Um protesto de um ex-líder de jovens e ex-pregador evangélico contra a forma que a sociedade lida com os transexuais causou revolta nas redes sociais. O ator Ari Areia, seminu, usou o próprio sangue para “pintar” um crucifixo, durante uma “performance artística” na Universidade Federal do Ceará.
A manifestação aconteceu durante o seminário “Conversas empoderadas e despudoradas sobre gênero, sexualidade e subjetividades”. Usando apenas um tapa-sexo, Areia drenou sangue de seu braço usando um acesso intravenoso e jogou sobre uma imagem de Jesus Cristo na cruz.
A divulgação da performance nas redes sociais gerou grande burburinho, com severas críticas de internautas. De acordo com informações do portal Guia-me, o pastor Renato Soares, da Comunidade Cristã Logos, usou duas passagens bíblicas para repudiar a “performance” de Areia: “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus’. (Gálatas 5:19-21) […] De modo semelhante a esses, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo’. (Judas 1:7)”.
Outros internautas expressaram de forma mais veemente sua revolta com o ator, promovendo um “vomitaço” no Facebook: “Escárnio, escória da humanidade onde acham que podem tudo e não toleram nada! Não reclamem das consequências seus lixo”, escreveu um usuário da rede social.
“O problema não é a estátua em si,mas o sentimento de ódio contra o próprio Deus”, disse outro. “Isso é arte? Pra mim é uma tremenda falta de respeito… Depois querem respeito. #melhore. E quem defende é pior que eles”, comentou um terceiro.
Um dos organizadores da “performance artística”, Junior Ratts, estudante da universidade, minimizou as reclamações, dizendo que os que se opõem “não sabem que o gesto artístico não se tratou de uma nudez gratuita, mas sim de um ato singelo de humanidade que trouxe à tona a dor que alguns indivíduos trans sofrem por não serem aceitos por seus familiares, amigos e até por si mesmos”.
Ratts ainda destacou o aplauso que o público presente no seminário rendeu ao ator Ari Areia: “A performance foi aplaudia de pé por uma plateia comovida que soube estar presente a um evento que tratava justamente sobre a liberdade de ser o que é em um momento no qual o país vivencia um série de retrocessos, principalmente quando se trata de cidadania LGBT e mais ainda quando se refere à cidadania trans”, acrescentou.
Ari Areia, que é filho de pastor, deixou as funções que exercia na comunidade de fé onde foi criado quando se assumiu homossexual. Em uma entrevista concedida ao jornal O Globo, o ator destacou que sua decisão foi uma forma de evitar que suas escolhas afetassem seu pai: “Preferi sair de casa para não trazer problemas para ele [pai]. Não fui expulso, pouco a pouco a gente vai se reaproximando. Havia grande expectativa religiosa sobre mim. Já era auxiliar e recebia muitos convites para pregar no interior. Houve reações até hostis, mas mantive o pessoal da igreja no Face”, disse.
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