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Cristão perseguido recebe prêmio internacional

Um cristão paquistanês ganhou o Prêmio Estêvão de Perseguição Religiosa depois de passar oito anos na prisão sob contestáveis acusações de que teria danificado um cartaz contendo versos do Alcorão.

A Sociedade Internacional para os Direitos Humanos (IGFM) condecorou Ranjha Masih, que ainda cumpre a pena de prisão perpétua, com o recém-criado Prêmio Estêvão, em reconhecimento à sua "fidelidade em manter a fé cristã".

Ranjha não pôde receber o prêmio pessoalmente na conferência anual da IGFM em Frankfurt, Alemanha, em 6 de maio.

O ganhador do prêmio permanece atrás das grades, a milhares de quilômetros, na Cadeia Central de Faisalabad, aparentemente esquecido pelo sistema legal paquistanês. Três anos depois de apelar para a Suprema Corte, o cristão ainda não conseguiu uma audiência.

Esperança de absolvição

A IGFM espera que o prêmio, que inclui 500 euros (629 dólares), "fortaleça o estado de espírito de Ranjha e sua família, ajudando-os financeiramente e influenciando seu destino através de uma importante publicidade".

O diretor da IGFM Karl Hafen passou o prêmio de Ranjha a Wasim Muntizar, do Centro para Assentamento e Ajuda Legal (CLAAS, sigla em inglês), para que fosse posteriormente entregue à família do cristão. Os advogados da CLAAS têm insistido no apelo de Ranjha desde que a Corte Distrital o sentenciou à prisão perpétua em abril de 2003.

Os advogados da CLAAS disseram ao Compass que conseguiram uma audiência na Suprema Corte para o final deste ano. "Esperamos em Deus que ele seja absolvido", comentou um advogado encarregado do caso.

Ranjha Masih, de 58 anos, sofre de artrite e problemas vasculares e, às vezes, tem dificuldade de andar, devido ao inchaço nos joelhos.  Mas o cristão permanece "de bom humor", informou o advogado de Ranjhan em Faisalabad, Khalil Tahir Sindhu, depois de uma visita ao prisioneiro no mês passado.

Muitos cristãos paquistaneses acreditam que o caso de Ranjhan tenha sido esquecido.

"Por favor, ore por Ranjha Masih", suplicou o bispo de Faisalabad, Joseph Coutts. "Ele está esquecido na prisão há anos".

Ranjha foi preso sob acusações de blasfêmia em maio de 1998, por ter supostamente rasgado um cartaz islâmico durante o cortejo fúnebre do antigo bispo de Faisalabad, John Joseph. Ironicamente, o bispo John Joseph suicidou-se em frente à corte de Faisalabad em protesto contra as cruéis leis de blasfêmia paquistanesas.

Ranjha negou ter danificado o cartaz e a polícia testemunhou na corte que a peça com referência a Maomé como o profeta do islã estava em perfeita condição, contou o advogado Khalil Sindhu. Entretanto, a Corte Distrital sentenciou Ranjha à prisão perpétua em abril de 2003.

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Ameaças de extremistas

As leis de blasfêmia paquistanesas estipulam a prisão perpétua por difamação do Alcorão e pena de morte por blasfêmia contra Maomé. Nenhum condenado por blasfêmia foi executado desde que a lei entrou em vigor, em 1986, mas as execuções extrajudiciais de presos por blasfêmia são comuns.

As organizações de direitos humanos alegam que a lei de blasfêmia atinge, de forma desproporcional, os cristãos e membros de outras minorias religiosas.

Pelo menos 23 pessoas envolvidas em casos de blasfêmia foram assassinadas no Paquistão, de acordo com a Comissão Nacional para Justiça e Paz. Entre as vítimas, 25% eram cristãs, embora os cristãos constituam menos de 2% da população do país.

Ranjha Masih, sua esposa e os seis filhos podem enfrentar grande perigo se ele for absolvido.

"Caso Ranjha seja libertado, teme-se que, como outros prisioneiros cristãos absolvidos de blasfêmia, ele seja obrigado a viver escondido ou tenha de abandonar o país", disse um representante da IGFM. "A ameaça dos extremistas islâmicos e auto-proclamados guardiões da sharia se torna muito grande."

Absolvidos das acusações de blasfêmia no mês passado, depois de passar oito anos na cadeia, os dois irmãos cristãos Amjad e Asif  Masih têm sido forçados e viver em um esconderijo, por causa das ameaças de radicais muçulmanos.

A maioria das acusações de blasfêmia no Paquistão pesa sobre os muçulmanos. Em incidentes separados, dois muçulmanos da província de Punjab foram mortos em 15 e 16 de junho por seu envolvimento em casos de blasfêmia.

Uma multidão enfurecida em Hasilpur assassinou o professor Mohammad Sadiq quando ele tentava salvar um líder muçulmano a quem a multidão estava torturando sob acusações de blasfêmia. No dia seguinte, o suspeito de blasfêmia Abdul Sattar foi esfaqueado em Muzaffargarh, no caminho para a Corte, sob custódia da polícia.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2006/06/noticia2754/


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