A congregação carismática Vida Nova, na capital bielo-russa de Minsk, está realizando cultos com um gerador a diesel emprestado desde que as autoridades cortaram o fornecimento de energia elétrica do imóvel (um antigo estábulo), em 4 de março, declarou o administrador da igreja, Vasily Yurevich, ao Serviço de Notícias do Fórum 18, de Minsk, em 15 de março. O corte de energia ocorreu um dia após a fiscalização estadual de energia ter inspecionado a propriedade por ordem do oficial sênior para assuntos religiosos de Minsk, Alla Ryabitseva. Não sairemos do imóvel, declarou o administrador da igreja, Vasily Yurevich. Estamos prontos a lutar até o fim.
Depois que a congregação Vida Nova comprou o velho estábulo em 2002, todas as agências oficiais aprovaram a alteração da finalidade de uso do terreno de estábulo para igreja, exceto o departamento de assuntos religiosos da administração da cidade de Minsk. Sem essa aprovação, a forte congregação de 600 membros teve seu pedido de registro indeferido assim que o prazo final de 16 de novembro de 2004, imposto na lei religiosa para recadastramento compulsório, expirou. No dia 30 de dezembro, a igreja recebeu uma primeira advertência oficial e no dia 28 de dezembro Yurevich foi multado em 150 vezes o salário mínimo mensal por organizar reuniões religiosas sem permissão do estado. De acordo com a lei religiosa de 2002, uma segunda advertência seria suficiente para banir a igreja.
Yurevich comentou que, da última vez em que foi intimado pela polícia local, em 9 de março, o pastor da congregação Vida Nova, Vyacheslav Goncharenko, foi informado de que passaria a sofrer acusações se continuasse organizando cultos ilegais. Uma audiência convocada para o dia 1o. de março no Tribunal de Justiça de Moscou, em Minsk - na qual o Pastor Goncharenko era acusado de organizar um culto religioso ilegal - foi adiada pelo juiz para que maiores investigações fossem conduzidas, declarou Yurevich ao Fórum 18, e ainda não se sabe quando a próxima audiência será realizada.
Após deixar o tribunal, em 1o. de março, aproximadamente 100 membros da igreja foram transferidos para o gabinete da administração do distrito de Moscou, no edifício vizinho, onde foi concedida uma audiência de 50 minutos com sua assistente para assuntos religiosos, Nina Gordeyuk. Uma gravação da reunião, com alguns momentos acalorados, aparece no site da igreja na Web.
Ao se dirigir aos membros da Vida Nova, Gordeyuk sustentou que a obtenção do novo registro no endereço do antigo estábulo "não foi aprovada porque havia planos gerais a longo prazo que não previam nem a construção de um estábulo nem a construção de uma igreja naquela área. Esses planos já foram aprovados pelo presidente do país, Aleksandr Lukashenko, acrescentou ela. A administração não pode alterar coisa alguma no momento e lhes concede o direito de reconstruir o edifício. Gordeyuk sustentou ainda que não poderia permitir que uma congregação tão grande se reunisse no imóvel porque o uso deste estava em desacordo com a finalidade para a qual fora inicialmente designado e o estado era responsável pela segurança dos fiéis.
Em resposta, Yurevich acusou Gordeyuk de apenas recentemente começar a falar em planos de construção civil a longo prazo após conversar com o oficial sênior para assuntos religiosos de Minsk, Alla Ryabitseva: Em dois anos de correspondências nem uma palavra sequer foi dita a respeito. Além disso, ele rejeitou a expressão de preocupação de Gordeyuk com o bem-estar dos fiéis, ressaltando que anteriormente a administração distrital de Moscou havia retirado permissão para que a igreja se reunisse em uma casa de cultura após 18 meses sem incidente.
Embora salientasse que não estava defendendo Ryabitseva, Gordeyuk respondeu que as autoridades tinham toda a razão de despejar a igreja das casas de cultura e cinemas espalhados por Minsk, uma vez que estas tinham "deixado de funcionar como instituições culturais". E insistiu que a intenção do estado não era fazer da igreja Vida Nova um alvo de ataque: Se fosse, poderíamos requerer a liquidação de sua igreja, mas não queremos fazer isso porque afetaria um grande número de pessoas. Não queremos um escândalo internacional.
Um membro da igreja, Lyudmila Yakimovich, destacou que a congregação havia recebido cartas de várias agências estaduais, inclusive do comitê de arquitetura do distrito, afirmando claramente que as autoridades não se opuseram à construção de um templo no local do estábulo, mas que, posteriormente, essa permissão foi rescindida. Portanto, por um lado, nos adequamos tecnicamente ao plano da cidade, mas, por outro, não podemos construir porque somos "diferentes", observou ela. Trata-se de uma decisão política contra a igreja.
Gordeyuk alegou não ter conhecimento das cartas mencionadas por Yakimovich e pediu uma cópia da documentação. Embora inicialmente tenha citado a impossibilidade de alterar os planos de construção civil da cidade, na reunião que se seguiu, Gordeyuk afirmou que havia apenas um problema pendente, alterar a finalidade de uso do imóvel, e sugeriu que a igreja resolva a pendência com o comitê de arquitetura. Como solução intermediária, a assistente para assuntos religiosos recomendou obter o registro no endereço legal anterior da igreja.
Aludindo ao fato de que, de acordo com a lei religiosa de 2002, a renovação do registro em um endereço legal não é acompanhada pelo direito de nele se reunir a menos que o imóvel tenha sido construído para essa finalidade, o Pastor Goncharenko respondeu que tecnicamente não havia diferença entre o endereço legal sugerido por Gordeyuk - uma oficina - e o estábulo. Seria fácil vocês nos ajudarem fornecendo dois documentos - um aprovando a realização de cultos no antigo estábulo e outro permitindo o registro da igreja naquele local, afirmou. Goncharenko concluiu lembrando Gordeyuk de que a Vida Nova vem atraindo inúmeras pessoas do exterior por conta de clínicas e abrigos de crianças através de suas quatro organizações sociais: Tudo isto acontece para o benefício de sua sociedade secular. Por favor, permita-nos fazer aquilo que Deus quer que façamos.
Yurevich declarou ainda ao Fórum 18 que, no dia 14 de março, a igreja Vida Nova recebeu uma carta da administração da cidade de Minsk, em resposta a seu documento de 10 de fevereiro requerendo permissão para usar o estábulo como igreja, reconstruir o imóvel e obter o novo registro em seu endereço. Datado de 28 de fevereiro, esse documento cita os três motivos pelos quais o novo registro foi negado: originalmente o imóvel está destinado a servir de estábulo, a igreja supostamente forneceu informações insuficientes sobre o procedimento de eleição do presidente do conselho eclesiástico e os formulários básicos da atividade da igreja foram supostamente fornecidos em desacordo com as exigências da lei religiosa de 2002.
Além disso, essa carta insiste que a reconstrução do estábulo é impossível porque "não há condição de um templo ser erguido no terreno em questão" e destaca que os cultos continuam sendo realizados no local apesar da multa aplicada a Yurevich e da advertência oficial. A administração da cidade de Minsk continuará a agir de acordo com a lei bielo-russa", conclui a carta.
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