Desde os ataques terroristas de 11 de setembro, a preocupação com o extremismo islâmico vem crescendo no chifre da África, principalmente na Etiópia. No país, o cristianismo ortodoxo é associado à identidade nacional, apesar de quase metade da população se dizer muçulmana, de acordo com dados demográficos oficiais da Etiópia e dos Estados Unidos.
O primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, citou que o radicalismo dentro do movimento islâmico vem ganhando força na vizinha Somália e tem potencial para se expandir para outras fronteiras - justificativa essa usada pela Etiópia para ter invadido o país em dezembro passado.
Dois meses antes, um incidente próximo do sul da Etiópia, na cidade de Jima, reforçou esses temores. Apesar de o motivo para a invasão ser uma questão controversa, de fato a violência entre muçulmanos e cristãos eclodiu na região durante vários dias, matando 19 pessoas. Segundo informações do governo local, 600 casas e cinco igrejas foram incendiadas.
Vídeo mostra o massacre
Em algumas ocorrências, a polícia interveio para conter a violência, mas o massacre mais terrível ocorreu contra diversos adoradores que estavam em uma igreja. A ação foi filmada e um grupo de ajuda a cristãos perseguidos está investigando o ataque.
Rapidamente, cópias ilegais do vídeo, incluindo uma edição editada superposta com frases como "Veja o que estão fazendo conosco" começaram a ser vendidas em mercados de todo o país, chegando a cidades com mais de 400 km de distância, onde são comercializados ao lado de vídeos da cantora Britney Spears.
Quando eu assisti ao vídeo pela primeira vez, não pude acreditar", disse Aissetu Barry, um cristão e diretor do Centro para a Paz Inter-religiosa, em
Addis Ababa. "Pensei que fossem pessoas de fora porque eles não poderiam promover aquela carnificina com eles mesmos", disse. Ele contou que estava ao lado de uma amiga muçulmana e que ela chorou ao ver as imagens.
Símbolo de convivência pacífica
Os novos boatos dão conta de que o próximo campo de batalha religioso será em Dese, uma cidade que possui milhares de casas cravadas nas montanhas Tossa.
Dese é um lugar confuso. As ruas são construídas com entradas em arco, com pequenas vendinhas encravadas nas pedras. Nos cafés, as televisões ficam sintonizadas na al-Jazeera e em musicais de Randy Travis.
Apesar disso, Dese é um símbolo da interação pacífica entre religiões na Etiópia, característica encontrada em diversas escalas pelo país, onde o nacionalismo, a etnia e até mesmo a devoção ao futebol tendem a vencer o fervor religioso.
Durante séculos, muçulmanos e cristãos viveram lado a lado nos mesmos bairros, celebraram os feriados e casamentos uns dos outros e até assimilaram algumas crenças indígenas. As relações foram edificadas por instituições etíopes como os idir, grupos de vizinhos, de diversas religiões, que angariam dinheiro para o pagamento de funerais.
Em Dese, é fácil encontrar alguém como Zinet Hassen, uma mulher muçulmana que veste uma burca preta e diz: "Meu tio se converteu ao cristianismo e não sofre nenhum estigma".
Expansão da fé
Existe uma boa convivência, apesar do fato de os cristãos ortodoxos terem uma histórica vantagem política e econômica na Etiópia. Nos anos 90, por exemplo, os muçulmanos de Dese foram forçados a se converter ao cristianismo, após um decreto do imperador como forma de consolidar o seu poder.
Durante o governo socialista entre as décadas de 70 e 80, a expressão religiosa era desencorajada, o que dificultou a obtenção de terras para construir igrejas e mesquitas. A situação mudou radicalmente quando Meles Zenawi tomou o poder em 1991.
Desde então, as mesquitas surgiram por todo o país, muitas fundadas com recursos financeiros de membros saudidas ou iemenitas, em uma competição suave com a igreja ortodoxa e suas extensões, como as igrejas evangélicas, financiadas, sobretudo, com recursos de grupos norte-americanos.
Nos últimos anos, em Dese, quatro novas mesquitas foram construídas e outras estão em construção. Os cristãos têm mantido a paz e também têm se esforçado para abrir novas igrejas.
Tensão religiosa
A partir dos ataques de 11 de setembro, a competição entre os fundamentalistas islâmicos também chegou à sociedade etíope. Alguns jovens deixaram suas barbas crescerem e mais mulheres passaram a usar a burca, o que antes era raro. Uma mesquita passou a montar barricadas na porta durante o horário das orações.
Até mesmo os idires começaram a se dividir por linhas religiosas. E agora até mesmo os amigos estão se separando. A cristã Helen Alebachew, disse que ela e uma amiga muçulmana cresceram brincando juntas, mas nunca mais se olharam. "De repente, de modo inesperado, ela se juntou a um grupo de extremistas e parou até mesmo de me dar 'oi'", disse.
Quando a violência eclodiu em Jima, em outubro passado, e as notícias chegaram, a atmosfera em Dese mudou. "Nossos líderes muçulmanos desejam que nos tornemos mais devotos e recuperemos a religião perdida de nossos pais", disse Ahmed Mousa, um senhor de 80 anos, que trabalha na Escola Islâmica de Showber. Ele faz questão de dizer que não é um fundamentalista, e sim um etíope.
Mistura consangüínea
O prefeito da cidade, cujo primeiro nome, Jemal, é muçulmano e o sobrenome, Kassahun, é cristão, convocou uma reunião entre líderes religiosos de Jima, incluindo um xeique muçulmano que tem um tio cristão, e um pastor que é neto de um muçulmano.
Os líderes concluíram que a violência em Jima foi obra de grupos estrangeiros ou de grupos políticos etíopes que estão tentando usar a religião para desestabilizar a região.
"Nós, cristãos e muçulmanos, estamos juntos nas boas e nas horas más", disse Endris Ahmed, do Conselho Regional para Assuntos Islâmicos. "Decidimos que isso não vai nos atrapalhar".
As tensões em Dese continuam. Nas mesquitas, os muçulmanos passaram a fazer suas orações e leituras em tons mais altos.
Nurye Seid, um professor do ensino médio, muçulmano, casado com uma mulher cristã em uma cerimônia civil, no ano passado, conta como tem sido pressionado para tomar partido entre uma religião e outra. O casal agora tem um filho de um ano e ainda não deu um nome para ele.
Os pais dele esperam que a criança seja muçulmana e se chame Abubakr. Já os pais da esposa querem chamá-lo de Abel. Até o presente momento, eles têm chamado o filho de Abush, que significa bebê.
"Argumentamos com nossos pais que nem eu nem minha esposa temos uma religião em particular. Achamos que culturas diferentes são difíceis de pacificar, mas que a questão religiosa pode ser resolvida sem discussões", disse Nurye.
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