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Cristãos iraquianos fogem para a Jordânia e Síria

Ameaças por escrito, seqüestros, explosões e assassinatos por extremistas muçulmanos estão levando milhares da minoria populacional cristão do Iraque para fora de sua terra natal, a procurar por segurança nas vizinhas Jordânia e Síria

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"Os cristãos estão experimentando uma ausência de liderança", explicou Hala Hikmat, um recém-chegado de Bagdá que se uniu aos milhares de conterrâneos na Síria. "Nós não temos líderes que comuniquem nossas necessidades urgentes às autoridades, então cada um tem que tomar conta de si mesmo". As necessidades urgentes, como expressou Hala, são proteção e sustentação da defesa dos cristãos.

Uma seqüência de explosão de igrejas em agosto e em setembro fez com que trinta mil a quarenta mil cristãos deixassem o país, de acordo com estimativas do governo iraquiano e oficiais de igrejas. E eles admitem que centenas de famílias dos 750 mil cristãos iraquianos estão saindo a cada semana.

A Alta Comissão das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) questiona esses números, dizendo que são muito altos. Mas os escritórios da ACNUR em Amman e Damasco, admitiram que é difícil saber exatamente quantos cristãos iraquianos estão atualmente na Jordânia e na Síria.

Das quatro mil famílias iraquianas oficialmente registradas como refugiados na agência em Damasco, mais da metade é cristã. Acredita-se que há um número maior de iraquianos na Síria porque é mais barato viver lá que na Jordânia. Cristãos iraquianos também disseram que eles têm laços culturais e espirituais mais fortes com a Síria. Autoridades sírias estimam que há cerca de trezentos mil iraquianos no país.

"O governo da Síria tem sido extremamente generoso aos iraquianos", explicou Abdelhamed El Ouali, chefe da ACNUR em Damasco. "Ele mantém as fronteiras abertas sem considerações políticas. E acredita que é um dever sagrado permitir que os iraquianos que precisam de segurança, fiquem o tempo necessário. Mas temo que, se o número continuar a crescer dramaticamente sem qualquer ajuda internacional, a situação aqui pode mudar", ele alertou.

Um membro da comunidade Católica Chaldean, que recusou dar seu nome por temer represálias contra membros da família, disse que ela vive perto de uma das igrejas bombardeadas em Bagdá, no fim de agosto. "Eu recebi uma carta me ameaçando. A carta também afirma que a igreja da qual faço parte também será explodida enquanto eu estiver dentro dela", ela disse, "a não ser que eu pague trezentas mil dólares. Nós somos pessoas pobres e não temos tanto dinheiro, então eu peguei meu esposo e meu filho e fugi para a Síria", ela disse.

As explosões sincronizadas de cinco igrejas no dia 1 de agosto e um carro-bomba na igreja de Bagdá, no dia 10 de setembro, geraram ondas de pavor na comunidade cristã. Oficiais iraquianos culpam a al-Qaeda e o terrorista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi pelos ataques.

Uma estudante universitária de Bagdá, em visita a Síria, disse que ela queria freqüentar a Igreja Chaldean de Sta.Teresa do Pequeno Jesus enquanto ela estiver em Damasco, porque agora há pouca oportunidade de cultuar em sua terra sem medo. "Nós não podemos ter cultos porque todas as igrejas estão ameaçadas de serem explodidas", ela disse. "Ninguém sabe o que vai acontecer agora".

A maioria dos cristãos iraquianos é católica do ramo oriental Chaldean, que é autônomo de Roma, mas reconhece a autoridade do Papa. Outras denominações cristãs no Iraque incluem católicos sírios e romanos, ortodoxos assírios, gregos, sírios e armênios, anglicanos e evangélicos.

Uma mulher batista de Bagdá, que também recusou a dar o seu nome, disse que ela usava um véu quando saía de casa simplesmente para se proteger e proteger seu filho. "Agora é muito arriscado sair nas ruas do Iraque sem um lenço em sua cabeça", ela disse. "Quando eu ousei fazer isso, as pessoas gritaram para mim, de dentro de um carro que passava, que eu deveria respeitar as tradições islâmicas em um país onde os muçulmanos são a maioria".

