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Encontro de teólogos muçulmanos pode gerar mudanças na ação de extremistas

Leia a seguir o artigo publicado na edição impressa de The Economist, de 28 de julho de 2005, segundo o qual os especialistas da doutrina contestam os extremistas:

Alguns dias antes do ataque a Londres, ocorrido em 7 de julho, um evento histórico estava acontecendo no mundo da teologia muçulmana. Depois de cuidadosas deliberações tomadas sob o conforto do ar-condicionado em um hotel na capital da Jordânia, Amã, estudiosos muçulmanos do mundo - mais de 170 deles, de mais de 35 países - fizeram uma série de pronunciamentos para afirmar sua própria autoridade, mitigar diferenças e desferir um golpe contra os que advogam o terror.

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As coisas que estes distintos cavalheiros decidiram podem parecer incomuns aos não-muçulmanos. Mas para os anfitriões, incluindo o rei Abdullah da Jordânia, o acordo foi um encorajador primeiro sucesso naquilo que será uma longa batalha ideológica contra interpretações do Islã que dão suporte à violência.

Em muitos aspectos, os muftis e os doutrinadores concordaram em minimizar suas próprias (antes agudas) diferenças e trabalhar em conjunto para promover o que eles consideram como boa teologia, em detrimento de algumas interpretações superficiais que promovem a violência e que têm circulado, eletronicamente e por via impressa, por todo o mundo.  Entre as conclusões principais dos estudiosos está a de que a ninguém que aceita os princípios básicos do Islã deve ser negado o rótulo de muçulmano. Uma conclusão óbvia? Longe disso, por causa do atestado de autenticidade de virtualmente todas as vozes estridentes do islamismo é que eles rejeitam as credenciais muçulmanas de quem discorda deles. Como exemplo de um pensador muçulmano que reputa qualquer pessoa menos extremista do que ele como apóstata, muitos citariam Ayman al-Zawahiri, um egípcio que é um dos líderes da al-Qaeda.

Igualmente importante, os estudiosos anunciaram um tipo de acordo de reconhecimento mútuo entre as oito principais correntes de interpretação legal do islamismo: quatro sunitas, as duas principais tradições de Shia, os Ibadis de Omã e a pequena mas prestigiosa corrente Zahiri. Ainda que esses líderes jamais venham a concordar em tudo, eles reconheceram a autoridade de cada um dos demais em suas respectivas comunidades - e resolveram negar a autoridade de qualquer um que se passe por erudito mas não tenha treinamento.

Pelo menos na teoria, isso requer um grau de respeito mútuo entre versões rivais do islamismo que não tem sido visto desde o Império Fatimid, há um milênio. Mais praticamente, o pronunciamento deve servir como influência restritivo no Iraque, por negar aos muçulmanos sunitas o direito de atacar os seus compatriotas Shia como hereges.

Como exemplo de teologia ruim sendo utilizada para fins detestáveis, muitos estudiosos citam a notória fatwa, ou instrução religiosa, colocada em 1998 por Osama bin Laden e seus camaradas do Egito, Paquistão e Bangladesh. São citadas algumas das mais sangrentas linhas do Alcorão - assassinem os pagãos onde quer que os encontrem, apanhe-os, cerque-os, deitem-se para esperá-los com todos os artifícios - para justificar ataques a cruzados (por exemplo, ocidentais) e judeus. As interpretações mais tradicionais do Alcorão argumentariam que essas linhas se referem a uma situação específica - quando o Profeta e seus companheiros enfrentaram um ataque surpresa de adversários que quebrem um acordo - enquanto as passagens mais apaziguadoras do Alcorão, visando a tolerância,ensinem uma regra mais geral. O significado preciso dos chamados versos-de-luta do Alcorão é difícil de discernir. Mas os estudiosos moderados fazem uma colocação plausível ao argumentarem que apenas a teologia bem embasada pode curar os efeitos da teologia ruim e extremista.

Finalmente, quanto das decisões de Amã ressoará junto aos religiosos no chamado mundo árabe, onde muitos podem ainda estar mais impressionados pelas ações espetaculares da al-Qaeda do que pelos pensamentos elaborados dos anciãos? Muito, insiste Abdallah Schleifer, da Universidade Americana do Cairo. O egípcio comum é incomodado com a disputa entre os sunitas que lutam com os Shia no Iraque, e isso ajudará a clarear seus pensamentos, ele diz. Isso também será um golpe contra os efeitos ruins da religião de vitrine - extremismo espalhado por pregadores auto-nomeados e ignorantes.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2005/08/noticia1993/


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