Ex-dançarina participou de leitura dramática e interpretará peça de Nelson Rodrigues. Religiosa, baiana diz que só fará papéis comportados e que “nudez nunca mais”.
Aos 30 anos, a ex-dançarina do grupo “É o Tchan!” – que atualmente se define como “mãe de família e serva de Deus” – está empenhada em brilhar em outro palco: o do teatro.
Aluna aplicada da Oficina de Atores Nilton Travesso há dois anos, Carla debutou na nova carreira na noite de terça-feira (13) ao participar da leitura dramática da peça “Boeing boeing”, do dramaturgo suíço Marc Camolletti. A sessão aberta ao público no Caixa Cultural, em São Paulo, foi tomada por uma turma de marmanjões que esperava conferir uma performance mais sensual da loira.
No papel de Judith, uma aeromoça alemã – embora o sotaque arretado não ajudasse a convencer muito disso – Carla usava um figurino discreto, bem diferente dos shortinhos econômicos de seu passado rebolativo.
Dirigidos por Beto Silveira, Carla e seus colegas de elenco convidaram para a encenação o ator Victor Wagner – aquele que se tornou famoso como o galã da novela “Xica da Silva”, em 1996, e por estrelar dois ensaios nus na revista “G Magazine”.
“Fiquei muito nervosa em cena. Sei que esse monte de imprensa que estava aqui veio só pra me sacanear”, desabafou Carla, aos risos. “Mas tudo bem. Muitos fãs têm um carinho enorme por mim e não tenho medo de errar”.
Nudez nunca mais
Em clima de pastelão, a ex-dançarina exibiu em cena a mesma dose de canastrice e despreparo que seus colegas de elenco. Incluindo Victor Wagner o “ator profissional convidado”, que se perdeu mais no texto que os aspirantes.
“Minha carreira no teatro será dedicada ao público infantil, nudez nunca mais! Agora vocês conhecerão a verdadeira Carla Perez: mãe de família e serva de Deus”, garantiu Carla, evangélica recém-convertida. “Depois de me formar, vou escolher muito bem os meus papéis”.
O espetáculo de conclusão do curso, prova de fogo que a neo-atriz enfrentará no final do ano, será “O beijo no asfalto”, de Nelson Rodrigues. Carla interpretará Selminha – papel que já foi de Fernanda Montenegro, em 1961.
“Vixe, neguinha! Estou lendo Nelson Rodrigues e ficando horrorizada… Aquele homem escrevia cada coisa!”, revelou Carla, ruborizada. “Também estou lendo bastante García Lorca. E a Bíblia, sempre”, enfatizou.
Professor Milagre
O professor de teatro de Carla, Sérgio Milagre, descreve a aluna como “dedicada e intensa”. “Os papéis rodrigueanos combinam com a intensidade dela. Carlinha é articulada, inteligente e me surpreendeu bastante”, elogiou o mestre.
Milagre acredita que o passado de ex-dançarina famosa ajudará a loira em seu futuro teatral. “Uma arte bebe na fonte de outra. O que a Carla fazia também era arte”, analisou.
No entanto, a eterna “loira do Tchan” parece querer enterrar de vez a imagem erotizada pregressa. “Eu era muito jovem naquela época e fui usada pela mídia. Quando dançava ou posava nua era de uma forma inocente, a maldade estava na cabeça das pessoas”, desabafou.
“Não vou cuspir no prato que comi. Sendo a “loira do Tchan” ganhei muito dinheiro e conheci o Xandy”, avaliou Carla referindo-se ao marido pagodeiro, pai de seus dois filhos, Camilly Victória, de 5 anos, e Victor Alexandre, de 3.
Na saída do teatro, ao ser cercada por um grupo de fãs, alguém pergunta para a ex-musa do rebolado se em tempos de “mulher melancia” que fruta ela seria. “Olha me bem, meu tempo já passou. Sei lá, acho que agora sou a mulher salada de fruta”.
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