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Igrejas históricas mostram dificuldade em atualizar seus fundamentos teológicos e pastorais às novas práticas midiáticas, ao contrário das igrejas neopentecostais, que surgiram durante o fenômeno da midiatização, com mais competência, portanto, para lidar com as complexas relações entre mídia e religião.
A constatação foi apresentada pelo jornalista Micael Vier Behs no encontro do Fórum Luterano de Comunicação (FLC), evento que reuniu no sábado, 26, nas dependências do Colégio Concórdia, em São Leopoldo, profissionais e agentes que professam ou estão vinculados às assessorias de imprensa das duas igrejas dessa família confessional que atuam no Brasil.
Micael estudou as estratégias discursivas da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) para sua dissertação de mestrado. Destacou que a Universal, como igreja midiática, não se limita à mídia audiovisual, mas também recorre ao jornalismo impresso para o desenvolvimento de competências simbólicas.
“A IURD projetou a religião para o céu aberto, instituindo um ambiente relacional capaz de reunir indivíduos distanciados no tempo e no espaço em torno de valores, expectativas e interesses”, assinalou o painelista. Se no passado o templo era o lugar clássico ocupado pelo fiel no contato com o religioso, “hoje ele dispõe de uma infinidade de canais e de operações da mídia para vivenciar experiências do sagrado.”
A Folha Universal não representa um simples instrumento a serviço de uma organização religiosa, mas o jornal configura a própria identidade da IURD, que não se limita ao religioso, mas adentra o campo político. Tanto assim que nas eleições de 2006 e 2008, a igreja fundada pelo bispo Edir Macedo mobilizou rituais e linguagens midiáticas no intuito de inserir seus fiéis no processo eleitoral.
No entanto, a IURD não articula a sua intervenção e ações políticas formalmente inscritas enquanto partido político, mas desenvolve uma intensa atividade midiática-religiosa, de forma marcante a partir de 2008, quando a Folha Universal passa por uma reformulação editorial, gráfica e discursiva, apontou Micael.
O professor de Comunicação, Astomiro Romais, apresentou no evento painel mostrando a contribuição de Martinho Lutero para a mídia da Idade Média. Lutero foi um comunicador, disse Astomiro, que se comunicava com o povo. Cada sermão era, para o reformador, um “trabalho de artesanato verbal”, pois, dizia ele, “a linguagem da Bíblia para o povo deve ser como a linguagem da mãe para com o filho”.
Lutero também fez uso de símbolos com grande propriedade, o que hoje representaria uma força semiótica, como o foi a queima da bula papal que o excomungava em fogueira pública. Estudiosos da comunicação descobriram que nas pessoas comuns fatos, mensagens, acontecimentos são gravados de forma mais rápida pelos olhos do que pelos ouvidos, lembrou Astomiro.
Fato é que Luterno recorreu à tecnologia disponível no momento, o invento de Guttemberg, para fazer correr o mundo as traduções do Antigo e do Novo Testamentos, livros e catecismos. ”Nos tempos modernos é necessário falar com mais pessoas do que apenas com o nosso vizinho”, afirmava.
“Na ponte entre o sagrado e o homem, o tapete vermelho é a comunicação”, frisou Astomiro. Em tom provocativo, o professor da Universidade Luterana do Brasil perguntou como seria a comunicação de Lutero nos dias de hoje, quando, no Brasil, são vendidos 29 mil computadores por hora! “Que recurso ele utilizaria?” – indagou.
O publicitário Artur Sanfelice Nunes analisou a Comunicação na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e o pastor Lucas Albrecht traçou perspectivas sobre a Comunicação na Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).
Nunes apresentou sites, blogs, twitter e páginas de relacionamento alimentadas pela igreja ou por membros. Já o pastor Lucas destacou que as igrejas tentam tirar o máximo proveito dos meios de comunicação, racionalizando a relação custo/benefício.
O FLC, promotora do encontro, é uma entidade autônoma a serviço das igrejas luteranas brasileiras e reúne comunicadores luteranos. O Fórum tem por propósito estimular o intercâmbio e a colaboração entre a IECLB e a IELB na área da comunicação, no desenvolvimento das mídias para as atividades missionárias e pastorais, e incentivar a formação de pessoas comprometidas com a comunicação.
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