A primeira das alunas de Chibok (Nigéria) resgatada depois de um sequestro em massa realizado pelo Boko Haram em 2014, revelou que o seu tempo em cativeiro só fortaleceu sua fé e afirmou que ainda tem esperanças de que Deus irá agir pela libertação de suas colegas que estão em cativeiro.
Amina Ali e seu bebê de quatro meses de idade foram resgatados em maio por soldados e um grupo de vigilantes civis, próximo a Damboa, no estado de Borno. Cerca de dois anos antes, ela foi raptada por terroristas islâmicos junto a mais de 200 outras estudantes de uma escola no nordeste da Nigéria. O sequestro em massa chocou o mundo e gerou a mobilização internacional da campanha #BringBackOurGirls (#TragamNossasGarotasDeVolta).
Durante uma recente entrevista à Reuters, a jovem revelou que muitas de suas colegas, que estão sendo mantidas como reféns na floresta de Sambisa, chegaram a comer milho cru por estarem passando fome, outras tiveram suas pernas quebradas, ficaram surdas por causa da proximidade das muitas explosões e algumas acabaram morrendo em cativeiro.
"Eu penso muito nelas. Eu diria a elas para terem esperança e permanecerem firmes em oração", disse Ali. "Da mesma maneira que Deus me salvou, Ele também pode resgatá-las".
Apesar de viver em circunstâncias sombrias, ela revelou que sua fé em Deus a impediu de ter medo dos militantes durante seu tempo em cativeiro: "Eu não tenho medo do Boko Haram. Eles não são o meu Deus", disse Ali.
A mãe da jovem ecoou os sentimentos da filha, dizendo que ela tinha observado uma mudança positiva em Ali desde seu resgate. Segundo a mãe, a volta da filha também trouxe consigo a paz das noites de sono bem dormidas.
Ali, que nos últimos meses tem sido mantida na capital Abuja, no que o governo nigeriano chamado de "processo de restauração", disse à mídia que está ansiosa para voltar definitivamente para sua casa.
"Eu só quero ir para casa. Vou decidir sobre a escola quando eu voltar, mas não tenho idéia de quando vou para casa", disse ela.
A jovem também disse que pensa no homem com quem ela foi forçada a se casar durante o tempo de cativeiro, um suspeito de ser militante do Boko Haram, chamado Mohammed Hayatu.
"Eu quero que ele saiba que eu ainda estou pensando nele", disse ela. "Não é porque nós fomos separados, que isso significa que eu não penso nele".
Contexto
Fundado em 2002, o grupo Boko Haram inicialmente se focou na oposição à educação de estilo ocidental. No entanto, sob a liderança da al-Barnawi, o grupo terrorista tornou-se mais radical, causando mais mortes e jurou fidelidade ao Estado Islâmico em março de 2015. Hoje, o Boko Haram se define como a "província do Oeste Africano".
Nos últimos sete anos, o grupo já matou mais de 20 mil pessoas e expulsou mais de 2,2 milhões de suas casas, em um esforço para estabelecer um Estado islâmico no norte da África.
A entrevista de Ali veio poucos dias depois que o Boko Haram divulgou um vídeo que mostra um homem mascarado em frente a um grupo de cerca de 50 meninas de Chibok, dizendo que algumas das estudantes sequestradas em 2014 já haviam sido mortas em ataques aéreos, enquanto outras estão casadas com terroristas do grupo.
Maida, filha de Esther Yakubu, estava entre aquelas estudantes que apareceram no vídeo. "Para uma mãe, ver que a filha está com um terrorista, com munição em volta do pescoço, não é fácil... Mas eu também dou graças ao Deus Todo-Poderoso", disse Esther. "Eles dizem que a maioria das meninas está morta, mas a minha está viva".
Esther e seu marido, Yakubu Kabu, disseram à agência de notícias que sua fé cristã inabalável os ajudou a atravessar os tempos mais escuros, revelando que oram juntos toda manhã e a cada meia-noite.
"Estou muito, muito feliz", disse Yakubu, depois de ter visto o vídeo. "Porque, enquanto ela estiver viva, sei que vamos vê-la um dia".
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