Um curta-metragem que está sendo rodado em uma fazenda de Itu conta a história dos 150 anos da Igreja Presbiteriana no Brasil. O filme tem seu roteiro baseado no diário do reverendo Ashbel Green Simonton, introdutor do Presbiterianismo no Brasil.
Orçado em R$ 200 mil, produção, com roteiro de Joel Yamaji, explora conflitos existenciais dos personagens
Último dos nove filhos de um deputado federal e médico da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o reverendo Ashbel Green Simonton ofereceu-se, ainda muito jovem, para trabalhar no Brasil, como missionário da Igreja Presbiteriana.
Autorizado, viajou 54 dias até desembarcar na Baía da Guanabara, Rio de Janeiro. Aqui, difundiu a doutrina e arrebanhou, no processo de evangelização, seguidores. A passagem aconteceu há 150 anos, mais precisamente no mês de agosto e foi descrita por ele num livro que serviu de base para o roteiro de O Diário de Simonton, curta-metragem rodado na Fazenda Limoeiro da Concórdia, em Itu.
O filme faz parte das comemorações pela passagem do sesquicentenário da denominação religiosa no país e foi encomendado à dupla de diretores Jader Gudin e Joel Yamaji, este também responsável pelo roteiro.
Além desse empreendimento, está também para ser concluído um documentário alusivo à data. O projeto, conforme o pastor Márcio Roberto Alonso, gerente da produtora Luz Para o Caminho (LPC), o departamento que cuida da política de comunicação da igreja, consiste num resgate histórico não necessariamente voltado apenas aos fiéis.
A reportagem do Mais Cruzeiro esteve, quinta-feira, no set montado no casarão construído no século passado. O prédio foi escolhido por apresentar as características arquitetônicas de época procuradas pela produção.
A história do missionário, curiosamente, guarda estreita relação com a de Sorocaba. Para levar adiante o trabalho de criar os núcleos presbiterianos locais, Ashbel Simonton contou com a ajuda do brasileiro José Manoel da Conceição, que para cá se mudou aos dois anos de idade (leia mais na B5).
Em comum, os personagens tinham muitos conflitos existenciais, traço que o roteiro explora. As trajetórias de Simonton e Conceição têm quase que a mesma importância para a condução do enredo. Joel Yamaji gosta de trabalhar com perfis densos, complexos.
Tanto que, ao escrever, como assinala no material de divulgação distribuído à imprensa, procurou extrair temas universais. Na linguagem do filme busquei trazer um diálogo com referências nas histórias do cinema de Carl Dreyer (A Paixão de Joana DArc), Robert Bresson (O Batedor de Carteiras), Andrei Tarkovski (O Espelho),
Ingmar Bergman (Persona) e Pasolini (Édipo Rei). Estes autores cultivaram uma estética vinculada a questões de ordem existencial e espiritual do homem contemporâneo, e é essa alma que eu quero dar à produção.
O filme
Produção independente, O Diário de Simonton foi orçado em aproximadamente R$ 200 mil, receita levantada junto a apoiadores. Uma equipe de 60 pessoas trabalha para que o filme entre em circuito no segundo semestre.
No elenco, atores com passagens por minisséries de TV e filmes recentes como Guta Ruiz, Dionísio Neto e Sérgio Guizé, que vive o protagonista. Para levar à tela grande a história do missionário americano no formato de curta-metragem, Joel Yamaji recorreu ao que chama de poder de síntese.
Ele e o diretor Jader Gudin riem quando têm de explicar como fizeram para adaptar uma biografia tão rica em acontecimentos como a do personagem. É verdade que, se possível, o filme renderia um longa, mas não tivemos problemas em seguir outro padrão.
A história de Ashbel Simonton foi, mesmo, marcada por uma sequência de episódios intensos, vibrantes. Três anos depois da chegada ao Brasil, o missionário retornou aos Estados Unidos para relatar o andamento de seu trabalho e conheceu Helen Murdoch, com quem se casou.
Com a família, voltou ao país; porém, em 1863, perdeu a esposa, nove dias depois do nascimento da filha. Em seguida, conhece o brasileiro José Manoel da Conceição que passara a fazer parte da Igreja Presbiteriana.
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