Valiosos achados arqueológicos acabam de desembarcar no aeroporto de Viracopos, na cidade paulista de Campinas, vindos da Bélgica e tendo como destino o Museu de Arte de São Paulo (Masp). São 15 toneladas de história que datam dos tempos de Jesus Cristo e que estão materializadas em 150 peças, entre elas os elementos arquitetônicos e decorativos de uma pequena igreja totalmente reconstituída, inscrições e candelabros esculpidos em pedra, capitéis e artefatos de ferro e cerâmica – o conjunto foi cedido pelo Museu de Israel para a exposição Tesouros da Terra Santa. Do rei David ao cristianismo (Masp, a partir da quarta-feira 13).
A mostra, que fica em cartaz até 2 de novembro, proporciona ao visitante uma viagem pelo milênio em que se forjaram as religiões judaica, cristã e, séculos depois, o islamismo, período que vai de 3.000 a.C. até o século I da era atual. Aborda também fatos que se deram na faixa de terra que abrigou endereços bíblicos, como o Jardim das Oliveiras, e que hoje corresponde geograficamente a Israel, Palestina e Jordânia, uma das regiões mais conflituosas do planeta do ponto de vista político e religioso.
Localizado entre os continentes africano e asiático, esse território foi por séculos a rota de dezenas de conquistadores. “A cidade de Jerusalém passou por conquistas de todos os povos do mundo antigo. Era o caminho para a expansão dos impérios”, diz Luis Calina, um dos responsáveis por trazer a exposição ao País. Todo esse material de inestimável valor histórico e religioso está assegurado em US$ 15 milhões. Embora o seguro seja praxe quando se trata de obras dessa importância, nesse caso ele tem lastro em fatos concretos. No momento em que eram definidos os últimos detalhes da mostra no Brasil, em janeiro deste ano, o Masp teve duas importantes obras roubadas (que mais tarde foram recuperadas pela polícia) e isso interferiu nas negociações entre o museu israelense e o brasileiro. Chegou- se a temer a suspensão do evento, o que foi superado com a adoção de forte esquema de segurança. Uma peça original, no entanto, teve a sua vinda vetada: a inscrição de Pôncio Pilatos foi substituída por uma réplica.
A ausência da obra não compromete a mostra, que nunca foi apresentada nesse contexto (abordando o surgimento das três principais religiões monoteístas do mundo) em nenhum outro país. Além dos aspectos históricos, religiosos e políticos da Terra Santa, a montagem descreve a vida cotidiana dos israelitas, suas casas e locais de culto e remete a personagens centrais da história da vida e do martírio de Jesus Cristo. É o caso do sacerdote Caifás, cujo ossuário original pode ser visto pelos visitantes. Essa peça e a inscrição de Pôncio Pilatos são as únicas provas físicas da existência desses dois homens que estiveram diretamente envolvidos no julgamento e crucificação de Cristo. Num mesmo espaço, harmonizam-se os diversos cultos e suas histórias por meio de um mosaico rico e complexo. “Esse tipo de exposição atrai pessoas que não têm o hábito de freqüentar mostras de arte, mas vêm pelo interesse religioso”, diz Calina.
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