Milhares de crianças foram forçadas a deixar suas escolas à medida que uma nova forma de segregação nasce da rebelião ao sul do México, através dos conflitos em comunidades indígenas, contrapondo católicos a protestantes e tradicionalistas à oposição política.
Yoriko Yasukawa, uma representante da UNICEF no México, estima que 184 mil crianças no estado de Chiapas deixaram a escola - muitas delas por causa de um desacordo político ou religioso.
The Associated Press recentemente visitou uma meia dúzia de cidades predominantemente católicas onde crianças protestantes foram expulsas das escolas: oficiais do estado recusaram-se a dizer quantas crianças protestantes receberam tal tratamento.
As expulsões vão além do atrito religioso - elas, às vezes, envolvem princípios, ou até discussões, a respeito da educação bilíngüe. E, freqüentemente, o governo tenta criar classes alternativas para as crianças expulsas por causa da fé de seus pais. Mas algumas delas são deixadas em classes improvisadas, de segundo nível - ou, enfim, sem escola.
A maior parte das escolas bem equipadas permanece nas mãos dos católicos "tradicionais", assim chamados porque praticam um misto de ritos católicos e indígenas, os quais exigem que membros da comunidade tomem lugar nos ritos e apóiem o velho partido governante do México.
Os que são expulsos são chamados de "evangélicos", um termo aplicado a ambos: protestantes e qualquer um que apóie um partido político diferente.
Em um incidente em 19 de agosto de 2002, a maioria católica, armada com facões, pedras e armas, concentrou-se do lado de fora da escola no pequeno vilarejo de Tzejaltetic a fim de evitar a matrícula de crianças "evangélicas" naquele ano letivo.
Os pais falaram ao diretor Alejandro Ruiz para não resistir às expulsões e para ausentar-se por um pouco, o que ele fez.
"Nós o respeitamos, Maestro, mas isso pode ficar perigoso", lembra Ruiz de lhe terem dito.
Quando os pais da minoria apareceram, exigindo o seu direito de matrícula em escolas públicas, uma luta aconteceu, na qual várias pessoas foram feridas.
"O ideal seria que todas as crianças estudassem juntas", diz Ruiz. "Mas proibiram-me de aceitar quaisquer matrículas de crianças evangélicas. Eles estão de olho em mim".
Uma cerca de correntes foi erigida em torno da escola em Tzejaltetic e um policial estadual, armado, faz guarda no pátio da escola para prevenir possíveis violências.
Os quarenta alunos que foram proibidos de entrar perderam o ano letivo de 2002. Em 2003 eles fizeram uso de uma classe improvisada em uma casa, e esse ano os pais dessa minoria dedicaram-se intensamente na construção de um galpão para servir de escola.
No barulhento prédio de uma única sala, a professora Virginia Santiago ensina alunos da 1ª a 5ª série que saibam o alfabeto e a fonética do espanhol.
"No próximo ano eu devo receber dezenove novas crianças. O número subirá para 61 alunos", diz Santiago, apontando para o prédio escolar de 21 metros quadrados. "Eu simplesmente não poderei tomar conta de todos eles. Nós não poderemos nos ajustar".
Manuel Mendez, de 12 anos, ainda está na 1ª série por causa das expulsões e da presença esporádica. Como seus colegas de classe, ele tem um grande desejo por uma educação até o ensino fundamental - o ponto em que a maioria das crianças Tzotil chegam.
"Eu quero ser um professor", Manuel diz, "então eu vou poder ensinar meu pai e minha mãe a ler".
Uns poucos professores mantiveram-se resistentes às expulsões, pelo menos até agora.
"Alguns da comunidade querem dividir a escola, tirar algumas das crianças, mas nós lhes dissemos: 'Este problema não tem nada a ver com as crianças'", disse a professora do terceiro ano, Maria do Socorro Hernandez de Gomez, descrevendo uma tensa reunião com os pais na cidade indígena de Mitziton, perto de Tzejaltetic, alguns meses atrás.
Ela os convenceu a não expulsar nenhuma criança, mas diz não estar certa de até quando a situação vai durar.
Algumas comunidades parecem ter-se dividido quanto à educação bilíngüe. Muitos católicos preferem-na porque dizem que as crianças entendem melhor quando algo é explicado em sua língua nativa tzoztil.
Muitas famílias protestantes, entretanto, trabalham em cidades não-indígenas como operários de construção ou vendedores itinerantes e, portanto, preferem a educação apenas em espanhol.
No vilarejo de Nichen, o governo estadual construiu duas classes de alvenaria para acomodar as crianças da minoria protestante, não permitidas de freqüentar as escolas bilíngües bem-equipadas, de maioria católica, do outro lado da rua.
E ainda outras escolas em Chiapas são dirigidas pelos rebeldes zapatistas esquerdistas.
"Aqui nós ensinamos através da leitura e educamos por meio da produção", lê-se no slogan pintado em uma escola de ensino fundamental zapatista, situada na cidade de Oventic, dominada por rebeldes, onde parte do tempo das aulas concentra-se em fazenda e educação técnica. Mas as escolas zapatistas quase nunca parecem estar funcionando, e os rebeldes não permitem a vista de repórteres lá.
Um dos poucos exemplos de integração em Chiapas é uma pequena escola particular que não é nem reconhecida pelo governo.
Ela foi organizada há cinco anos atrás pelos 500 - uma forte comunidade muçulmana em San Cristobal de las Casas - que a mantém como um exemplo de tolerância e diversidade, mesmo esforçando-se para obterem o certificado oficial.
Nas casas onde as escolas muçulmanas ministram aulas, quarenta crianças sentam ou ajoelham-se no chão e entoam versos melódicos do Alcorão em árabe. Junto a elas sentam-se indígenas tzotzil, mestiços e crianças espanholas loiras. Elas também aprendem um pouco de inglês.
"Nossa escola é multiétinica e multi-lingüística", diz Aureliano Perez, o cabeça da Comunidade Islâmica de Chiapas. "Isso aborrece algumas pessoas aqui".
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