Quando era agente da KGB, a principal organização de serviços secretos da União Soviética, o russo Sergei Nikolayevich Kourdakov realizou mais de 150 ataques em comunidades cristãs subterrâneas de seu país na década de 1960.
Muitos líderes evangélicos foram presos, os membros das igrejas foram espancados e toda a literatura cristã foi queimada ou enviada para análise do governo. No entanto, anos mais tarde, Kourdakov deixou de ser um perseguidor da igreja para se tornar um seguidor de Jesus Cristo.
Segundo sua autobiografia, Kourdakov nasceu sob o regime comunista da União Soviética em 1951. Depois de quase ser morto por seu irmão que sofria com doenças mentais, ele fugiu de casa e morou por um tempo nas ruas, até ser abrigado por um orfanato.
Inteligente e ambicioso, Kourdakov reuniu seus esforços na juventude para atuar no partido comunista. Depois de se tornar líder da Liga da Juventude Comunista e se graduar com honrarias, ele ingressou na Marinha e foi recrutado para um "pelotão de ações especiais”.
No início, seu esquadrão era responsável por deter bêbados e agressores, algo que a polícia não tinha tempo para conter. Com o passar do tempo, Kourdakov e seus recrutas foram designados a interromper reuniões cristãs subterrâneas.
Em certa operação, ele se escondeu atrás de arbustos no local onde haveria um batismo. Depois que os membros da igreja chegaram, Kourdakov matou o pastor, agrediu fiéis com tacos e deixou as mulheres nuas para serem humilhadas e interrogadas.
No entanto, sua forma de operar atraiu fortes críticas de seus superiores, que queriam que as incursões fossem conduzidas em segredo.
Suas façanhas em nome do regime comunista fizeram Kourdakov se destacar na província de Kamchatka, onde foi premiado com um discurso transmitido pela televisão e fez parte de um jantar de gala.
Kourdakov, porém, ficou desiludido — representantes do comunismo que deveriam lutar em favor do trabalhador e contra a classe dominante estavam vivendo da mesma forma que os opressores capitalistas. Além disso, ele notou que suas incursões cristãs não estavam tendo o efeito desejado: em vez da comunidade evangélica diminuir, havia um crescimento.
Contato com a fé
Meses depois, Kourdakov foi enviado para queimar alguns textos religiosos, mas suas dúvidas sobre o comunismo estavam fervendo e sua curiosidade pelo cristianismo estava aumentando. Em vez de queimar todos os livros, ele guardou uma cópia do Evangelho de Lucas e levou para ler no quartel.
“Na primeira oportunidade que tive, deitado em minha cama na Academia Naval, eu abri aqueles pedaços de papel e comecei a ler”, relatou Kourdakov no livro The Persecutor. “Jesus estava falando e ensinando alguém a orar. Este certamente não era um material anti-Estado. Era sobre como ser uma pessoa melhor e como perdoar aqueles que estão errados”.
“De repente, as palavras saltaram daquelas páginas e entraram em meu coração. Isso era exatamente o oposto do que eu esperava. Minha falta de entendimento, que tinha sido como tampões nos meus olhos, me deixou, e aquelas palavras tocaram profundamente no meu ser. Nos dias e semanas seguintes, as palavras de Jesus ficaram comigo. Tudo era tão organizado em minha vida, mas aquelas palavras perturbadoras tinham mudado alguma coisa”, disse ele.
Em janeiro de 1971, Kourdakov se graduou na Academia Naval passou a atuar em um navio de guerra próximo à costa dos Estados Unidos. Decidido a abandonar tudo, ele resolveu iniciar sua fuga quando sua equipe estava perto do Canadá.
Kourdakov mergulhou nas águas frias e foi encontrado com ferimentos na ilha de Queen Charlotte por uma mulher. Ele foi abrigado por uma família russa em Toronto e começou a se adaptar ao novo país.
Com o discipulado e ensino de um pastor ucraniano, Kourdakov finalmente se converteu a Cristo e recebeu o exemplar de uma Bíblia russa que ele havia confiscado e queimado em ataques na União Soviética.
Depois de estudar sua Bíblia e crescer na fé, Kourdakov foi convidado a falar em diversas igrejas em nome do Evangelismo Subterrâneo. No entanto, em janeiro de 1973, Sergei Kourdakov foi encontrado morto por um tiro na cabeça em um quarto de hotel na Califórnia.
A polícia julgou o caso como um suicídio ou acidente, mas seu ministério contestou o relatório da polícia e acusou as autoridades de não reconhecem os sinais das operações da KGB.
No entanto, mesmo lidando com tanta exposição após sua fuga da KGB e anunciar publicamente sua fé, Kourdakov entendeu qual era seu propósito de vida. “Se eu me mantivesse em silêncio, quem falaria pelos cristãos? Quem conheceria seus sofrimentos?”, escreveu ele em seu livro. “Desde que eu tirei suas vidas, eu decidi que tinha uma dívida. Decidi não dizer às autoridades sobre a ameaça. Afinal, era minha decisão de falar, e eu tinha que assumir a responsabilidade por isso”.
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