Um grupo de laosianos exilados, estabelecido na França, acusa líderes de uma remota vila no centro de Laos de procurarem expulsar cristãos que se recusam a negar sua fé. O Ministério do Exterior do Laos, entretanto, nega as acusações.
Em 18 de março, o Movimento Laosiano pelos Direitos Humanos acusou as autoridades da vila de Nakoon de encaminhar uma proposta de eliminar o cristianismo dessa área remota, acessível apenas por barco, depois de uma viagem de oito horas.
"Os cristãos de Nakoon estão se reunindo clandestinamente temendo ser presos", disse o movimento, citando testemunhas.
"Depois de saberem que as autoridades da província de Borikhamxay reconheceram o cristianismo na província em setembro de 2006, os cristãos de Nakoon abriram suas reuniões. Mas, um comitê do distrito de Borikan, formado por 13 pessoas, foi criado para impedir o avanço do cristianismo e também para eliminá-lo na vila de Nakoon", disse o Movimento.
Ordens de despejo
O comitê continha policiais, o responsável pelos assuntos religiosos, o chefe do subdistrito e o chefe do distrito de Nakoon. O comitê lançou uma campanha para obrigar os cristãos a negar sua fé, e os cristãos foram intimados em dez ocasiões diferentes.
Em 13 de março, os membros do comitê reuniram mais de 180 pessoas na tentativa de pressionar os cristãos a abandonarem sua religião. Quando os cristãos se recusaram, foram obrigados a deixar a vila. O comitê publicou uma ordem para deportar 46 pessoas de dez famílias.
Ministério do Exterior do Laos rejeitou essas alegações, dizendo que as tensões foram causadas por diferenças em práticas de agricultura e estilos de vida.
"Há um grupo de pessoas novas na vila", disse Yong Chanthalangsy, representante do Ministério, em uma entrevista.
"Essa minoria veio de outra região do país e se instalou na vila. Esse grupo tem uma religião diferente. Eles têm sua maneira própria de viver. Eles cultivam à base de derrubadas e queimadas, e cortam as árvores aleatoriamente. Então isso causou alguma tensão entre os recém-chegados e os que já moravam ali."
"O problema tem piorado recentemente. Ele não tem nada a ver com o governo e a lei. O governo interveio porque a situação aumentou", disse Yong.
Representante nega repressão
Yong disse que o governo formou um comitê de mediação que trabalhará para conciliar as diferenças entres os grupos.
"Nesse caso, quero enfatizar que não foram feitas prisões e nem há perseguição. Pelo contrário, o governo pediu às pessoas da área para se policiarem e não causarem problemas. Eles têm de conviver pacificamente."
Questionado sobre a ordem de deportação, Yong disse: "Quanto a isso, quero que você saiba que é uma questão local. É normal. Às vezes, surgem desentendimentos porque as formas de se viver não são as mesmas, os métodos de cultivo ou de pesca não são os mesmos. Então, às vezes há violência".
Yong continua: "Há insatisfação entre as pessoas. Isso é normal no meio de todos os grupos de pessoas. Nesse caso, entretanto, até hoje ninguém foi expulso da vila".
À pergunta de existirem cristãos pressionados a negar sua fé, Yong respondeu que, para ele, isso é algo criado por pessoas más que querem criar confusão. "Quando ouço essas coisas, sei que há pessoas com más intenções porque as autoridades nunca reprimem as pessoas, pois há uma lei que garante liberdade religiosa. O primeiro ministro emitiu um decreto assegurando liberdade de fé. Se você for ver, há muitos católicos vivendo ao longo da Rota 13", referindo-se a uma das maiores rodovias nacionais. "Eles vivem ali há gerações, sem perseguição.".
Para estudiosos, o progresso estacionou
Scott Flipse, diretor dos Assuntos do Pacífico-Sudeste Asiático da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos, disse que o progresso em direção a uma maior liberdade religiosa no Laos parece ter estagnado.
"Temos visto que no que concerne à liberdade religiosa - em particular um ano antes de o país receber o status de normalização das relações comerciais normais e permanentes com os EUA - melhorou de maneira enorme. A Comissão acha que esse progresso estagnou e que tem havido até um regresso, em especial nas áreas rurais", disse Scott.
Segundo ele, algumas autoridades do governo central, em particular a da Frente Laosiana para a Construção Nacional, que vistoria a religião, tentaram intervir quando protestantes ou outras minorias étnicas foram presas nas áreas rurais, e também tentaram fazer algum tipo de treinamento com o governo local.
"Mas novamente, no Laos a descentralização da estrutura do governo não impede que o governo central imponha restrições aos líderes rurais. E então há tensões étnicas, há restos de tensões da guerra, e há agora tensão religiosa que estoura em abusos, tanto de direitos humanos como de liberdade religiosa. E essas coisas continuam a acontecer."
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