Quem conhece a história do Projeto Pérola — a audaciosa entrega de um
milhão de Bíblias em uma única noite na China — talvez não imagine que
esse projeto veio coroar uma iniciativa que poderia ser chamada de
“total fracasso”. Dezesseis anos antes, em 1965, o Irmão André fazia sua
primeira viagem à China, representando ali o ministério da Portas
Abertas. Nos dias em que passou lá, ele não encontrou um único cristão
sincero em sua visita, nem alguém que se interessasse por ficar com uma
das Bíblias que havia levado.
Realmente foi preciso esperar onze
anos para que as primeiras Bíblias fossem entregues. Em 1976, pequenos
grupos de voluntários da Portas Abertas entravam na China com algumas
Bíblias escondidas na bagagem. Quanto mais Bíblias eram distribuídas,
mais se percebia a necessidade de fazer novas entregas.
Hérnia e Pérola
Em 1979, os voluntários foram abordados com um pedido ousado: “Precisamos de 35 mil Novos Testamentos. Poderiam trazê-los?”. Mama Kwang, a autora do pedido, não desanimou diante da incerteza da equipe em atender seu desejo: “Orem, e nós oraremos também. Deus fará acontecer”, respondeu ela.
Deus fez com que o pedido fosse atendido. Trinta mil Novos Testamentos de bolso foram adquiridos e acomodados em 60 malas. Cada par de malas foi carregado por um corajoso voluntário — muito corajoso, aliás, porque cada mala pesava, individualmente, 42 quilos. “Havíamos batizado a operação de Projeto Arco-Íris, mas os nossos voluntários a apelidaram de Projeto Hérnia”, disse Paul Estabrooks, coordenador do projeto.
Dois anos depois acontecia o Projeto Pérola — a joia das operações de distribuição da Portas Abertas. Não é exagero dizer que o Projeto Pérola, que ganhou destaque internacional não apenas no meio evangélico, foi o meio usado por Deus para que o governo liberasse e chegasse a patrocinar a impressão de Bíblias. Em 2011, trinta anos após o Projeto Pérola, a Amity Press (a editora oficial chinesa para impressão e distribuição das Escrituras) imprimia 80 milhões de Bíblias. Hoje, ela tem capacidade para publicar um milhão de Bíblias por mês.
Em seu ministério de distribuição na China, a Portas Abertas entregou 40 milhões de obras, entre Bíblias e livros cristãos, para que fortalecessem mais de 10 milhões de cristãos chineses.
Ter versus compreender
Ter a Bíblia nas mãos era uma bênção. Compreender o que a Bíblia dizia era um desafio. Apesar do desejo ardente de ter uma cópia pessoal das Escrituras, muitos chineses não estavam preparados para interpretá-las e ensiná-las. Xiao Yun, colaborador da Portas Abertas na China, comenta: “Era como brincar de telefone-sem-fio. Quando uma mensagem passava de uma pessoa a outra, ela certamente seria alterada”. Tal falta de preparo se mostrava um obstáculo ao crescimento saudável da Igreja. Cristãos bem-intencionados, mas com conhecimento limitado e deturpado, ensinavam a outros que estavam sedentos pela Palavra de Deus. O ambiente era propício para o surgimento e crescimento de seitas, o que de fato aconteceu.
Assim, além de Bíblias, foram distribuídos também livros de discipulado. Na década de 1990, a Portas Abertas começou a treinar a Igreja pessoalmente. Percebendo a necessidade de ensinar um modelo bíblico de vida conjugal, foram contratados casais de professores que pudessem ministrar em acampamentos para a liderança da Igreja chinesa e seus cônjuges. O treinamento era feito de modo a incentivar o casal treinado a repassar à sua igreja o que havia aprendido. Em três anos, mais de três mil casais foram treinados.
Ao longo dos últimos dezesseis anos, em que o treinamento bíblico foi uma prioridade no serviço à China, mais de 100 mil cristãos chineses participaram de cursos para líderes, professores de escola dominical, pastores, evangelistas, casais e outros.
Um colaborador celebra o sucesso deste ministério: “Temos visto nossos alunos, antes tímidos e despreparados, agora dirigindo, confiantes, seminários em suas igrejas. É um prazer acompanhar o desdobramento desses cursos e ouvir como a segunda e a terceira turma de novos estudantes da Bíblia se beneficiam com a primeira turma”.
“Deus fará acontcer”
O Irmão André resume a trajetória do serviço à China ao longo dos anos: “A China mudou consideravelmente desde minha primeira visita em 1965. O país era fechado como uma ostra. Agora as portas estão escancaradas para o evangelho. Deus tem usado nosso trabalho para alimentar um dos maiores avivamentos da história. Procurar os que são perseguidos e ajudá-los não é fácil. Haverá resistência. Mas se você interceder pela China, e faremos isso em nossos países, Deus fará acontecer”.
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