Tornar-se um cristão na Argélia, um país que fica ao norte da África é difícil e pode até ser criminoso.
Esse foi o caso de Ahmed Beghal (nome alterado por razões de segurança) que perdeu a família e o trabalho por ter se convertido a Jesus Cristo.
“Hoje estou longe da minha família, da minha mulher e das minhas duas filhas, sem trabalho e sem casa”, disse ele. “Esse é o destino de um muçulmano que se converte ao cristianismo na Argélia”, explicou.
Ahmed tem 32 anos tinha uma esposa e duas filhas, de 4 e 6 anos. Ele cuidava de um negócio próprio enquanto praticava a religião oficial do país, até que tudo mudou.
Por causa de sua conversao a Cristo, sua esposa precisou se divorciar dele, por pressão da família e por denúncias à polícia, além dele não conseguir ver suas crianças e ter sido colocado fora dos negócios.
Formalmente, Ahmed é acusado de apóstata e de prejudicar o Islã.
Ahmed diz que começou a ter dúvidas sobre o Islã quando, aos vinte e poucos anos, encontrou uma emissora cristã com programação voltada para os muçulmanos. O que passou a ouvir sobre o cristianismo confirmava suas dúvidas e críticas ao Islã, ele disse. Certo dia, Ahmed decidiu ligar para o número de telefone divulgado pela emissora, o que o colocou em contato com um pastor em Argel, capital da Argélia.
De sua casa na aldeia de Ain-Soltane, na província de Ain-Defla, a sudoeste de Argel, ele foi ao encontro do pastor na capital e depositou sua fé em Cristo. Era abril de 2013. Sete meses depois, quando sua esposa notou mudanças positivas nele e sua ligação com o programa de TV cristão, ele contou havia se convertido.
A mulher passou a se interessar pela programação e, três meses depois, ela também entregou sua vida a Cristo, disse ele.
Secretamenente o casal ia aos cultos na igreja do pastor em Argel, quando conseguiam. Mas os problemas começaram depois que eles foram batizados, na cidade costeira de Tipaza, em 2015.
A mudança na vida de Ahmed e da esposa passou a ser notada pela família. Alguns pressionaram a esposa, que acabou contando sobre a conversão do marido.
Os pais e irmãos de Ahmed apreenderam todas as suas posses, incluindo um lucrativo negócio de aves domésticas nas terras de sua família que ele estava administrava. Assim, ele precisou buscar um emprego fora.
“Ao trabalhar com os outros, porque eu tinha que sustentar minha família, insultos e ameaças caíram sobre mim, porque as pessoas com as quais eu trabalhava rapidamente souberam que eu era um cristão, um murtad [apóstata]”, disse ele.
Sua própria família foi quem contou sobre sua conversão. “Foram os membros da minha família que falaram pela primeira vez, e isso me seguiu em todos os lugares”.
Ahmed conta que recebeu ameaças de morte sérias o bastante que o obrigaram a apresentar várias queixas à polícia para pedir proteção para si, para a esposa e filhas.
“Eles levaram minhas duas filhas para evitar que eu as visse – sempre que pedia para ver minhas filhas de acordo com os direitos concedidos pelo juiz, os irmãos da minha esposa criavam impedimentos e me ameaçavam”, disse Ahmed ao Morning Star News.
Ameaças de morte, perda de emprego, acusações criminais e uma noite na prisão são as dificuldades enfrentadas por Ahmed. Mas ele diz que o pior de tudo é ter sido traído pela esposa, que acabou por denunciá-lo e ficar sem contato com as filhas. “Sinto uma grande dor”, conta.
Não recebendo ajuda da polícia, precisou se mudar com a família para Chlef, 84 quilômetros a leste, deixando todas as relações e posses para trás e fazendo bicos para tentar sobreviver.
Antes de chegar nessa situação, Ahmed conta que sua esposa concordou em se tornar cristã três meses depois dele se converter em 2013.
Em 2017, os sogros de Ahmed souberam de sua conversão e decidiram agir. Convocada pelos pais e mortificada de medo, a esposa de Ahmed acabou negando ser cristã. Ela nunca o tratou da mesma forma desde então, disse Ahmed.
No início de agosto de 2017, sua esposa, acompanhada por seus pais, registrou uma queixa contra ele na polícia. Ele conta que ela o acusou de atacar o Islã e de destruir uma caixa inscrita com um verso do Alcorão. Os policiais foram à casa, mas não encontraram nada que o incriminasse. Mesmo assim, ele ficou preso uma noite.
Vendo que a polícia não estava disposta a prendê-lo, os sogros de Ahmed pressionaram sua esposa a pedir o divórcio. “Eles levaram minhas duas filhas para me impedir de vê-las”, contou.
Durante a primeira semana de dezembro passado, em uma de suas muitas visitas ao tribunal para tentar obter o cumprimento de seu direito de visitar as crianças, Ahmed ficou surpreso ao receber uma ordem para comparecer perante um juiz em 30 de dezembro para responder às alegações de sua esposa com acusações de “minar o Islã”, disse ele.
Uma lei argelina, conhecida como Lei 03/06, prevê pena de prisão de dois a cinco anos e multa de 500 mil a 1 milhão de dinares (4.343 a 8.687 dólares) para qualquer pessoa que prejudique a lei e a fé de um muçulmano.
Acompanhado por um advogado contratado pela Igreja Protestante da Argélia (EPA), ele foi ao tribunal em Boukadir, província de Chlef, onde um juiz o absolveu por falta de provas.
“Esse foi um belo presente de fim de ano, mas fiquei muito magoado porque minha própria esposa apresentou uma queixa contra mim”, disse.
No mesmo dia em que foi absolvido, alguém de sua aldeia natal publicou na mídia social que ele era um cristão que havia negado o Islã. “Isso me causou muitos danos”, disse ele. Apesar de todas as dificuldades e sofrimento, Ahmed permanece crente.
Desde os anos 2.000, milhares de muçulmanos argelinos depositaram sua fé em Cristo. Autoridades argelinas estimam o número de cristãos em 50 mil, mas outros dizem que pode ser o dobro desse número.
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