No mês passado, o cristão somali Mohamud Muridi Saidi fugiu do campo de refugiados próximo à fronteira do Quênia com o Sudão após ter sido ameaçado de morte por muçulmanos.
Para Mohamud, pai de quatro filhos, a recente transferência de 13 mil refugiados do campo de Dadaab, próximo à fronteira somali, para o campo de Kakuma, onde tinha vivido desde 2002, foi, por si só, um pesadelo: a chegada de muçulmanos da baixa região de Juba, Somália, que conheciam as atividades cristãs de seu pai no vilarejo em que morava.
Após muçulmanos terem apedrejado a casa de chapas de ferro de Mohamud, no campo de refugiados de Kakuma, uma vez em meados de outubro e as outras em 17, 21 e 22 de novembro, espalhou-se a informação que eles intencionavam matá-lo. Assistentes sociais de um grupo da Federação Mundial Luterana (LWF) confirmou a ameaça de morte.
“Eu sei que os agressores são os muçulmanos que nos forçaram a sair da Somália em 2002”, disse Mohamud à agência de notícias Compass Direct News, em Nairobi, acrescentando que não pudera trazer sua família consigo quando fugiu em 23 de novembro. “Eles não estão seguros e por isso deveríamos sair de Kakuma o mais rápido possível.”
Mohamud relatou os ataques ao grupo da LWF bem como à polícia em Kakuma. Os assistentes sociais da LWF confirmaram que o apedrejamento de sua casa havia escalado à ameaça de assassinato.
“Mohamud tem questões relacionadas à segurança estimuladas pelos novos refugiados de Dadaab”, disse, no mês passado, um funcionário da LWF que pediu anonimato por razões de segurança. “Eu fiz uma investigação e descobri que sua vida está ameaçada.”
Em uma das ocasiões em que sua casa foi apedrejada, enquanto sua família dormia,
Mohamud ligou uma lanterna e os vizinhos se levantaram, assustando os agressores.
Ele e sua família haviam gozado de certa tranquilidade desde que fugiram do violento conflito na Somália, mas isso cessou com a transferência dos muçulmanos somalis do campo de refugiados de Dadaab para Kakuma em agosto. O alto comissário para refugiados das Nações Unidas transferiu os refugiados para aliviar o congestionamento dos campos superlotados de Dadaab: Ifo, Hagadera e Dagahaley, onde quase 300 mil somalis haviam chegado em locais projetados para abrigar somente 90 mil refugiados.
O influxo dos refugiados do campo de Dadaab, a mais de mil quilômetros de distância, veio com a rápida disseminação da informação de que Mohamud e sua família pudessem ser cristãos, uma vez que seu pai era um cristão bem conhecido enquanto vivia na Somália. A família de Mohamud, um grupo banto somali, de Marere, Baixa Juba, deixou essa cidade em 2002, quando muçulmanos austeros tentaram matá-los após descobrirem que eram seguidores de Cristo.
O falecido pai de Mohamud tinha coordenado atividades para uma instituição de caridade cristã na Baixa Juba. Desde sua morte, em 2005, Mohamud tem trabalhado como tradutor para uma ONG, tornando-se, assim, conhecido dos somalis recém-chegados de Dadaab.
Devido aos perigos, Mohamud foi forçado a abandonar seu trabalho por medo de se expor a outros muçulmanos que conhecessem seu pai. Ele é o único arrimo de sua família, incluindo sua mãe de 55 anos, sua esposa e quatro filhos.
“Não é mais seguro para nós continuarmos morando em Kakuma. Temos de nos mudar, possivelmente para Nairobi”, disse ele.
Como solução temporária, Mohamud disse que espera trabalhar como tradutor freelance, para o qual ele precisaria de um computador, uma impressora, uma fotocopiadora e um laminador.
“Esta seria uma medida de caráter temporário. Um asilo para minha família seria uma solução permanente”, disse ele.
A despeito da transferência de refugiados de Dadaab, a superlotação não foi aliviada devido ao influxo de pessoas recém-desabrigadas que estão fugindo da luta no sul da Somália. No início deste mês, a milícia islâmica radica al Shabaab retomou três cidades-chaves, incluindo a cidade de Dobhley, na província da Baixa Juba, ao longo da fronteira da Somália com o Quênia. Eles retomaram o controle dos militantes mais moderados Isbul-Islam. Ambos os grupos tentam derrubar o governo federal de transição, apoiado pelo Ocidente, do presidente Sheik Sharif Sheik Ahmed, em Mogadíscio.
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