A América Latina experimenta um processo de diversificação e fragmentação das ofertas religiosas num contexto em que as tradicionais instituições perderam uma quota importante de seu poder cultural histórico, observou o coordenador do Programa de Pastoral da Comunicação do Centro Evangélico de Estudos Pastorais na América Central (Cedepca), Dennis Smith.
Presente à Conferência Internacional sobre Meios, Religião e Cultura, realizada em São Bernardo do Campo ao longo da semana (SP), na Universidade Metodista de São Paulo, Smith sustentou que no passado as igrejas protestantes tradicionais detinham poder suficiente para dominar o discurso religioso público.
As igrejas podiam incidir de maneira contundente na esfera pública, estigmatizar a participação nas cerimônias públicas de grupos religiosos marginalizados, a exemplo das espiritualidades indígenas e afro-americanas e dos grupos pentecostais.
Hoje, no entanto, novos atores aparecem no campo religioso e, paralelamente, observa-se o ressurgimento de espiritualidades ancestrais. “As igrejas e os grupos religiosos tradicionais competem com novos atores presentes no mercado religioso, alguns deles muito sofisticados no mercado de bens simbólicos”, pontuou Smith.
Menu espiritual
Na conferência que apresentou no evento, Smith trouxe um detalhado diagnóstico das formas como a religiosidade contemporânea latino-americana se manifesta no supermercado religioso. A cada dia, disse, há mais pessoas que se sentem livres para elaborar o seu próprio menu espiritual, sem se sentirem sujeitas ao poder de hierarquias religiosas.
“A gente entra neste novo ‘supermercado’ para adquirir auto-estima, uma porção de perdão, uma essência de esperança, um caldo de consolo e depois vai combinando esses ingredientes segundo uma receita pessoal”, afirmou.
Os novos crentes não sentem a necessidade de esconder o fato de que manejam, de forma simultânea, múltiplas identidades religiosas. Pesquisas revelam que pessoas católicas assistem, eventualmente, aos espetáculos religiosos apresentados pelas mega-igrejas neopentecostais.
"Essas mesmas pessoas, nos momentos limites de sua própria vida, não hesitam em consultar os guias espirituais de outras tradições religiosas", sustentou o professor Smith.
“Diante desse cenário estão lançados os novos desafios às igrejas, movimentos religiosos, comunicadores e comunicadoras que procuram em seus projetos afirmar a dignidade humana na sociedade contemporânea”, frisou.
Nesse sentido, é preciso prestar atenção ao sopro do Espírito nas comunidades eclesiais. “Descobriremos ali que há pessoas em nosso meio que são intermediárias com o incognoscível; são os guardiães de espaços sagrados. Às vezes esses espaços se caracterizam por uma celebração de previdência, plenitude e esperança, às vezes como palco de medo, de manipulação e de vingança”, concluiu.
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