O Instituto Adventista Brasil Central é acusado de homofobia por expulsar uma ex-aluna em 2010 que estava namorando uma colega.
O
CEE (Conselho Estadual de Educação) de Goiás vai abrir um processo
administrativo contra o Instituto Adventista Brasil Central, que está
sendo acusado de homofobia por uma ex-aluna — ela diz que foi expulsa em
2010 porque estava namorando uma colega.
A direção da escola
negou que sua decisão foi preconceituosa e disse que a expulsão de
Arianne Pacheco Rodrigues, 19, e de sua namorada ocorreu porque as duas
tiveram “intimidade sexual” (contato físico). A estudante disse que é
mentira de Weslei Zukowski (foto), o diretor da escola e pastor.
Independentemente
do que de fato tenha ocorrido, a situação da escola é complicada porque
a legislação proíbe a expulsão de estudante, seja de estabelecimento
público ou privado, exceto no caso em que houver uma condenação que
exige prisão. O conselho vai processá-la por isso.
A conselheira
Maria do Rosário Cassimiro disse que a escola foi prepotente e
arbitrária porque não deu o direito de defesa às estudantes. “A expulsão
não é permitida”, disse. “Se no regimento da escola está escrito que é
possível haver expulsão, então esse regimento está contra a
Constituição”.
O presidente da Ordem do Advogados do Brasil,
seção Goiás (OAB-GO), Henrique Tibúrcio, afirmou que o caso do Instituto
Adventista Brasil Central (IABC) de Abadiânia, que expulsou duas alunas
que mantinham um namoro homossexual, é emblemático e deve servir de
exemplo para as demais instituições de ensino. “Qualquer escola, ainda
que tenha as próprias regras, mais rígidas ou menos rígidas, precisa
compreender que o Ministério da Educação, a Constituição e as leis do
país se sobrepõem a essas regras. E todas elas combatem esse tipo de
discriminação, que eventualmente, pode acontecer em qualquer escola”,
enfatiza Tibúrcio.
No entendimento de Henrique Tibúrcio, as
escolas devem ficar atentas à forma como conduzem questões ligadas à
sexualidade. “É preciso entender também, que independente da orientação
sexual das pessoas, se tratam de pessoas. E por serem pessoas, merecem
um tratamento idêntico ao que as outras recebem”, observa.
Em uma
reportagem exibida no Fantástico de domingo (3), a estudante Arianne
Pacheco Rodrigues, 19 anos, conta porque entrou com uma ação na Justiça
contra o Instituto Adventista Brasil Central (IABC), um colégio interno
em Planalmira, distrito de Abadiânia, no interior de Goiás. Expulsa da
escola, a jovem alega ter sido vítima de homofobia.
O fato
aconteceu em novembro de 2010. A diretoria da escola havia descoberto um
romance entre duas garotas e, após reunião com a comissão disciplinar,
os pastores e professores que analisaram cartas de amor trocadas entre
as meninas decidiram que elas deveriam ser expulsas imediatamente.
Traumatizada, a jovem entrou com um processo contra a escola logo em seguida, pedindo R$ 50 mil de indenização por danos morais. A primeira audiência só aconteceu há duas semanas. “O objetivo do processo é evitar que outras pessoas sejam vítimas de um comportamento tão monstruoso, tão bárbaro, próprio da idade média, da inquisição”, afirma Marilda Pacheco, mãe de Arianne.
Tortura psicológica
Ariane hoje mora com a mãe em Orlando, nos Estados Unidos. A reportagem do Fantástico foi à cidade, onde conversou com as duas. Marilda diz que a filha foi vítima de homofobia e torturada psicologicamente. “Essa Arianne que você vê hoje aqui é totalmente diferente. Minha filha chegou aqui, que mal conversava, parecia um bichinho acuado, se achando o pior dos seres”, conta Marilda.
Quase sempre de cabeça baixa, a menina desabafa: “Não tive chance de falar. Eu pedi só para eles uma chance, só que eles falaram que não dava, porque eles não aceitavam aquilo no colégio, namorar outra menina”.
Arianne conta que ficou sabendo da decisão da diretoria pouco antes de entrar na sala de aula: “Eu fui segunda-feira para aula, e o pastor pegou no meu braço e disse que eu iria embora naquele momento. Eu pedi para me despedir dos meus amigos e ele falou que não. Já era para arrumar as malas. E eu fui arrumar as malas”.
De lá, Arianne foi levada para casa de um tio, Mauro Miranda. Ele conta que a estudante estava tão nervosa que passou mal, a ponto de ir ao pronto-socorro: “Quem viu aquela menina como ela chegou, chorando, um trapo humano. Teve que internar. A gente mora no quinto andar. Ela ia para a sacada e eu ficava vigiando”.
“Discriminação é uma coisa ruim e pode acabar muito com uma pessoa só por uma pessoa falar algumas coisas. Não precisa nem fazer, só falar”, ressalta a jovem.
Arianne perdeu contato com a maioria dos ex-colegas de escola e nunca mais viu a ex-namorada. Ela revela que está com dificuldades em se adaptar à vida nos Estados Unidos, mas, para o Brasil, não deve voltar tão cedo: “Eu não gosto de morar aqui, mas é bom um lugar diferente eu não preciso ficar lembrando as coisas do passado”.
Regra da escola
Procurada pelo Fantástico, a escola negou as acusações de homofobia e alega que a jovem foi expulsa porque manteve relações sexuais com a namorada. “A verdade é que ela infringiu uma regra clara da escola e, por isso, recebeu a sanção do afastamento, a questão da intimidade sexual. O afastamento do aluno independente se é um relacionamento homossexual ou heterossexual. Ele recebe a mesma consequência”, afirma o diretor da instituição, Wesley Zukowski.
O colégio considera como faltas graves o uso de droga, armas e o ato sexual. A punição é o desligamento imediato do aluno. “A informação chegou por meio das amigas. Ouviram os comentários sobre o que elas tinham feito”, declara o diretor.
Mas Arianne nega que tenha feito sexo com a namorada. Ela mostra na ata da reunião da escola a prova do que, para ela, foi o verdadeiro motivo de sua expulsão. Lá consta a frase "postura homossexual reincidente".
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