Um mês depois de ordenar a prisão de Issa Motamedi Mojdehi, um ex-muçulmano convertido ao cristianismo, as autoridades da corte da cidade de Rasht decidiram soltá-lo, declarando-o "livre por enquanto".
Issa Mojdehi foi solto sob fiança em 24 de agosto, mediante garantia por escrito de um amigo cristão, que assinou um documento junto à corte para obter a libertação do prisioneiro.
Embora as acusações iniciais de envolvimento com drogas, que foram o pretexto para a prisão de Issa Mojdehi, permaneçam na ficha legal, o júri introduziu novas acusações contra ele na audiência de 24 de agosto.
De acordo com "testemunhos confidenciais" anônimos, segundo o juiz, Marta, a filha de 8 anos de Issa Mojdehi, teria sido treinada para levar outras crianças à fé cristã.
Ainda que a liberdade religiosa seja garantida pelo Artigo 23 da Constituição do Irã, na prática, o regime teocrático proíbe estritamente converter muçulmanos e põe sob sua mira qualquer cidadão que tenha abandonado o islã.
Pressão psicológica
Quando foi preso em 24 de julho, Issa Mojdehi foi avisado de que tinha de renunciar ao cristianismo ou enfrentaria anos na cadeia e uma possível execução por apostasia. Sob o sistema judicial iraniano, baseado na lei islâmica sharia, qualquer um que troque o islã por outra religião comete uma ofensa capital.
Em meados de agosto, o cristão preso foi chamado de sua cela da Prisão Lakan pelos oficiais locais, que teriam tentado, durante dias, forçá-lo a confessar seu envolvimento com o tráfico de drogas.
Sob forte pressão psicológica, incluindo ameaças de morte a sua família e a outros cristãos, Issa Mojdehi foi interrogado por agentes do serviço secreto e por um professor de teologia islâmica, que o encorajou a negar sua fé em Cristo e voltar ao islã.
Como ele se recusou, os oficiais o levaram de volta à prisão, onde um advogado que foi requisitado para representá-lo teve permissão para se reunir com ele por duas horas, em 23 de agosto. No dia seguinte, as autoridades intimaram Issa para comparecer à corte e o libertaram.
Depois de se juntar a sua esposa, Parvah, e a seus dois filhos, Issa Mojdehi se mudou para um local desconhecido. Ele, que agora tem 31 anos, se converteu ao cristianismo há sete anos.
"Ore por mim, para que eu seja fortalecido na minha fé", ele pediu aos cristãos locais, declarando que a calma e a proteção que Deus deu a ele durante as semanas na prisão foram milagrosas.
Perseguição nacional
Dez dias antes de Issa Mojdehi ser libertado, a polícia de Rasht fechou o comércio de um outro membro de sua igreja. Embora esse irmão não tenha sido preso, um oficial disse a ele: "Não tente encontrar um meio de abrir a loja outra vez. Isso seria inútil".
Privar os convertidos ao cristianismo de seus meios de sustento é a maneira de o governo "tentar asfixiar a igreja", disse ao Compass uma fonte iraniana. "Muitos irmãos perderam seus empregos depois da intervenção da polícia de segurança. O objetivo dos oficiais é forçar os cristãos a deixarem o Irã para sempre", acrescentou esse contato.
"Estamos tirando seu trabalho", disse um oficial da polícia de segurança de Rasht a um cristão ex-muçulmano no começo deste ano. "É melhor você sair do país".
Oficiais do governo também apóiam várias denominações cristãs a se opor e a denunciar umas às outras, prometendo que a polícia não irá importuná-los se eles desacreditarem outras igrejas, afirmou um cristão iraniano.
Em pelo menos cinco outros incidentes nos últimos meses, a polícia iraniana importunou e maltratou ex-muçulmanos convertidos ao cristianismo, alguns dos quais fugiram de suas cidades para tentar viver mais discretamente em cidades maiores.
De acordo com um relatório, divulgado em 19 de agosto, do Preocupação com o Oriente Médio (MEC, sigla em inglês), uma associação de defesa dos direitos legais das comunidades cristãs da região, os líderes de duas comunidades domésticas foram presos por 20 dias e depois libertados sob fiança.
"Outro cristão foi agredido em um parque e depois foi detido por alguns dias por supostamente bater em seus agressores", relatou o MEC.
Um casal cristão perseguido pela polícia fugiu de sua cidade, no norte do país, escapando antes que oficiais chegassem para prendê-lo.
Ao mesmo tempo, em uma cidade do sul, a polícia bateu em duas jovens mulheres em suas casas, prendendo uma delas por vários dias. Depois de sua libertação, a polícia começou a telefonar todos os dias, ameaçando de prendê-la novamente assim como a seu irmão e seus pais.
Ativista confirma perseguição
Em uma entrevista de televisão nos Estados Unidos, o dissidente iraniano Akbar Ganji listou as minorias religiosas do Irã entre os muitos grupos dentro da sociedade iraniana privados de seus direitos humanos básicos.
Depois de seis anos na conhecida Prisão Evin, em Teerã, como o mais famoso prisioneiro de consciência, Akbar Ganji foi libertado em março passado.
"Há muitas pessoas presas no Irã, mas seus nomes são desconhecidos, mesmo para o povo de dentro do país", declarou Akbar Ganji ao programa de TV "Democracy Now", na última quarta-feira (30 de agosto).
Esses prisioneiros são mantidos em confinamento solitário, sem base legal, sem acesso a livros, jornais ou telefone. Eles não têm representantes legais e são privados de encontrar-se com seus familiares, contou o ex-prisioneiro de consciência.
"Eles estão sob pressão para confessar sob acusações de espionagem", disse Akbar Ganji. "Eles são levados em frente a uma câmera, do mesmo modo que Stalin costumava fazer, e são forçados a confessar. E eles são condenados à prisão, sentenciados e recebem sentenças baseadas nesses shows televisivos".
Entre os grupos religiosos sujeitos à opressão patrocinada pelo Estado no Irã estão os baha'is, os cristãos assírios, os católicos, os anglicanos, os armênios, os evangélicos, os mandeístias, os judeus e os zoroastristas.
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