio e sustentação do organismo ecumênico continental. O grupo esteve reunido na cidade de Antigua, Guatemala, dias 1 e 2 de maio.
O bispo anglicano destacou, na análise, que “a aliança entre as burguesias nacionais e a classe obreira, que no passado procurou estimular o desenvolvimento das indústrias nacionais, hoje está em crise porque o capitalismo deixou de gerar riquezas por meio da produção”.
A busca de modelos alternativos reflete-se no fato de que oito dos dez países sul-americanos elegeram nestes últimos anos governos progressistas, não-neoliberais, destacou o bispo anglicano.
Numa sociedade marcada pelos conflitos de classe, culturais, de migração, entre igrejas e práticas religiosas dos povos indígenas e afro-descendentes, o CLAI deve desafiar as igrejas para uma incidência social e política, convocando-as à unidade em torno de projetos ecumênicos, defendeu Murray.
Três meses depois da crise institucional vivida pelo CLAI, motivada pela renúncia de seu secretário-geral e de outros funcionários, o organismo ecumênico recebeu uma importante reafirmação de apoio provinda de entidades associadas ao seu ministério
O consórcio ratificou o compromisso com as tarefas do Conselho e seus esforços para promover a unidade, estimular e apoiar a tarefa evangelizadora das igrejas, e fortalecer a reflexão e o diálogo teológico e pastoral no continente.
“A Junta Diretiva nos deu uma lição de como administrar os conflitos com transparência nas informações e com sensibilidade pastoral. Regresso à minha igreja com muita confiança no CLAI”, disse a representante da organização suíça Pão para Todos, Beat Dietschy.
A representante sueca, Adriana Castellú, disse que as igrejas do Norte querem se aproximar ainda mais do CLAI e discutir agendas de trabalho em conjunto. “Temos uma nova realidade religiosa no Norte, produto da migração a partir da América Latina. Para nós, a voz do CLAI é importante para promover a integração desses novos grupos religiosos na Europa e nos Estados Unidos,” destacou.
O secretário executivo da Obra Missionária Evangélica da Alemanha, Christopher Anders, disse que seria importante fazer uma parada para reavaliar o impacto dos programas do CLAI na conjuntura atual, o que seria muito positivo.
“A situação atual representa uma excelente oportunidade para desenvolver uma avaliação dos programas e funções no CLAI. Oferecemos nosso total apoio nesse projeto,” adiantou Anders.
O integrante da Junta Diretiva e secretário-geral da Igreja Evangélica do Rio da Prata (IERP), pastor Juan Abelardo Schvindt, referiu-se ao surgimento de uma nova entidade ecumênica, a Ação Conjunta das Igrejas para o Desenvolvimento.
“O CLAI se manterá neste processo e quer ajudar à reflexão a respeito da tarefa diaconal das igrejas e das congregações, pois biblicamente missão e diaconia não podem separar-se”, manifestou Schvindt.
A reunião foi moderada pelo secretário executivo para a América Latina do Conselho Mundial de Igrejas, pastor Carlos Ham. Ele chamou a atenção para os novos desafios ecumênicos, como o Fórum Cristão Mundial, a Década para a Superação da Violência – que culminará com uma Convocação Ecumênica Internacional pela Paz na Jamaica, em 2011, – e a celebração do centenário da conferência de Edimburgo, que marcou o início do movimento ecumênico moderno.
A próxima reunião do consórcio será realizada em abril de 2009, em Quito. Nessa oportunidade será apresentado o Plano Trienal do Conselho para os o período compreendido entre 2010 e 2012.
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