“Quem sou eu? Que lugar é este?” Murmurou Nussrat* enquanto olhava vagamente ao seu redor. Através dos olhos sedados e pupilas fortemente dilatadas, tentou reconhecer as instalações hospitalares ao seu redor. Seus olhos estavam cheios d’agua, mas nem uma lágrima foi além de suas pálpebras. Perguntou o que estava acontecendo. Em seguida, teve um súbito lapso de memória e convulsionou terrivelmente até que a enfermeira apressou-se e a segurou, impedindo-a de se ferir.
Nussrat é uma das centenas de cristãos que se reuniu no dia 22 de setembro, em uma igreja de Peshawar, para o culto matinal. Perto do final da manhã, quando os fiéis esperavam as crianças no pátio da igreja, duas explosões destruíram o complexo.
Naquele momento, dúzias de pessoas foram vítimas, enquanto dois homens explodiam a si mesmos e com suas gargantas feridas gritavam “Allah Akbar!” (“Ala é grande!”). Num instante, rolamentos de esferas, pregos e outros fragmentos com uma força cortante voaram destruindo tudo o que estava em seu caminho. Na contagem final, mais de 120 pessoas foram mortas. O impacto foi tão grande que a maioria dos mortos não pôde ser identificada.
A poucos passos de distância da recente carnificina, um homem estava em pé. Com uma cruz ao redor de seu pescoço, olhava fixamente para o chão. Com os ombros caídos, o bispo observava dois homens limparem os destroços, pedaços de vidro e tijolos que caíram do topo da cúpula da igreja. Ele observava tudo através dos olhos de um pai em luto, bem como olhos que agora devem estar alertas, para oferecer o melhor apoio, cuidado e defesa possível ao rebanho que lhe foi dado para pastorear. Passou pelos dois homens com vassouras e mangueira no chão. “Este é o lugar onde o suicida parou e detonou sua bomba”, disse ele, com lágrimas descendo pelo rosto.
Mas as lágrimas de luto de cada cristão lavarão as lembranças daqueles que sobreviveram, deixados com cicatrizes físicas e emocionais deste ato de terrorismo?
“Para cada dia, o bispo aprendeu que existem perigos”, disse outro pastor que trabalha junto com os parceiros do ministério de liderança da Portas Abertas”, providenciando imediatamente cuidados extensivos para as pessoas afetadas pelo bombardeio. “Aqui , na fronteira com o Afeganistão, onde os recém-eleitos simpatizantes dos talibãs estão no poder, tem havido uma crescente mostra de hostilidade contra os cristãos.”
Na verdade, ele continuou, “uma carta foi enviada pelo Talibã reivindicando a responsabilidade pelo atentado, dizendo que foi organizado e executado para que os cristãos saibam que não são bem-vindos ao Paquistão”.
Na terça-feira após o ataque, o pastor Gill e um amigo cristão visitaram os feridos no hospital, onde eles encontraram Nussrat. Várias vezes ao dia, o corpo inerte de Nussrat foi de completa inatividade a agressivas contorções em sua cama. Ela tinha poucas lembranças do que aconteceu. Outros pacientes no hospital gentilmente ofereceram-lhe um pouco do que suas famílias trouxeram de suas casas. Nussrat não viu ninguém de sua família entre os rostos que a observavam.
O pastor Gill se preocupou se Nussrat imaginava que toda sua família poderia estar entre os mortos no ataque. “Espero conseguir encontrar algum parente que possa vir visitá-la e nos ajude a contar-lhe sobre sua família”, disse ele. “É importante para ela ao lidar com o estresse pós-traumático: reconhecer um membro da família que lhe dê esta notícia”.
Seis meses após o cruel ataque de Peshawar, que foi o mais mortal aos cristãos paquistaneses nas últimas décadas, as equipes de igrejas parceiras da Portas Abertas continuam a trabalhar e ministrar entre as famílias, cujos entes queridos foram mortos ou mutilados por toda a vida, providenciando assistência médica, bem como contínuo aconselhamento para o trauma.
“Lembramos a estes irmãos que sofrem que eles são parte de nossa família em Cristo, e são amados em oração, apoiados ao redor do mundo”, disse um dos conselheiros da equipe. “Somos parte de um corpo, uma família eterna e quando nós sofremos, todo o corpo sofre com a gente. Ore para que nós possamos confortá-los de que, verdadeiramente, eles não estão sozinhos. Peça ao Senhor que nos dê palavra para falar-lhes sobre o seu isolamento, medo e desespero, como Cristo quer que façamos!“
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