Quando 138 estudantes muçulmanos enviaram um pedido aberto a líderes do mundo cristão, de católicos a metodistas, para um diálogo teológico, não sabiam que estavam entrando num verdadeiro vespeiro. Era uma proposta justa para que os líderes cristãos examinassem suas crenças, ombro a ombro, desde que não fossem muito liberais ou severos ao explicitarem seus pontos de vista.
Os batistas da América do Sul culparam os protestantes populares por responderem muito calorosamente ao convite; e até mesmo os católicos estão discordando entre si, mas aos poucos estão avançando no diálogo.
O homem-chave do Vaticano para as relações entre religiões, o cardeal Jean-Louis Tauran, felicitou a idéia, mas acha que a oportunidade é muito pequena para falar aos muçulmanos sobre teologia
Ele lembrou que os muçulmanos podem construir mesquitas na Europa, mas limitam ou proíbem a construção de igrejas em suas nações. "Num diálogo entre fiéis, é importante dizer que o que é bom para um é bom para o outro", ressaltou Tauran.
O cardeal deixou claro, contudo, que o Vaticano gostou de receber a carta, classificada por ele de "exemplo eloqüente de diálogo de espiritualidades" e “demonstração de boa vontade por parte dos muçulmanos”.
O papa Bento XVI concordou em receber alguns dos signatários muçulmanos, em um processo que começará em breve.
A resposta católica mais corajosa para a carta muçulmana foi um texto feito por um estudante jesuíta australiano, Daniel Madigan, publicado neste mês. Ele levou a idéia muçulmana de um diálogo seriamente baseado nas ordenanças de Jesus de amar a Deus e amar uns aos outros.
Essas ordenanças são o fundamento da base da fé cristã. “O amor de Deus para homem é o ponto básico”, defendeu o jesuíta. Mas apesar de todos os seus questionamentos, ele se empenhou em levar a sério as visões teológicas dos muçulmanos.
Como a maior das ordens religiosas da Igreja Católica, os jesuítas gostam de testar os limites de diálogo. Antes da morte do jesuíta pioneiro Jacques Dupuis, que analisou o pensamento católico e o hindu, ele sofreu muitas repreensões do executor doutrinal do Vaticano, o então cardeal Joseph Ratzinger Cardeal, que hoje é o papa Bento XVI.
Adolfo Nicolas, o superior-geral dos jesuítas, eleito este mês, diz que os credos das ordens religiosas devem viver além das “fronteiras culturais”. Perito espanhol no Japão, ele também já foi mal visto pelo Vaticano, e se mostra mais aberto ao diálogo.
A Portas Abertas já trabalha no diálogo com muçulmanos
Nos últimos anos o fundador da Portas Abertas, o irmão André, tem dedicado sua vida a dialogar com líderes muçulmanos e trocar visões teológicas. Estas experiências estão descritas no livro "Força da Luz: a única experança para o Oriente Médio" (veja como adquirir o livro aqui).
Logo nas primeiras páginas ele relata o pedido de encontro com o xeique Abdullah Shami, fundador e líder espiritual do Hamas ( partido político e movimento guerrilheiro palestino, considerado por alguns como uma organização terrorista).
Diz ele a Abdul, um dos soldados: "Represento os cristãos da Holanda e do Ocidente. Quero ter uma troca de perspectivas sobre a fé – islamismo e cristianismo. Gostaria também de conhecer os pensamentos do xeique sobre a situação da Palestina e o futuro para a paz".
E ele se surpreende quando Abdul começa a lhe fazer perguntas sobre o cristianismo. Aquele homem passara 19 anos na prisão, tempo que lhe deu a oportunidade de ler, conhecer e meditar muito bem sobre a Bíblia. Ele dizia que gostava muito de Jesus, mas que não entendia o velho testamento.Questionou as guerras e perguntou sobre o cumprimento de profecias.
Diz o irmão André, no livro, após o encontro com Abdul: "Os meios de comunicação raramente colocam uma face nos grupos fundamentalistas islâmicos de Gaza e da Cisjordânia. Conseqüentemente, poucas pessoas param para pensar nesses homens como pessoas comuns, com famílias, sonhos, temores e dúvidas
Quantos deles estão lutando para descobrir o significado da vida? Para muitos a única fonte de esclarecimento é o islamismo. E o que nós, cristãos, estamos fazendo para que eles tenham ao menos a chance de entender o que nós cremos e defendemos?"
“Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração." Hebreus 4: 1
(Texto acrescido de informações da revista "Veja" e de informações do livro "Força da Luz: a única esperança para o Oriente Médio", do irmão André e Al Janssen, publicado pela editora Vida)
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