Cerca de 130 policiais militares passaram a madrugada do primeiro dia de janeiro em vigília na Prainha, ao lado da ponte Costa e Silva, na capital federal, para evitar confrontos religiosos. Uma licença concedida pela Administração de Brasília a uma Igreja Evangélica deixou o clima tenso no local, oficialmente chamado de Praça dos Orixás.
A autorização permitiu que a igreja Manancial de Vida, com sede no Centro de Atividades do Lago Norte, erguesse um quiosque no local durante as comemorações do Réveillon. A decisão deixou os devotos das religiões africanas indignados, já que eles alegam serem perseguidos pelos evangélicos.
O motivo da indignação foi a recente depredação das 16 imagens dos orixás. Na ocasião, a polícia civil chegou a apurar denúncias de que extremistas evangélicos teriam sido os responsáveis pelo crime. No entanto, nada foi comprovado. Desde então, o clima de enfrentamento religioso ficou ainda mais latente na cidade, com a trocas de acusações entre grupos religiosos.
Segurança reforçada
O pedido de reforço policial para a comemoração do Réveillon na Prainha partiu do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). A promotora do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, Laís Serqueira Silva, encaminhou ao 1º Batalhão de Polícia Militar um ofício alegando riscos de confrontos no local.
Com isso, um forte esquema de segurança foi montado. “Nós sabemos que pode haver um grande tumulto com a chegada dos evangélicos”, avaliou o tenente da polícia militar responsável pela segurança no local, André Cirolini. “Mas estamos prontos para qualquer situação”, completou.
O comerciante Edson Jheymmyson, 32 anos, não economizava palavras para reforçar o repúdio aos evangélicos. “Se eles aparecerem por aqui vai ter briga. Vou expulsá-los no chute”, esbravejava. Mesmo em clima de oferendas e devoção com a festa de Réveillon, o assunto era o mais comentado no local.
A reportagem tentou contato com a igreja Manancial de Vida, mas não obteve retorno. Até o início da tarde do dia 31, não foram encontrados evangélicos na praça.
Restauração
A imagem dos 16 Orixás foi recolocada na praça há menos de uma semana. Elas vieram de Salvador (BA), onde passaram pelo processo de recuperação. Ao todo, o Ministério da Cultura desembolsou R$ 700 mil por meio da Fundação Palmares. A chegada das novas imagens, com cores mais vivas, deixou muitos devotos otimistas. No entanto, o receio de novas retaliações permanece.
“Nós queremos que haja segurança 24 horas aqui para evitar que atrocidades como a depredação das imagens dos orixás volte a ocorrer”, argumenta o diretor da Federação Brasileira de Umbanda e Candomblé (FBEUC), Ribamar Fernandes Velada. “Tudo poderia ser evitado se as pessoas deixassem o preconceito de lado. Na verdade, ele só existe pela falta de informação”, afirma.
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