A liberdade religiosa está atualmente correndo um grande risco em Bangladesh. De acordo com o Human Rights Watch (HRW), o governo de Bangladesh está cedendo às pressões de grupos fundamentalistas islâmicos e se alinhando àqueles que perpetram atos de discriminação e violência contra as comunidades minoritárias. Fontes da AsiaNews confirmaram que a situação está preocupante e que toda essa nova geração de jovens está sendo criada no fundamentalismo, sem um olhar atento vindo de fora.
Fontes anônimas, mas bem-informadas, falaram a AsiaNews sobre o problema do crescente fundamentalismo islâmico em Bangladesh e o papel representado pelo governo. Tanto os fundamentalistas como as autoridades do governo tentam projetar uma imagem de moderação e tolerância à comunidade internacional, enquanto encobrem as atividades dos poderosos grupos extremistas islâmicos.
Pressões ao sistema educacional
As escolas corânicas (madrassas) oferecem educação grátis e são relativamente independentes para escolherem os programas que querem, com pouca supervisão do governo. Na verdade, na maioria dos casos, o governo tem garantido reconhecimento oficial a essas escolas sem saber o que elas ensinam.
Tradicionalmente, o islamismo em Bangladesh tem sido bem tolerante e aberto às práticas, fora do que o wahhabismo saudita consideraria aceitável. Ao fundar as madrassas mais radicais, a Arábia Saudita e os governos dos países muçulmanos mais conservadores esperam trazer o islamismo bengalês pra dentro das visões mais ortodoxas do islamismo.
Apesar de não haver dados precisos, muitos esperam que, quando a tendência do radicalismo alcançar seu pico, mais de 20 milhões de jovens terão sido criados no fundamentalismo, graças às escolas corânicas.
Pressões às comunidades religiosas
A perseguição dos ahmadis (os ahmadis se consideram muçulmanos, mas interpretam seu profetismo de maneira diferente que a corrente principal do islamismo) está ao lado da tentativa de impor uma visão ortodoxa do islamismo. Os extremistas querem erradicar completamente a seita herética e alcançar o objetivo de marginalizar todos os ahmadis, que geralmente operam sem sanção oficial.
Têm havido inúmeros ataques contra mesquitas ahmadis e os fiéis têm sido espancados. Em alguns casos, as placas originais das mesquitas foram trocadas por avisos como "Muçulmanos, cuidado: Este não é um lugar muçulmano de culto".
Apesar disso, a intenção neste caso é informar o público que tais edifícios não são verdadeiramente muçulmanos, e não fechar tais lugares. A prática não é um ato aleatório - isto também tem sido usado contra cristãos e hindus. Em vez disso, é uma prática e uma parcela da estratégia para enfraquecer outros grupos, enquanto evita uma cobertura negativa da mídia estrangeira.
Apesar de tudo, nem todo o país aceitou essa tendência; muito de sua sociedade civil continua teimosamente oposta ao fanatismo religioso.
No começo desse ano, por exemplo, quando um assalto contra uma mesquita ahmadi próxima de Dhaka foi anunciado, pessoas, aos milhares, se viraram em oposição ao ato, forçando a polícia, tradicionalmente reticente, a intervir e parar o ataque planejado.
Pressão cultural
Em sua tentativa de remodelar Bangladesh, os fundamentalistas islâmicos não pouparam sua cultura, língua e ciências sociais.
Os fundamentalistas se engajaram em uma revisão em grande escala da história do país a fim de destacar o papel exercido pelos grupos muçulmanos nas lutas contra o poder colonial britânico, afirmando que eles eram a "fonte primária e verdadeiraa independência do país".
Esse processo inclui um pequeno mas significante esforço de forjar laços culturais mais próximos com o mundo árabe, através do uso da língua árabe.
É claro que a língua está se tornando uma forma de identidade. Bengaleses mais seculares tendem a usar palavras emprestadas do sânscrito; de modo oposto, fundamentalistas islâmicos são mais prováveis de contar com termos árabes que entraram na língua.
Pressões visando cobrir tentativas de radicalismo
Quaisquer que sejam seus objetivos, os extremistas tentam ao máximo conciliar suas pressões radicalistas sobre o governo e trabalham para encobrir os atos de violência que perpetram.
Seus alvos mais comuns são teatros e cinemas, onde as pernas e partes das mulheres são exibidas e eventos culturais que destacam a cultura pré-islâmica de Bangladesh em vez do islamismo. (Tais eventos são às vezes organizados com hindus e focam a língua bengali).
"Recentemente", uma fonte notou, "atos similares estão sendo realizados na feira de livros Dhaka a fim de evitar que as pessoas pensem sozinhas sem ter quer se referir sempre ao islamismo".
"O nacionalismo bengalês," acrescentou, "é considerado algo impuro, próximo demais do hinduísmo, tolerante força-a-força com os outros, contaminado".
Tanto os fundamentalistas como o governo têm um interesse legal em evitar que o mundo externo saiba sobre essa violência. Quando lidam com a imprensa e com a comunidade internacional, as autoridades estão em modo de negação sistemática.
O objetivo deles é pintar ao mundo um Bangladesh que está livre do fundamentalismo ou do terrorismo a fim de atrair os investimentos estrangeiros.
Os fundamentalistas compartilham desse objetivo enquanto eles querem continuar a radicalizar a situação longe de olhares curiosos, até que chegue a hora em que eles se sintam fortes o suficiente para agir às claras.
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