Em uma data comemorativa tão tradicional no Brasil e em diversas outras partes do mundo, mobilize-se pela causa da Igreja Perseguida. Crianças na Colômbia são presenteadas com armas, munição e treinamento de guerra. Ore em favor da infância que foi perdida, a educação quase inalcançável, a falta do amor e paz e, sobretudo, clame pelo cuidado de Deus na vida de cada uma delas. Feliz Dia das Crianças!
José* mora na Colômbia. Sua história de vida é muito parecida com a de muitas crianças colombianas, que convivem diariamente com a luta armada de guerrilheiros versus paramilitares, na disputa pelo poder do país. Nessa sexta-feira, dedicada especialmente ao Dia das Crianças, conheça o testemunho de um menino que, desde pequeno, teve que aprender a se defender sozinho. Entenda a influência da oração na vida das crianças perseguidas e engaje-se nessa batalha também. Dê a eles um presente que nunca lhes foi dado: amor.
“Eu tinha apenas cinco anos de idade quando me encontrei com um grupo armado ilegal pela primeira vez. Eles vieram até a fazenda onde morávamos e decidiram criar um campo de treinamento ali. Eu fui atraído pela maneira como eles olhavam e interagiam com as crianças, quase como se fossem um de nós. Eles sempre brincavam com a gente, nos levavam para correr na praia. Mas gostávamos mesmo era do jogo de esconde-esconde nas plantações, insinuando como se estivéssemos em combate. A única diferença entre nós e eles era que o nosso armamento era feito de pedaços de madeira, enquanto que as armas deles eram reais.
Os guerrilheiros nos diziam que era apenas um jogo, nós podíamos brincar sem nos preocupar porque eles nunca iriam disparar suas armas contra nós, só queriam se divertir um pouco conosco. Eles nos levantavam em suas costas, contando até dez e nos jogavam no ar; nós ríamos muito. Como éramos crianças, nós amávamos essas brincadeiras. Mas, o que eu pensava ser apenas diversão de criança era, na verdade, um treinamento de guerra.
Certa manhã, eu testemunhei minha primeira execução. Tinha em torno de sete anos de idade. A vítima era uma jovem. Eu vi quando eles cavaram um buraco e a executaram. Não muito tempo depois disso, talvez dois ou três dias, outra execução aconteceu. Desta vez, eu queria participar mais ativamente; eu mesmo cavei o buraco. Nem um mês havia se passado quando eu quis participar sendo o atirador.
A primeira vez que atirei e executei alguém eu tinha sete anos. Eu fiquei tão acostumado àquilo, que as mortes se tornaram algo muito natural; qualquer um que não compartilhasse da mesma ideologia do grupo do qual eu fazia parte, era eliminado. É horrível e realmente chocante ver crianças de 12, 10 ou 9 anos de idade sendo assassinadas.
Houve uma época em que minha mãe passou a frequentar a igreja. Um dia, ela chegou em casa e orou por mim, pediu a Deus pela minha libertação. Fiquei muito irritado com aquilo tudo porque eu acreditava ser o meu próprio deus. Não precisava de ninguém, minhas armas e o poder que exercia participando de grupos guerrilheiros eram o meu deus. Eu disse a ela: “Quando meus irmãos crescerem, eu vou levá-los comigo e, se você ficar no caminho, eu vou matá-la, esteja você onde estiver."
Eles nos ensinaram a sermos tão radicais lá, que os cristãos acabaram sendo um objetivo militar. Foi então que eu comecei a ter sonhos estranhos. Em meus sonhos, eu via a quem, na época, chamei de "homem de branco." Ele olhava para mim, seus pés não tocavam o chão e seus braços estavam esticados, como que me chamando. Eu gritei e o amaldiçoei. Ainda durante o sonho, eu saquei a minha arma e comecei a atirar; uma atitude absolutamente inútil, porque eu acabei prostado de joelhos, chorando muito.
Eu cheguei a um ponto em que não queria mais viver. Sempre carregava comigo uma arma Cold 45, minha amiga fiel, que nunca falhou quando precisei. Direcionei o cano para a minha cabeça e, depois minha boca e, por diversas vezes apertei o gatilho, mas nada aconteceu. O tiro não saiu!
Eu era um homem procurado, havia um mandado de prisão contra mim. Um dia, sem percebermos, três carros de polícia nos seguiram e nos pararam para pedir nossos documentos de identificação e registro do automóvel. Eu não sei quanto tempo levou para que eles verificassem todos os dados, só sei que, para mim, parecia uma eternidade. Nesse meio tempo, eu revivi toda a minha vida, da minha infância até aquele momento, todo esse tempo correndo e me escondendo, mas, no final, teria de arcar com as consequências das minhas escolhas. Meu passado finalmente tinha me alcançado.
Quando os oficiais voltaram com todos os meus documentos, a tenente me disse: "Você é um cidadão exemplar. Bons cidadãos como você é o que precisamos neste país”. Eu estava tão emocionado e entusiasmado que não sabia o que fazer. Deus havia limpado a minha vida e todo o meu passado criminal. É por isso que, hoje, adoro ao Deus Todo-Poderoso diariamente.
Já tentaram me matar várias vezes, mas Deus me protegeu de todas elas. Essas experiências, desde a minha infância, serviram para que eu pudesse ser um testemunho vivo daquilo que me causou tanta dor.
Agora, eu sou pastor e peço por suas orações. Interceda em favor de todas as crianças da Colômbia. É de cortar o coração saber que pequenos, de apenas 10 anos de idade ou menos, são tomados de seus pais por esses grupos ilegais. Em dez anos, o que esses meninos e meninas se tornarão? Provavelmente, treinados por guerrilheiros, serão criminosos cruéis. Mas, se nós clamarmos a Deus por eles, o Senhor pode salvá-los e transformá-los em grandes pregadores da Palavra de salvação que liberta.”
*Nome trocado para a segurança do cristão
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