O “guru” Baba Ramdev decidiu atacar a fé cristã no mais recente comercial de televisão da sua empresa, a Patanjali. A companhia, que comercializa produtos alimentícios e de higiene, tentou mostrar Jesus como algo indesejado na Índia, fazendo uma associação dele com as empresas estrangeiras que atuam no país.
Ramdev é uma figura controversa em seu país, que acredita ter o poder para realizar milagres. Sua antipatia pelo cristianismo é conhecida.
O Global Council of India Christians, organização que representa diversas denominações no país, teme que o uso da cruz para simbolizar algo nocivo seja apenas mais um ataque dos nacionalistas hindus, que pedem pela purificação do país, eliminando a influência cristã.
Eles estão anunciando um plano de eliminar o cristianismo no país até 2021. Um relatório da ONG Mumbai Catholic Secular Forum registrou que “A índia viu 355 incidentes de violência, incluindo 200 grandes incidentes, durante o ano passado”. Na média, isso significa um ataque por dia.
“Se desejam promover os seus próprios produtos e opor-se aos competidores estrangeiros não deveriam usar a cruz para isso. É desnecessário atacar o cristianismo”, explicou Jerry Paul, um dos líderes do Sarva Isai Mahasabha, um movimento cristão indiano. Caso a Patanjali Food Limited, dona da marca, não retire o a propaganda do ar, eles farão uma campanha nacional de boicote.
De modo geral, a comunidade cristã indiana não gostou de ver seu símbolo sagrado associado a uma crítica aos produtos estrangeiros. “É chocante que a cruz, que simboliza Jesus, seja mostrada neste anúncio”, insiste Jerry.
David Francis, um líder cristão, lamentou o ocorrido. Ele diz que a comunidade cristã é pacífica e que não fará protestos, mas questiona se o mesmo ocorreria se fossem usados outros símbolos religiosos para fazer essa associação com produtos de empresas estrangeiras.
O comercial
No anúncio de pouco mais de 30 segundos, um grupo de indianos aparecem irritados, promovendo uma espécie de “limpeza” de todos os produtos vindos do exterior. Na tela, surge a data de 1906, quando se fortaleceram os movimentos pela independência da Índia do domínio inglês. Tenta mostrar que a influência deles foi prejudicial para a população indiana.
Em seguida, se erguem cruzes, que simbolizam o domínio dos estrangeiros, algo que deve ser combatido. Os produtos são apresentados no final. Sua maior qualidade é serem produzidos na Índia.
As três cruzes são uma referência ao brasão da Companhia Britânica das Índias Orientais, empresa de comércio ligada à coroa inglesa que foi fundada em 1600 e se expandiu para o sul da Ásia. Contudo, a associação é historicamente incorreta, uma vez que a Igreja Cristã de Mar Toma, muito forte no sul da Índia tem quase dois mil anos de presença em solo indiano. Segunda a tradição, foi fundada pelo apóstolo Tomé, que levou o evangelho de Jesus para aquela região no primeiro século.
O doutor Sandeep Bharadwaj, que representa legalmente a Patanjali, acredita que os cristãos não podem ignorar que “aquele era o símbolo da bandeira [da Companhia Britânica]”. Para ele, não é uma questão religiosa.
“Aqueles que reclamam do anúncio devem lembrar que a Companhia Britânica das Índias Orientais não apenas nos subjugou. Eles também dividiram o país em muitas partes. Isso também deve ser dito”, afirmou.
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