Um cristão paquistanês e sua filha foram presos pela polícia depois de acusados de profanar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. O incidente se deu em Gojra, famosa vila distrito de Faisalabad, em Punjab, província do Paquistão.
O filho de 7 anos de Gulsher, chamado Amsal, pegou uma sacola plástica na rua e trouxe para casa no dia 8 de outubro. O garoto deu a sacola para sua irmã de 18 anos, Sandal, que encontrou páginas rasgadas do Alcorão entre outras coisas que estavam na sacola.
Sandal deu a sacola para uma vizinha muçulmana, pedindo que entregasse ao líder religioso da região.
Uma senhora muçulmana, Samina Bibi, moradora da região, tinha tido um pequena desavença com a família de Gulsher pouco tempo antes. Ela teria supostamente ameaçado a família.
Numa aparente tentativa de acertar as contas, Samina alegou que Gulsher e Sandal tinham profanado as páginas do Alcorão antes de entregá-las para a vizinha muçulmana.
Líderes religiosos anunciaram o fato dos minaretes das mesquitas, para que a “profanação” viesse a público, incitando os muçulmanos a atacar os “blasfemadores”.
Em 9 de outubro, centenas de muçulmanos irritados saíram de suas casas depois de saber da suposta profanação do Alcorão. O grupo atacou a casa de Gulsher, mas a polícia conseguiu tirá-los antes que fossem feridos.
Os muçulmanos da região então pressionaram a polícia a abrir um processo, com a acusação de blasfêmia, contra Gulsher e Sandal.
A acusação de blasfêmia, que pode ser punida com prisão perpétua caso a pessoa seja condenada, foi então registrada contra eles por um queixoso, Farooq Alam.
Farooq negou ter testemunhado qualquer ato de profanação por parte de Gulsher ou Sandal. Ele declarou à polícia ter sido informado de que Gulsher e Sandal tinham cometido a blasfêmia.
A polícia apresentou Sandal como um dos acusados perante o juiz. Eric Sandhu, advogado e coordenador judicial da Aliança Geral das Minorias do Paquistão (APMA) defendeu-a no julgamento.
Ele declarou a jovem cristã inocente e solicitou que lhe fosse autorizado o pagamento de fiança.
O juiz a enviou para a cadeia do distrito de Faisalabad, tendo recusado o pedido de fiança. Um grupo de muçulmanos permaneceu em frente ao local do julgamento. Eles gritavam frases contra a acusada e sua família.
Mal uso da lei
Falando com a agência de notícias ANS, Shahbaz Bhatti, o diretor da APMA (uma organização que lidera grupos de minorias paquistanesas), disse que os membros do da filial APMA em Jhumra, uma vila próxima, e em Faisalabad foram ao local do incidente e resgataram a família, que corria riscos, com a ajuda da polícia.
Percebendo o perigo que havia para os membros da família, os membros da APMA os transferiram para lugar seguro, Shahbaz disse a ANS. Ele também disse que levaria o caso às autoridades superiores.
Lamentando o uso errôneo das controversas leis sobre blasfêmia no Paquistão, ele disse que essa lei se tinha transformado em uma pena de morte nas mãos de extremistas os quais, segundo ele, já estavam inclinados a desestabilizar o país.
Shahbaz pediu a revogação de todas as leis discriminatórias, incluindo as leis paquistanesas sobre blasfêmia. Ele pede orações pela proteção e lliberdade de Gulsher e de sua filha.
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