Estudiosos e teólogos católicos e judeus se reuniram em Jerusalém esta semana para marcar o 40º aniversário de um importante documento da Igreja Católica, que absolve o povo judeu de ter matado Jesus Cristo.
Mas os estudiosos se disseram preocupados com o esquecimento da mensagem de respeito ao povo judeu pelas futuras gerações.
Acusados pela morte de Jesus e tidos como rejeitados por Deus, o povo judeu sofreu perseguição, pogrom (massacre genocida organizado), tortura e a morte nas mãos da Igreja Católica, entre outros, por 1.900 anos.
Mas uma mudança na doutrina católica oficial veio com a declaração do "Nostra Aetate", um documento aceito pelo Segundo Concílio do Vaticano em 28 de outubro de 1965. Ele abriu uma porta à amizade e diplomacia entre a Igreja Católica e o povo judeu.
Essa conferência em Jerusalém reuniu cerca de 100 participantes de oito países. Ela foi organizada em conjunto pelo Centro de Estudos do Cristianismo na Universidade Hebraica de Jerusalém e pela Fundação de Estudos Religiosos João XXIII em Bologna, Itália.
Falando na mesa redonda, o rabino David Rosen, diretor internacional de assuntos inter-religiosos no comitê judeu dos EUA, disse que o "Nostra Aetate" é uma das maiores "revoluções ideológicas".
David apontou que, aos olhos da Igreja Católica, o povo judeu foi tido por "condenado por Deus ... na verdade, como uma sociedade com o Diabo" desde o começo da igreja. Ele foi transformado pelo "Nostra Aetate" em um "querido irmão mais velho, amado pela Igreja".
O cardeal Walter Kasper, presidente da Comissão da Santa Sé de Relações Religiosas com os Judeus, disse que o "Nostra Aetate", chegando 20 anos depois do fim da Segunda Guerra, abriu o caminho para o arrependimento e condenação do Holocausto.
Embora haja uma relação única entre os cristãos e o povo judaico, Walter disse que o diálogo judaico-cristão em Jerusalém deve ser expandido para incluir os muçulmanos.
Cristãos no Oriente Médio
Walter disse ser difícil aos cristãos no Oriente Médio observar os princípios do "Nostra Aetate".
A maioria dos cristãos no Oriente Médio vive em países cujo governo não tem laços diplomáticos com Israel, como o Líbano, Síria e Iraque; ou em países como o Egito, onde as agências de notícias governamentais são conhecidas por seus sentimentos anti-semitas e anti-israelenses.
"É claro que isso é especialmente difícil nessas regiões onde o conflito é próximo", disse Walter. "A mente não está livre para pensar nessas questões".
O futuro
O professor Alberto Melloni, mestre de história na Universidade de Bolonha e participante da Fundação de Estudos Religiosos (Papa) João XXIII, se mostrou preocupado com o futuro.
Ao descrever o "Nostra Aetate" como um "texto humilde", ele afirmou que, apesar disso, o texto mudou a história das relações judaico-cristãs.
"Mas o futuro é um ponto de interrogação", Alberto disse. Ele também mostrou preocupação, caso a próxima geração decida que há coisas mais importantes na agenda da Igreja Católica Romana que as relações com os judeus.
"É muito complicado", Alberto resumiu. "As pessoas têm a idéia de que a missão está completa, mas ela não está toda pronta ... Precisamos prestar atenção nisso".
Nostra Aetate
De forma técnica, o "Nostra Aetate" pediu à Igreja Católica a revisão de seu relacionamento com todas as religiões não-cristãs. O budismo e o islamismo são citados pelo nome, mas as relações com o judaísmo e o povo judeu era o objetivo, estudiosos dizem.
"Conforme o sínodo sagrado procura nos mistérios da Igreja, ele lembra o contrato que liga espiritualmente o povo da Nova Aliança à descendência de Abraão ... A Igreja, desta forma, não pode esquecer que ela recebeu a revelação do Velho Testamento através do povo com quem Deus, em Sua inexprimível graça, concluiu a Velha Aliança", diz o documento.
O "Nostra Aetate" acrescenta: "A Igreja reprova, como sendo alheia à mente de Cristo, qualquer discriminação contra os homens ou a sua opressão por sua raça, cor, condição de vida ou religião".
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