As autoridades do governo de Asmara, capital da Eritréia, confiscaram e lacraram a Igreja do Evangelho Integral faz duas semanas, e ordenaram que o pessoal administrativo e os membros saíssem definitivamente do prédio em 15 de outubro.
Localizada no distrito Gaza Banda de Asmara, o amplo complexo alugado serviu como sede da Igreja do Evangelho Integral e local de reuniões nos últimos onze anos e acomodava mais de 4.000 fiéis.
O primeiro impasse relacionado ao complexo pertencente ao governo começou no dia 17 de setembro do ano passado, quando soldados invadiram a propriedade às 9h da manhã e se recusaram a sair, declarando que o prédio era propriedade do governo. Apesar das negociações feitas pelos líderes da igreja, um contingente de cinco soldados permaneceu no local desde então numa parte do complexo, isso há treze meses.
Mas no dia 15 de outubro, o pessoal administrativo e os membros da igreja receberam ordens de oficiais do exército para entregar a propriedade ao governo. Foi dito a eles que, como instituição, sua igreja estava violando ordens presidenciais, porque estava envolvida no ministério ilegal 'grupos em células' , confirmou uma fonte local. Foi dito a eles que a igreja não conseguirá nenhuma propriedade.
As autoridades governamentais lacraram a propriedade, recusando a entrada aos membros da igreja. Ninguém da igreja tem permissão para entrar no prédio desde 26 de outubro, disse a fonte, por isso presume-se que muito em breve, alguém vai começar a usá-lo.
Desde maio de 2002, o governo eritreu recusa-se a reconhecer a Igreja do Evangelho Integral e uma dúzia de outras igrejas protestantes independentes que representam cerca de 20.000 membros. Todos receberam ordens para fechar seus templos e parar com as reuniões públicas e particulares com finalidade de culto.
Jovens presos em containers
Enquanto isso, Portas Abertas confirmou que seis jovens ainda estão presos, dos 62 presos em containers de metal em agosto último por terem Bíblias em seu poder no acampamento militar de verão em Sawa. Nenhum dos adolescentes libertados se dispôs a discutir os termos de sua libertação.
Os seis que ainda estão presos, ao que se sabe, foram transferidos dos containers para celas subterrâneas isoladas onde não há luz, o ar e o alimento são limitados. Eles têm permissão para sair uma vez por dia para as necessidades fisiológicas.
Outros doze jovens evangélicos da Igreja Bethel Dubre de Asmara, detidos durante uma reunião doméstica de oração no dia 7 de setembro ainda se recusam a assinar o documento de negação da fé para ganharem a liberdade.
No dia 5 de outubro, os policiais da Delegacia de Polícia n.º 5 pressionaram novamente os pais dos detidos para persuadir os filhos a assinarem a negação. Apesar de alguns se recusarem, outros concordaram, admitindo que seus filhos presos eram os únicos arrimos da família.
Estes cristãos presos não se importam com o que lhes aconteça, disse um colega evangélico, mas muitos estão preocupados com o que pode acontecer a seus pais agora.
Pouco se sabe a respeito do destino dos 79 soldados que estão na prisão militar de Assab, onde a maior parte está desde março de 2002 devido sua fé evangélica. Os detidos, 16 deles mulheres, têm recebido um tratamento duro, ameaças de morte e negado qualquer contato com suas famílias.
Depois das outras detenções nos últimos meses em Massawa, Adi-Abytoo, Keren, Mendefera, Adi-Kualla, Nakfa e Adi-Kihe, é de 230 o total de cristãos evangélicos presos na Eritréia em razão de sua fé.
A generalizada e contínua detenção por motivo de consciência, incluindo pacíficos críticos políticos e membros de grupos religiosos e a detenção secreta ilegal sem acusação, demonstram um padrão de desrespeito geral pela lei, observou a Anistia Internacional em uma nota à imprensa no dia 18 de setembro destacando os abusos da Eritréia aos direitos humanos. Centenas de membros de igrejas cristãs minoritárias foram arbitrariamente detidos e maltratados durante 2003.
Somente quatro religiões oficiais são permitidas pelas autoridades eritréias: a Cristã Ortodoxa, a Muçulmana, a Católica e a Evangélica Luterana. Entretanto, o governo publicou uma negação geral de que não existe qualquer perseguição religiosa no país.
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