Mas a mulher disse que essa não foi a razão principal pela qual ela e sua família fugiram do Iraque. Seu marido é um professor universitário. Ela explicou que, porque ele é um cristão e um profissional da educação, era um duplo alvo para os militares. "Eles têm matado professores universitários. Eles querem livrar o Iraque dos intelectuais. Nós temos recebido ameaças e cartas dizendo que eles não fizeram cair sobre si mortes suficientes. Nós estamos assustados e decidimos partir".

Apesar do maior clérigo xiita muçulmano, Grande Aiatolá Ali al-Sistani, ter condenado os assaltos às igrejas como "crimes abomináveis", líderes muçulmanos recusam-se largamente a criticar os assassinatos dos cristãos que trabalham nas milícias dos EUA ou dos que vendem licor. Belos salões e lojas que vendem fitas cassetes, dirigidos por cristãos, também são visados porque são considerados ofensivos às estritas práticas muçulmanas.

O empresário cristão Sawa Eissa, disse que foi mais que ameaças o que forçou ele e sua família a sair de Bagdá e da fronteira com a Jordânia. Ele disse que militantes ligados ao renegado clérigo muçulmano xiita Moqtada al-Sadr, recentemente seqüestraram-no e torturaram-no até sua família pagar o dinheiro de resgate.

"Uma gangue veio à minha loja com metralhadoras e puseram-me em um carro, onde permaneci por nove dias", ele disse. "Eles queriam duzentos mil dólares de mim. Eles repetidamente me acertavam e derramavam água fervente sobre meu corpo. Fui mantido refém até minha família pagar cinqüenta mil dólares para eu finalmente ser libertado".

Sawa, que tem mais de 50 anos, agora anda com uma bengala e as marcas de queimaduras são visíveis em seu corpo. Disse que ele e sua família esperam encontrar refúgio permanente na Austrália, porque ele não consegue encontrar trabalho legal na Jordânia.

Um líder iraquiano da igreja, Noel Farman, disse que outros iraquianos também se tornaram vítimas da crescente violência e disputas militares entre os EUA e forças iraquianas. Mas, porque os cristãos estão em muito menor em número, ele argumentou, ataques contra eles tem um impacto desproporcional.
"Cristãos no Iraque estão se tornando, cada vez mais, uma minoria, e eles estão sendo sacrificados pela causa da guerra contra o terrorismo, que tem tomado lugar no campo de batalha do Iraque", ele disse. "Nós nos sentimos deprimidos porque somos considerados como uma 'carta de jogo', as quais podem ser manipuladas por forças externas, para os seus próprios objetivos".

"Nós, iraquianos de várias religiões e cenários étnicos, acostumamo-nos a viver juntos e a gozar de bons relacionamentos, mas agoras essas relações estão sendo explodidas", Noel explicou, sacudindo sua cabeça.

Espera-se que o número de cristãos no Iraque caia à medida que as hostilidades continuem no país, na linha em que tem declinado pelos últimos 15 anos. Antes da guerra de 2003, cristãos representavam um milhão dos 25 milhões dos habitantes do Iraque, enquanto que em 1987, o censo registrou seu número como sendo de 1,4 milhões.

Um bispo sírio ortodoxo, preferindo não ser nomeado, disse que ele teme que a população cristã do Iraque desapareça totalmente em uma década, se a emigração continuar no seu ritmo atual. Mas Noel estava mais esperançoso. Ele disse que a Igreja iraquiana era alegre e que poderia viver no subterrâneo se as circunstâncias piorassem.

Ainda nesses tempos problemáticos, há cristãos vigorosos, que estão escolhendo não deixar sua terra natal. Um pequeno grupo de cristãos pentecostais de Bagdá, que visitou Amman recentemente, noticiou que sua igreja está crescendo, apesar da pressão externa. Em outra instância, uma família retornou à capital do Iraque a fim de iniciar um estudo bíblico com uma mulher de uma igreja católica explodida em agosto.

Sem uma presença cristã forte no Iraque, ou sem candidatos que, nas futuras eleições, insistam em uma separação entre religião e estado, o país poderá se mover precariamente para se tornar uma teocracia, dominada por partidos islâmicos e clérigos. Cristãos iraquianos dizem que eles não querem deixar seu país, mas sem o necessitado reconhecimento e apoio de seus direitos, ficar lá está se tornando uma proposta difícil.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2004/10/noticia1416/


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