Aumenta o número de evangélicos que procuram produtos de sexshop
Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico lança “Guia Gospel”
Os evangélicos tem por princípio a monogamia, por isso a questão “sexo” só pode ocorrer se for com o cônjuge e após o casamento. Contudo, “Deus não se importa com o que o casal faz entre quatro paredes”, acredita João Ribeiro, proprietário da sexshop Secret Toys e membro da Congregação Cristã do Brasil.
“Na igreja, não falamos que vendemos produtos eróticos porque isso pode gerar constrangimento. Se perguntam, explicamos que somos consultores de casais e isso desperta muita curiosidade”, diz Lídia. “Sempre ouvimos: “Mas ajudam como?”. Respondemos que ajudamos o casal a se reaproximar e até esquentar a relação”, esclarece Ribeiro.
Para ele e muitos outros evangélicos, as regras e os medos foram impostos por homens, no início da Igreja Cristã. De fato, algumas denominações defendem a completa liberdade dentro de quatro paredes. Por outro lado, muitos pastores ainda condenam o sexo oral e anal, também proibidos pela Igreja Católica.
O site IG entrevistou alguns evangélicos que defendem uma maior liberalidade ao tratar desses assuntos. Cláudia (nome fictício), uma evangélica de 40 anos de idade, afirma que somente após dez anos de casamento está conseguindo aproveitar o sexo com o marido.
Para ela, as coisas estão mudando. Gostou de ter lido os livros sodo-masoquistas da trilogia “50 tons de cinza”. “Eu tinha uma barreira psicológica. Questionava até onde poderia ir e o que era permitido por Deus ali. Já hoje comprei até uma algema”, explica.
Frequenta motéis sem preconceito, “Deus mesmo fala que onde eu pisar será santo… Estou me sentindo bem com isso, Deus ainda não me condenou”. Também consome produtos de sex-shop “A ideia de você querer comprar já é um sinal de que você quer e pode usar. Fantasiar dentro do casamento não é pecado”, assegura. “Após mais de dez anos, posso dizer que alcancei a plenitude sexual com meu marido. É incrível isso. Emocionalmente falando, nunca estivemos tão bem.”
Assim como ela, a procura de casais evangélicos pelos produtos eróticos tem aumentado no país. Prova disso é que já surgiu até o “Guia Gospel para Sexshops”, que será lançado em livro em março deste ano. São 90 páginas, compiladas pela Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual, com dicas para atendimento aos religiosos.
“Criamos o Projeto Gospel para debater o novo formato do sexshop e o atendimento diferenciado com consultoria de casais, que vai além da venda de produtos. O guia reúne as experiências de trabalho com o grupo evangélico”, assevera Paula Aguiar, presidente da associação.
Existe um grande cuidado com a linguagem. Por exemplo, o sexo oral passa a ser chamado de “beijo na região íntima”, enquanto a palavra sexo é substituída por “relação afetiva” e vibradores “massageadores” ou “estimulantes íntimos”.
Thaís Plaza dona da loja Doce Sensualidade, em São Paulo, calcula que hoje, 40% dos seus clientes são religiosos. Para ela, que organiza encontros de casais religiosos e palestras para apresentação de produtos, os católicos fervorosos são mais “travados” do que os evangélicos.
A terapeuta sexual Thelma Regina da Silva, de 32 anos, se converteu em 2011, na Igreja Batista Água Viva. Mesmo assim, afirma que enfrenta preconceitos diariamente para falar de sexo na igreja, principalmente por ser solteira. Ela conta que teve um sonho e entendeu que ajudar casais seria a missão de sua nova vida. Acredita que há muito trabalho a ser feito pelos pastores, que muitas vezes limitam-se a tratar a relação sexual como uma obrigação feminina e elevam a satisfação do marido.
Thelma defende que sexualidade deveria ser tratada na igreja também para se ensinar os jovens cristãos, que enfrentam dúvidas logo na adolescência. “Trabalhar com jovens é o caminho para a Igreja Cristã construir melhores casamentos. Penso que os casais quebrados hoje foram adolescentes mal informados no passado. Arrumando isso poderemos fortalecer o bem mais precioso para Deus, a nossa família”, finaliza.
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