Dançar, brincar, encontrar amigos, conhecer novas pessoas, enfim, se divertir. Que jovem não gosta disso? Apesar de muitos acreditarem que essas atividades só podem ser bem aproveitadas se acompanhadas de bebidas alcoólicas ou outras drogas, uma boa parte da galera mais nova vem mostrando que, para curtir a vida, o que importa é estar disposto a desfrutar de momentos de alegria e diversão sem que seja preciso se contaminar com a falsa felicidade tão comum no mundo atual. E é assim que uma grande parte da juventude cristã tem feito para se divertir e chamar a atenção de outras pessoas, através de festas e eventos, conhecidos geralmente como “baladas gospel” (programações evangélicas voltadas especificamente para o lazer e o entretenimento).
Mesmo possuindo uma característica diferente das reuniões evangélicas tradicionais, ou seja, fugindo do padrão habitual dos cultos em igrejas, esse tipo de evento é denominado, por organizadores e até mesmo pela maioria dos freqüentadores, como uma estratégia de evangelismo que visa levar a mensagem de Jesus Cristo de uma maneira mais divertida e diferenciada. O produtor Wellington Júnior – um dos responsáveis pelo Ministério Gospel Night – defende esta idéia: “Nossos eventos são uma estratégia. É muito mais fácil levar um amigo que não conhece a Jesus numa festa para dançar e curtir uma boa música do que convidá-lo para um culto de domingo”.
O Ministério Gospel Night já existe há 10 anos e, de acordo com Wellington, o projeto tem obtido frutos positivos quanto ao evangelismo. “Somos realistas: o nosso público vai ao evento para se divertir, mas, ao contrário do que muitos pensam, não fica apenas na diversão. As pessoas sentem a presença de Deus naquele local e a sensação de estar cheio do Espírito Santo é perceptível no olhar de cada um. Ao longo desses anos, temos visto vidas sendo reconstruídas e transformadas através da alegria que vem de Jesus”, afirma. Porém, assim como toda estratégia, projetos como Gospel Night sempre dividem opiniões dentro das igrejas. Se, por um lado, existem os adeptos deste tipo de tática evangelística, por outro, sempre irá existir aquela visão mais conservadora que prefere investir em maneiras mais tradicionais.
Este é o caso do pastor Leônidas Lemos, líder da Igreja Evangélica Congregacional de Vista Alegre, em São Gonçalo (RJ). Apesar de não desprezar e nem condenar projetos com a visão do Gospel Night, ele acredita que esta forma de evangelizar não seja tão eficaz quanto pretende. “Continuo crendo que a melhor forma de evangelismo é a pregação do Evangelho individualmente. Quando junta essa idéia com shows gospel acho difícil que o jovem consiga refletir na Palavra de Deus, pois a própria música agitada aliena e faz com que a nossa atenção seja desviada para outras coisas”, explica.
Eficazes ou não, o fato é que, independentemente de resultados, esses eventos têm atraído cada vez mais os jovens cristãos e um grande número de não-evangélicos também. De acordo com uma pesquisa feita pela equipe Gospel Night, a porcentagem de jovens não-crentes que costuma estar presente nos eventos chega a 35%. Uma das coisas que colaboram muito para esse índice, segundo Wellington, é o fato de os pais se sentirem mais seguros em permitir que seus filhos participem de eventos em ambientes livres de drogas, álcool e prostituição.
A dona-de-casa Regina Vianna dá um enorme incentivo para festas como essas. Além de permitir que seus filhos Leonardo, de 21 anos, e Suelen, de 16, freqüentem as baladas gospel, ela ainda conta que costuma ir aos eventos junto com eles. “Já fui a muitas festas com meus filhos. Vemos que lá os jovens se alegram e curtem bastante. Além de acompanhá-los, me divirto muito também, e isso é muito legal. Me sinto tranqüila em saber que meus filhos estão em lugares onde tocam músicas saudáveis e evangelísticas que, muitas vezes, falam mais do que uma pregação direta da Palavra”.
Compromisso com a obra de Deus
Assim como em diversos grupos e comunidades, nem todos os jovens que freqüentam as “baladas gospel” estão focados em um mesmo objetivo. Muitos enxergam os eventos como apenas ambientes de lazer e entretenimento, porém, existem aqueles que mesmo gostando de curtir uma boa festa, visam ganhar almas para o reino de Deus.
Apesar de manter uma certa resistência a esse tipo de tática evangelística, o pastor Leônidas afirma que, a despeito dos métodos, o que os líderes ministeriais precisam fazer é orientar os jovens para que eles sejam comprometidos com a obra de Deus. “A mensagem pregada dentro dessas festas pode ter uma grande influência na vida dos jovens ou pode apenas servir para entreter”, afirma o pastor, que garante, ainda, que o resultado obtido vai depender de como essas estratégias serão trabalhadas na vida do jovem.
Wellington pensa da mesma forma. Não é à toa que a equipe do Gospel Night não é formada apenas por organizadores de eventos e animadores de festa. De acordo com ele, o grupo é formado também por pastores e líderes que, além de ministrar aos jovens, realizam um trabalho de acompanhamento daqueles que se converteram durante algum evento.
O produtor admite que uma estratégia nova requer algum tempo para adquirir reconhecimento, mas garante que resultados positivos são o que não faltam. “Nesses 10 anos de Gospel Night, os jovens e adolescentes cresceram e muitos hoje são adultos e já constituíram família. Já tivemos diversos casos de jovens que se tornaram pastores e líderes de ministério. Vale a pena investir nesse público”.
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