Treze meses depois que o Egito prendeu e torturou um farmacêutico cristão copta por ele ter-se casado com uma ex-muçulmana, Boulos Farid Rezek-Allah Awad finalmente teve permissão para emigrar do Egito para o Canadá.
Boulos voou do Aeroporto Internacional do Cairo para o Canadá em março, um pouco antes de expirar o seu visto de imigração canadense. Algumas semanas antes sua esposa, Enas Yehya Abdel Aziz fugira do país para solicitar o status de refugiada no exterior.
As autoridades policiais de segurança egípcias disseram a Boulos, em novembro último, que ele estava numa lista negra permanente, impedido de sair do pais. Eles prometeram seguir e punir sua esposa por seu casamento ilegal com um cristão.
Numa entrevista por telefone, de um local não revelado no Canadá, Boulos disse à Portas Abertas que presumia que as autoridades egípcias, de alguma forma, ficaram sabendo que sua esposa havia conseguido escapar do Egito sem ser identificada e detida. Assim, quando eles perderam a esperança de capturar Enas, permitiram que eu saísse do Egito, disse ele. Mas não tenho certeza se mesmo agora eles sabem para qual país ela foi, e onde ela está agora.
Boulos foi detido em fevereiro de 2003 pela polícia de segurança do Cairo, por violar a lei egípcia ao casar-se secretamente com uma mulher muçulmana que se convertera ao cristianismo. A lei islâmica proíbe que um cristão se case com uma mulher muçulmana no Egito, onde os cidadãos não têm permissão para mudarem de religião.
Desde que Boulos e sua esposa foram aceitos para emigrarem para o Canadá, mantiveram o casamento em segredo, vivendo em separado enquanto aguardavam seus documentos de imigração da embaixada canadense.
Mas antes que pudessem sair, as autoridades egípcias conseguiram cópias de sua nova identidade cristã e da certidão de casamento, o que revelava que ela havia sido batizada três anos antes e então se casado com Boulos em maio de 2002.
Ele foi interrogado sob tortura durante semanas na delegacia de polícia El-Shobra do Cairo, onde as autoridades o penduraram pelos braços e o espancaram, tentando descobrir o paradeiro de sua esposa. Mas Enas estava muito bem escondida, despistando todas as tentativas da polícia rastreá-la.
Depois de libertado da prisão Tora, em 1 de junho, Boulos foi mantido em contínua vigilância e intimidação pela polícia. Durante suas duas subsequentes tentativas de partir para o Canadá, através do aeroporto do Cairo em agosto, e pela fronteira com a Líbia em novembro, ele foi pego pelas autoridades egípcias.
Boulos disse não saber, ele mesmo, os detalhes que cercavam a recente fuga de sua esposa do Egito. Mas, depois que ela conseguiu sair do país, o governo canadense deu-lhe o status de refugiada, citando a perseguição religiosa que ela enfrentou em sua terra natal por converter-se do islamismo ao cristianismo.
Ela submeteu-se a uma cirurgia na perna, devido a ferimentos sofridos num acidente de carro antes de sair do Egito. Depois de recuperar-se da operação, ela pensa em entrar num curso de inglês em sua nova pátria. Seu marido, enquanto isso, estuda para os exames finais para obtenção da licença de farmacêutico no Canadá em agosto próximo.
Boulos admitiu que haviam sido treze meses longos e estressantes desde que fora detido e separado de sua esposa sob a ameaça de nunca mais se reunirem. Mas eu penso agora que começo a esquecer tudo isso, disse ele à Portas Abertas. Deus curou minha mente e o meu coração.
Enas e eu sabemos que Deus é bom, disse Boulos, e que Ele completará toda boa obra em nós e por nós.
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