A Anistia Internacional comemora a libertação, dias atrás, da cantora evangélica eritréia Helen Berhane, que estava presa e incomunicável, sem acusação ou julgamento, há dois anos e meio, no campo militar de Mai Serwa.
Helen Berhane estava entre os 2 mil presos membros de igrejas evangélicas proibidas na Eritréia, incluindo a dela, a Igreja Rema, que foi submetida à perseguição sistemática por parte do governo eritreu nos últimos quatro anos.
A cantora, de 31 anos, passou a maior parte do tempo de sua prisão em condições desumanas e degradantes, dentro de um contêiner de metal que era usado como cela. As autoridades, segundo relatos, torturaram Helen várias vezes para fazê-la renunciar à sua fé.
Em outubro de 2006, ela deu entrada em um hospital de Asmara, em conseqüência de novas agressões. Depois de sair do hospital, ela foi mandada de volta para a prisão. Helen foi libertada no final de outubro, mas estaria confinada a uma cadeira de rodas em virtude dos sucessivos ferimentos sofridos nos pés e nas pernas. Ela se recusou a abandonar sua fé, apesar das ameaças e dos maus-tratos.
Preocupação continua
A Anistia Internacional exige que o governo da Eritréia respeite sua Constituição e suas obrigações para com as leis internacionais de respeito à liberdade e à liberdade de religião, contra detenções arbitrárias, em que presos são mantidos incomunicáveis e submetidos a torturas e outros tipos de tratamento cruel, desumano e degradante.
Apesar da libertação de Helen Berhane, a Anistia Internacional permanece preocupada pelo fato de que a perseguição sistemática a pessoas por causa da religião continue a acontecer na Eritréia.
Entre 15 e 16 de outubro, mais de 150 homens, mulheres e crianças, membros das igrejas Kale Hiwot (Palavra de Deus), Evangelho Pleno, Deus Vivo e Rema foram presos em suas casas na cidade de Mendefera, 50 quilômetros ao sul da capital Asmara (leia mais). Doze membros da Igreja Rema também foram presos em Adi-Quala, mais ao sul, por realizar cultos em casa. Dois deles, Immanuel Andegergesh e Kibrom Firemichael, segundo relatos, morreram em um campo militar próximo em decorrência de tortura (leia mais).
Além disso, existem registros de que adeptos de outros grupos religiosos estão sendo mantidos presos incomunicáveis por tempo indeterminado, sem acusação ou julgamento. Entre eles estão três testemunhas de Jeová, detidos há 12 anos por se recusarem a prestar o serviço militar, e dezenas de membros de grupos dissidentes das denominações oficiais Igreja Ortodoxa e Conselho Muçulmano.
Perseguição intensa
Desde 2002, apenas as igrejas cristãs Ortodoxa, Católica e Luterana, além do islã, receberam permissão para operar na Eritréia. Membros de cerca de 35 igrejas evangélicas enfrentam perseguição intensa, mesmo com a liberdade religiosa sendo uma garantia na Constituição Eritréia.
Estima-se que 2 mil membros de igrejas menores, incluindo 20 pastores, estão detidos atualmente. Os presos são mantidos incomunicáveis, em condições cruéis, sem acusação ou julgamento. Eles são presos em delegacias primeiramente, e depois mandados para campos militares e prisões de segurança em diferentes partes do país, incluindo o principal centro de treinamento militar em Sawa.
Alguns detidos são mantidos em contêineres de metal e prisões clandestinas. Vários presos adoecem gravemente e é raro que recebam tratamento médico adequado. Eles são torturados sistematicamente, sendo espancados e mantidos amarrados em posições dolorosas, numa tentativa de fazê-los parar de adorar e de renunciar à sua fé.
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