Cristãos na Terra Santa entregaram um dossiê detalhando incidentes de violência e intimidação, feitos por extremistas islâmicos, aos líderes da igreja em Jerusalém, um dos quais disse que era hora dos cristãos "levantarem suas vozes" contra a violência sectária.
O dossiê incluiu 93 incidentes alegando abusos praticados por "uma máfia islâmica fundamentalista" contra cristãos palestinos, que acusam a Autoridade Palestina de não fazer nada para parar os ataques.
O dossiê também inclui uma lista de 140 casos de aparente roubo de terras, nos quais os cristãos na Orla Oeste foram, supostamente, forçados a sair de suas terras por gangues protegidas por oficiais de justiça corruptos.
Do local do nascimento de Cristo em Belém ao campo de sua crucificação em Jerusalém, os líderes de igrejas cristãs tem estado há muito tempo preocupadas em não desequilibrar a delicada balança étnica e sectária na região, através da culpa tanto a judeus ou a muçulmanos pelo declínio de sua comunidade religiosa que já fora robusta.
Esse silêncio auto-imposto agora parece estar desmoronando.
"O problema existe", disse o padre Pierbattista Pizzaballa, líder franciscano em Jerusalém, conhecido como o Guardião da Terra Santa. "A comunidade cristã sempre sofreu nos últimos anos porque nós somos uma minoria. Muitos têm a tentação de ir embora, então a comunidade está encolhendo".
Enquanto ele acentuava que "nós não estamos falando sobre um confronto com todos os muçulmanos", acrescentou que "nós não queremos ver violações da lei - às vezes temos que levantar nossas vozes".
Os supostos ataques aos cristãos acontecem apesar de repetidos apelos à Autoridade Palestina para frear as gangues muçulmanas.
Um porta-voz do representante apostólico, o enviado do papa a Jerusalém, disse que nada tem sido feito para conter o problema. "O representante apostólico apresentou uma lista de todos os problemas ao Sr. Yasser Arafat antes dele morrer", afirmou. "Ele prometeu muito, mas morreu muito antes".
Nos escritórios de sua minúscula estação de TV em Belém, Samir Qumsieh disse que os apelos dos cristãos ao sucessor de Arafat como presidente palestino, Mahmoud Abbas, também passaram desapercebidos.
"Pelo menos Arafat respondeu", disse ele. "Abbas nem respondeu nossas cartas".
Samir disse que estava tentando reparar as relações entre cristãos palestinos e as comunidades muçulmanas, marcando uma reunião para os membros de ambos os credos em Belém, na semana passada.
Mas ele disse que a comunidade cristã foi encarada por adversários "muito brutais". "Uma máfia criminosa e fundamentalistas islâmicos trabalham juntos", ele disse. "Seus interesses se encontram para tomar nossas terras". Ele disse que um homem perdeu o dedo em uma disputa por terra que se tornou violenta, e que um grupo havia atacado e ferido um monge ortodoxo grego em um monastério fora de Belém.
O dossiê, atualmente nas mãos da igreja, detalha declarações muito piores de violência, ressaltando a tortura e assassinato de duas meninas cristãs em 2003, depois de elas terem sido consideradas prostitutas. Um exame pós-morte provou que elas eram virgens.
Alguns cristãos notam que apropriações de terra à força são comuns na crescente ilegalidade da Orla Oeste e não são motivadas necessariamente por rivalidade sectária.
Eles acrescentam que a crescente infiltração do extremismo islâmico tem levado a uma separação entre as comunidades, especialmente em relação às roupas das mulheres e à liberdade de expressão.
Vários cristãos contam a história de um imame muçulmano moderado na maior mesquita de Belém, que foi repetidamente ameaçado depois de dar um sermão pedindo por um fim à discriminação anticristã e à apropriação de terras.
No fim de semana passado, a vila cristã de Taybeh foi saqueada e queimada por um bando muçulmano, irritados pelo fato de que um garoto de lá estava se encontrando com uma garota da aldeia vizinha de Deir Jarir.
"Eu sou pessimista sobre nosso futuro como cristãos aqui" disse Samir, acrescentando que os cristãos agora formam cerca de 2% da população da Terra Santa, caindo dos quase 20% há 60 anos atrás.
"Nós temos uma taxa baixa de nascimento, e agora com a intimidação e a emigração, nosso futuro é muito escuro", ele disse.
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