Crença, fé e até mesmo curiosidade motivam milhares de pessoas a fazer romaria a uma residência no Bairro Vilas Boas, em Campo Grande, onde há imagem de da Senhora de Fátima que os donos revelam verter mel desde maio deste ano.
Para devotos, trata-se uma manifestação divina, entretanto, parapsicólogos encontram na ciência a explicação para o fenômeno.
Pós-graduado em parapsicologia, o padre Milton Munaro, da Paróquia de São Joaquim da cidade paranaense de Verê, afirma que pode ter ocorrido inicialmente um aporte, fenômeno em que uma pessoa abalada psicologicamente consegue fazer, por exemplo, com que algo se mova de um lugar para outro.
Em visita a Campo Grande, no mês de agosto, Munaro foi à casa “para ver que tipo de truque era”, disse à reportagem do Campo Grande News. Ele afirma não ter dúvida de que “estão colocando mel” na imagem. Munaro explica que o aporte é um fenômeno que não acontece continuadamente e que quando ocorre não ultrapassa 15 minutos. “No começo pode até ter sido um aporte, mas agora não”, acusa.
De acordo com o parapsicólogo, em todo o mundo não existe comprovação científica de que uma imagem tenha transpirado qualquer substância, seja mel, sangue ou água. Ele explica que todos os casos são fenômenos que contam com a participação humana. Conforme Munaro, o fenômeno do aporte é provocado por descarga psíquica proveniente de uma pessoa que esteja a menos de 50 metros da imagem. Ele pontua que a família não se afasta da casa e que só abre para visitação no período da tarde, ou seja, ficam à noite e de manhã sozinhos no local, sugere. Munaro esclarece ainda que a descarga psíquica é feita por telergia – como um raio – que exige muito da pessoa.
Para concluir, Munaro destaca que a parapsicologia é a ciência que estuda os fenômenos que parecem misteriosos mas que são resultados das faculdades de pessoas vivas. “É uma ciência que tira pessoas da superstição e do misticismo”, completa.
Opinião diversa
Menos radical, o diretor do Centro Latino Americano de Parapsicologia, padre jesuíta Oscar Quevedo, também apontou a possibilidade de ter ocorrido um aporte, porém, ponderou que aporte não é sinônimo de fraude.
Já Jenner Ramão de Oliveira – especialista em hipnoterapia e padre da Igreja Católica da União Ultrecht, de Campo Grande – afirma ter visitado a casa e acredita na possibilidade de ter ocorrido um milagre. “E Jesus não faz milagres”, questiona. Para ele, trata-se de uma manifestação divina com objetivo de lembrar à sociedade de que as pessoas precisam ter atos de amor, caridade, solidariedade e, por isso o mel, que é doce. O padre revela ser amigo do proprietário da imagem que, segundo Oliveira, teria se recusado a fazer exames na imagem devido à imposição da Igreja Católica.
Milgre ou não, a notícia de que a imagem teria vertido mel levou à casa pessoas até de países vizinhos a Mato Grosso do Sul. Algumas se apegam à possibilidade de serem curadas de doenças e outras vão ao local apenas para fazer orações e pedidos em nome de toda a família. A maioria pega um copinho de mel, que, segundo os proprietários da imagem, contém um pouco do que verte da santa.
Sem razão
O dono da imagem de Nossa Senhora, José Rezek, rejeita a acusação do padre do Paraná e alega não ter razões para fazer qualquer fraude na produção do mel. “Por qual razão eu faria uma coisa dessa?”
Rezek também descarta a possibilidade de aporte. Ele conta que no dia 28 de julho ficou fora de casa junto com a esposa e a filha, por três horas e a imagem continuou a verter mel. “Ficamos 3h a uns 20 quilômetros daqui no velório de um parente e quando voltamos estava tudo do mesmo jeito”.
Ele se defende dizendo que não tem lucros com o fenômeno e que só tem aumentado as despesas. “Não cobro ingresso, não peço nada. Algumas pessoas fazem doação, mas eu não peço. Minha conta de água e luz só aumentou”.
Rezek se mantém irredutível quando o assunto é retirar a imagem da residência para investigação. Ele não aceita que isso ocorra. Para o funcionário público Benedito Taveira, 59 anos, que pela quinta vez foi a residência acompanhar a mulher, Rezek deveria autorizar a investigação. “É um fenômeno que deveria ser investigado”.
Quem visita a imagem pode levar um copinho com mel gratuitamente, tomar sopa e beber água. Há na área três geladeiras e um bebedouro com água gelada. O casal Ana Maria de Souza Alves, 27 anos, e Aguinaldo Fernandes, 34 anos, saiu da casa com um pouco do mel. “Fiquei emocionada, realmente é um milagre”, afirma Ana Maria. “Tem que vir conhecer para ter certeza que é um milagre”, completou o marido dela.
Em paz – Por alguns dias o clima ficou pesado entre a família de Rezek e a Igreja Católica. Hoje, segundo o proprietário da imagem, a situação é de paz. Os policiais que neste período tenso fizeram a segurança no local, já não são mais vistos na residência.
Conforme Rezek, o número de visitantes diariamente já reduziu, em comparação com o período em que o fenômeno começou a ser divulgado pela imprensa. Há cerca de dois meses eram aproximadamente três mil visitas diárias.
Há duas semanas são distribuídos cerca de mil copinhos/dia com mel. A quantidade de copos distribuída é usada também para calcular o número de visitantes.
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