A realização do conclave para escolher o sucessor de Bento XVI no Vaticano pode elevar um brasileiro ao cargo de líder máximo da Igreja Católica.
A possibilidade de um papa brasileiro é real, e segundo assessores de dom Odilo Scherer, um dos cardeais brasileiros que podem ser eleitos, “há expectativas” em torno disso.
Scherer, 63 anos, é arcebispo de São Paulo, e conhecido por ser conectado às novas tecnologias e redes sociais, contador de piadas e alguém com rápida ascensão dentro da igreja romana: aos 58 anos, foi eleito cardeal em 2007, um dos mais jovens da história do catolicismo moderno.
Considerado conservador em questões como casamento gay, aborto e pesquisas com células tronco, seus pares o veem como alguém moderno e apto para lidar com questões sociais e a nova realidade da Igreja, que enfrenta grande perda de fiéis no Brasil para o segmento evangélico.
Um exemplo de sua versatilidade e bom humor foi citado pelo jornal Estadão numa reportagem que o definiu como “difícil de rotular”. Acostumado a andar de Metrô em São Paulo, dom Odilo Scherer ficou preso num congestionamento e aproveitou para fazer uma piada através de sua conta no Twitter: “Espero que o caminho para o céu esteja ainda mais congestionado que o de São Paulo”, brincou.
Entretanto, apesar da especulação em torno de um possível papa brasileiro, que seria o primeiro da América Latina, um dos cardeais brasileiros que votarão, dom Geraldo Majella, 79 anos, afirmou ao Correio 24 Horas que não vê a questão como essencial para a Igreja Católica: “Da minha parte, eu não vejo necessidade imperativa que se faça uma eleição de um brasileiro. Durante 400 anos, o papa era sempre italiano. João Paulo II, polonês, e Bento XVI, alemão, foram exceções”, observou.
Já o embaixador do Vaticano no Brasil, afirma que um papa com origens no maior país católico do mundo não mudaria nada na relação entre o governo e a igreja, mas poderia trazer de volta o interesse pela fé aos católicos não praticantes: “Estou torcendo para isso [a escolha de um brasileiro], como todo o povo brasileiro. Ter um papa brasileiro seria um grande orgulho para o povo”, disse Almir Franco de Sá Barbuda, em entrevista à BBC Brasil.
Para dom Claudio Hummes, 78 anos, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, a renúncia de Bento XVI trouxe algumas perspectivas e pontos de vista antes não considerados. Ele é um dos cardeais que poderão ser eleitos ao pontificado.
“Creio que vai abrir novas portas, claro. A Igreja está em uma situação nova e, talvez, seja a oportunidade para outras coisas acontecerem para o bem da Igreja”, afirmou ao jornal Zero Hora.
Dom Raymundo Damasceno, 76 anos, o quarto cardeal brasileiro com direito a voto para a escolha do novo papa e também passível de voto, entende que Bento XVI deu uma demonstração “de humildade, de grandeza, coragem”, e que sua renúncia é um marco profético na história da Igreja Católica: “É algo inusitado que pegou a Igreja de surpresa, embora ele tenha feito alusões à possível renúncia. Mas uma coisa é fazer alusões, outra é renunciar mesmo. A gente nunca sabe se fato isto iria se concretizar. Ele deixou em aberto esta possibilidade. O gesto é profético neste cenário”.
O quinto cardeal brasileiro com direito a voto e elegível ao pontificado é João Braz de Aviz, 65 anos, arcepisbo emérito de Brasília e atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, de acordo com informações do portal Terra.
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