Uma igreja planeja celebrar a Missa de Natal em uma sala de aula próxima às ruínas do seu santuário, cujas paredes foram derrubadas ou manchadas de negro pela explosão de uma bomba dois meses atrás.
Uma outra igreja fechará os portões de acesso ao seu estacionamento para se prevenir contra um outro carro-bomba como aquele que matou vários fiéis no local em uma missa em agosto passado. De qualquer forma, não se acredita que muita gente comparecerá à cerimônia religiosa, já que os líderes das igrejas desencorajaram oficialmente as celebrações e transferiram a tradicional missa da meia-noite para a tarde.
Algumas poucas lojas exibem papais-noéis infláveis em suas portas, mas as vendas de árvores de Natal são poucas. As tradicionais visitas aos parentes serão substituídas por telefonemas e e-mails para entes queridos na Jordânia, Síria, Canadá e Estados Unidos.
Para os cristãos iraquianos, este será um Natal de medo.
Muita, muita gente está partindo, e outros estão se preparando para partir, diz Ablahad Peter, um ex-diretor de escola de segundo grau e membro da Igreja Caldéia de São Pedro e São Paulo, ao sul de Bagdá.
Peter, 60, é um dos poucos membros da sua família que ficaram no Iraque. Um filho adulto fugiu em meio aos perigos e ao caos que tomaram conta do país após a invasão norte-americana em março de 2003. Um outro partiu há dois meses, após o atentado a bomba de agosto contra a igreja. Uma irmã também fugiu da guerra. E uma outra irmã e um irmão deixaram o país há anos.
Eles se comunicam por telefone, e-mail e grupos de discussão pela Internet. Ele dá aulas na igreja, mas a maior parte das disciplinas foi cancelada após o ataque a bomba. São poucos os dispostos a se arriscarem em meio a uma multidão no local, ou a trazerem os filhos.
O número estimado de cristãos no Iraque é de algo entre 600 mil e um milhão, uma pequena fração da população do país, que é de 27 milhões de habitantes. Eles afirmam que fazem seus cultos aqui desde a época de Jesus, e que seus ancestrais remontam à Mesopotâmia. No decorrer do século 20, os cristãos tiveram influência no comércio e no governo.
Até recentemente, o Natal e o Ano Novo eram comemorados entusiasticamente no Iraque. Árvores de Natal eram vendidas nas ruas e papais-noéis de pano eram colocados nas vitrines das lojas. Beba Noel - o nome local para Papai-Noel - é uma figura familiar entre as crianças iraquianas. Os muçulmanos freqüentemente participam das festividades, comprando suas próprias árvores de Natal e celebrando com os cristãos em uma cidade que no passado tinha uma forte cultura festiva apoiada por restaurantes, hotéis e clubes sociais.
O natal de 2003 foi tenso. Cristãos foram seqüestrados por dinheiro, assassinados por cooperarem com as tropas dos Estados Unidos, e bombardeados em lojas de bebidas por fundamentalistas muçulmanos.
Na véspera do Ano Novo, vários cristãos foram mortos ou feridos em um ataque com um carro-bomba em um restaurante italiano cheio de pessoas que festejavam o feriado.
Mais recentemente, em 1º de agosto, cinco igrejas de Bagdá e uma na cidade de Mosul, no norte do país, foram alvos de bombas durante uma missa celebrada à tarde, que mataram 12 pessoas. Em 17 de outubro, cinco igrejas de Bagdá foram atingidas por bombas antes do alvorecer, quando a maior parte delas estava vazia.
Os cristãos, que freqüentemente contam com mais dinheiro e contatos ocidentais do que os seus vizinhos muçulmanos, emigraram em grandes levas do Iraque desde as sanções econômicas dos anos 90. Tanto cristãos quanto muçulmanos fugiram em grande número da criminalidade e do terrorismo que tomaram conta do país nos últimos 20 meses.
Um porta-voz do Ministério Iraquiano de Mudança de Domicílios disse que não há estatísticas relativas à emigração cristã. Mas Yonadam Kanna, membro do Conselho Nacional Iraquiano, apoiado pelos Estados Unidos, e líder de um partido político cristão, estima que 20 mil cristãos deixaram o Iraque e que talvez 50 mil trocaram Bagdá por áreas mais seguras no país. Outras estimativas sobre a fuga de cristãos são bem mais elevadas e parecem plausíveis. A maior parte dos cristãos é capaz de citar vários parentes que partiram.
No bairro que fica atrás da Igreja Católica Grega de São Jorge, que foi destruída por uma bomba em outubro, os moradores dizem que seis famílias cristãs se mudaram após o ataque.
Nabil Jameel, 40, tem dois irmãos que se mudaram para a Grécia após a invasão norte-americana e um outro que foi para a Síria após a igreja ter sido bombardeada, embora ele, como vários outros, diga que não quer deixar a sua terra para trás.
O meu irmão vendeu tudo e partiu, disse Jameel. Eu não seria capaz de viver fora do Iraque.
Os vendedores de árvores de Natal - geralmente muçulmanos - dizem que os negócios estão devagar em Bagdá neste ano. Nesta semana, em uma rua movimentada, sentia-se o cheiro de cem pinheiros recém-cortados que esperavam compradores, mas Sa"ad Isho Gaznakhi, 31, era o único que podia ser visto.
Ele disse que vários amigos optaram pelas árvores artificiais neste ano porque as naturais, que custam até US$ 10, são difíceis de esconder ao serem transportadas para casa. Gaznakhi, um eletricista, cancelou o ritual tradicional de trazer a mulher e o filho para escolherem a árvore e veio sozinho, Quando ele examinava a mercadoria, um policial em uma barreira de segurança a poucos metros disparou um tiro de advertência para o ar a fim de parar um táxi suspeito.
Ele disse que provavelmente não vai colocar a família em risco levando-a para visitar os parentes, como costumava fazer. Mas planejou comprar um presente para o filho e colocou uma árvore sobre o ombro a fim de levá-la para casa na sua bicicleta.
Se a minha mulher não gostar da árvore, terei de trazê-la de volta, afirmou, preparando-se para a perigosa jornada pelo trânsito da cidade.
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