O governo do Estado de Gujarat negou-se a renovar seu contrato com os administradores católicos de um leprosário em Ahmedabad. O partido pró-hindu Bharatiya Janata, que administra o Estado, alegou que as freiras "pregavam o cristianismo".
No sábado, 1º de abril, autoridades pediram às seis freiras salesianas para desocuparem seus dormitórios no convento, localizado nas dependências do hospital.
"Estamos em seis no convento, e cinco de nós trabalhavam no hospital", uma freira identificada como irmã Karuna disse. "Depois de um total de 57 anos de serviço a essas pessoas excluídas nos pediram para ir embora."
A igreja católica era responsável pela administração do leprosário desde 1949. O governo, do que era então o Estado de Bombaim (Gujarat foi formado das porções do norte e oeste do Estado de Bombaim em 1960), convidou o padre jesuíta Villalonga para estabelecer a instalação. O governo concordou em fornecer fundos e alguns prédios desativados para o hospital.
Um contrato inicial de cinco anos foi estendido diversas vezes. O último contrato expirou na sexta-feira, 31 de março. As freiras esperavam que ele fosse renovado automaticamente.
Alguns dias antes da notícia de despejo ser dada, a irmã Karuna descobriu uma carta enviada pelo governo do Estado ao dr. J. Desai, um médico hindu do leprosário. A carta pedia a Desai para assumir o controle do hospital.
A irmã Karuna se encontrou com um membro do conselho de saúde do Estado. Ele disse que não poderia fazer nada sobre a revogação do contrato, pois isso era uma ordem política.
Sem religião forçada
Funcionários do governo disseram que eles não renovariam o contrato porque as freiras estavam pregando o cristianismo aos pacientes.
O governo da França havia dado o "Legion D'Honneur", "Legião da honra" - o maior prêmio civil, a duas pioneiras do hospital: madre Noemi e irmã Marie Juliette. Elas ganharam o prêmio por seu serviço aos pacientes do leprosário.
No dia 1º de abril, pediram às irmãs católicas para entregar todas as propriedades e os fundos ao médico-chefe do hospital.
A irmã Karuna negou qualquer tentativa de forçar os pacientes a aceitar o cristianismo. "Havia uma capela e uma sala de oração, mas nenhum paciente foi forçado a participar dos cultos. Agora diversas pessoas estão dizendo que pregávamos o cristianismo. Mas, na verdade, meu contrato me impedia de pregar nas dependências do hospital."
Os pacientes do hospital confirmaram que eles nunca foram forçados a orar ou a participar dos cultos.
As freiras foram transferidas para um convento a oito quilômetros de distância do hospital.
"Essa medida é discriminatória", disse o padre Cedric Prakash, diretor da organização de direitos humanos Prashant. "É como se o governo estadual acabasse de descobrir que as irmãs que dirigem o hospital são cristãs. O ministro-chefe Narendra Modi não quer que as freiras estejam associadas com tais ministérios benevolentes."
Cedric concordou que o Estado está tecnicamente na direção do hospital e tem o direito de conceder o contrato a outra pessoa.
O bispo Thomas Macwan, de Ahmedabad, que dirigia o hospital, disse que os motivos do governo estadual são claros. "Não há razão nenhuma pela qual eles não devam renovar esse contrato, a não ser o fato de sermos cristãos."
Dr. John Dayal, presidente nacional da União Geral de Católicos da Índia, escreveu imediatamente ao primeiro-ministro, Manmohan Singh, para expressar sua preocupação.
"Esse não é um choque público que acontece de vez em quando e logo acaba", sua carta afirma. "Essa é uma campanha de terror contra nossa comunidade. Está claro que as freiras foram demitidas por causa de sua religião."
O ministro estadual da Saúde Ashok Bhatt tem afirmado desde então que não há a necessidade de um leprosário em Gujarat. Mas a irmã Karuna disse à agência de notícias Compass: "O hospital tem 50 moradores leprosos e mais de 100 que são tratados como pacientes externos. O Programa Nacional de Erradicação da Lepra diz de forma clara que, em Gujarat, a incidência de leprosos é aproximadamente de uma ou duas pessoas em cada 10 mil".
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