A Comissão de Liberdade Religiosa (CLR) de Portugal vai propor ao governo a criação de uma disciplina de história comparada das religiões nas escolas para combater a ignorância dos portugueses em relação a esse tema. O anúncio foi feito ontem pelo presidente da CLR, Mário Soares, e foi o fato mais marcante do último dia do colóquio internacional sobre o papel das religiões para a paz.
Em resposta a propostas já defendidas pelo cardeal-patriarca de Lisboa e por António Reis, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, Mário Soares concordou com a utilidade do estudo da história dos principais cultos.
"É que, apesar de a maioria da população portuguesa ser católica, há uma enorme ignorância frente às questões religiosas", constatou o ex-presidente de Portugal. Para Mário Soares, é necessário conhecer a história das religiões,"no que têm de bom e de mau, para se poder digerir os fatos e evitar erros do passado".
Antes da intervenção de Mário Soares, António Reis, que também é professor universitário e historiador, defendeu a criação de uma disciplina de História das Religiões na escola pública, mostrando-se preocupado com o crescente "analfabetismo" religioso na sociedade.
Currículo escolar
"A história comparada das religiões deve ser ensinada na escola pública. Partilho a posição de Régis Debray no seu célebre relatório para o então ministro da Educação francês Jack Lang, ao propor a introdução de uma disciplina de história comparada das religiões nos currículos oficiais", defendeu António Reis.
O líder maçom sustentou ainda a idéia de que a laicidade não é patrimônio de ateus, agnósticos e não crentes. Ele definiu o Estado laico como um Estado neutro e "incompetente" em matéria religiosa que "não é crente, não é descrente, é acrente".
António Reis rejeitou o papel de um Estado tutor das religiões, considerando inaceitável a proibição, por exemplo, do uso do véu islâmico nas escolas. "Não aceito que por meios impositivos se emancipem jovens contra a sua vontade ou consentimento. Nesse sentido, me oponho a certas formas radicais do Estado laico, que levam à proibição de ostentar símbolos religiosos ou não religiosos porque é um direito que faz parte da liberdade religiosa. Nestes casos, proibir é tão grave como obrigar", disse.
Mais tarde, na sessão de encerramento do congresso, as palavras do professor universitário tiveram eco no discurso do ministro da Justiça. À semelhança do que o primeiro-ministro tinha defendido anteriormente, Alberto Costa voltou a defender a independência do Estado em relação a todas as religiões, enquanto defensor da liberdade religiosa e da igualdade entre crentes. "É preciso que a laicidade se concretize, sem religiões mais amigas ou mais próximas ao Estado", alertou o ministro.
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