Foi encontrado na quarta-feira (6/9), em uma estrada nos arredores de Cartum, o corpo decapitado do editor do jornal sudanês al-Wifaq, Mohammed Taha. O jornalista havia sido levado de sua casa na noite de terça-feira por um grupo de homens armados.
No ano passado, Taha foi a julgamento sob acusação de blasfêmia depois que seu jornal, pró-governo, publicou artigos questionando a origem do profeta Maomé. O jornal ficou fechado por três meses, e as acusações foram posteriormente retiradas; se condenado, o editor receberia sentença de morte. Durante o julgamento, milhares de manifestantes se reuniram em frente ao tribunal no centro de Cartum pedindo pela condenação de Taha.
Radicalismo
Segundo o correspondente da BBC em Cartum, Jonah Fisher, apesar de ninguém ter assumido a autoria do crime, as suspeitas recaem diretamente sobre grupos islâmicos linha-dura. A polícia local fez algumas prisões, mas parece estar longe de solucionar o caso. Fisher afirma ainda que a morte de Taha - que era aliado do governo islâmico - promete aumentar o receio de que grupos extremistas estejam novamente em atuação no país.
Mesmo sendo muçulmano, Taha tinha, segundo colegas de trabalho, pontos de vista estranhos que enfureciam a população de maioria muçulmana sunita. Na década de 90, ele sofreu ameaças de morte depois de escrever um artigo sobre o líder muçulmano Hassan al-Turabi.
Violência e caos
O brutal assassinato estampou a primeira página dos jornais sudaneses na quinta-feira. O diário al-Watan chegou a alertar que este tipo de derramamento de sangue raramente termina com apenas um crime. Quando você abre esta porta diabólica para o inferno e facas e balas tomam o lugar da caneta, estamos no caminho para o caos.
Segundo nota de Opheera McDoom , a forma como o corpo do jornalista foi encontrado - mãos e pés amarrados e a cabeça próxima ao corpo - lembra crimes similares no Iraque. O Sudão abrigou o líder da organização terrorista al-Qaeda, Osama bin Laden, na década de 90, e o país continua na lista dos EUA de patrocinadores do terrorismo. Cartum é governado pela rígida lei islâmica Sharia desde 1983, mas há alguns anos os tribunais locais têm mostrado sinais de afrouxamento das interpretações da lei.
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