Aterrorizada, a família Jano tinha uma única coisa em mente: chegar a um lugar seguro o mais rápido possível sem ser apanhada, como muitos outros cristãos assírios.
Contatado por telefone na cidade de Hassake (nordeste), o homem de 35 anos contou à AFP que os combates começaram na segunda-feira (23) às 4h da manhã. "Nós ouvimos o som de armas automáticas e bombardeiros durante sete horas, assustados, antes de decidirmos abandonar nossa casa", contou.
"Tomamos essa decisão porque sabíamos que o Daech (sigla em árabe para EI – Estado Islâmico) já estava muito perto de nossa aldeia", Tall Missas, agora nas mãos dos jihadistas.
A fuga dos aldeões se deu em carros e tratores. "Eu coloquei três crianças na minha moto e me juntei ao comboio", contou Danny Jano, um alfaiate, indicando que levou cinco horas para percorrer 30 km e entrar em Hassake.
"Foram as mais longas e difíceis horas da minha vida, porque éramos alvos de franco-atiradores e um morteiro atingiu um carro", relatou.
Descrevendo a escapada com sua família, Jano assegura que "todos tinham medo por suas vidas", mas que "não pensamos duas vezes". "Partimos em pijamas sem olhar para trás, sem parar, até chegarmos aqui".
O EI lançou um ataque na segunda-feira contra uma série de vilas e aldeias de Haut Khabur, sequestrando 220 cristãos assírios e tomando o controle de dez aldeias da região de Tall Tamr, no noroeste da província de Hassake, de acordo com o OSDH (Observatório Sírio para os Direitos Humanos).
Yokhana Harun, líder do ramo sírio do Partido Democrático Assírio, afirmou à AFP que 1.100 famílias que conseguiram fugir foram acomodadas e assistidas. Harun, que falava de um ponto de encontro para os refugiados em Hassake, acrescentou que "as pessoas chegaram exaustas e desamparadas".
"É um crime contra os assírios pacíficos. Eles [EI] acabaram com a coexistência, a civilização e a história, e a comunidade internacional olha para tudo isso em silêncio. É um massacre", disse ele.
Em Qamishli, no nordeste da cidade de Hassake e perto da fronteira com a Turquia, 200 famílias que fugiram do EI encontraram abrigos temporários, de acordo com Jean Tolo, um funcionário da Organização assíria de Socorro e Desenvolvimento.
"Eles chegaram em um estado mental terrível", declarou à AFP por telefone, informando que "já faz três dias que famílias chegam continuamente" em Qamishli.
Cerca de 30 mil assírios viviam na Síria antes do início do conflito, o que representa 2,5% dos 1,2 milhão de cristãos. A maioria deles vivia perto do rio Khabur, na província de Hassake, um território atualmente dividido entre as forças curdas e o EI, enquanto o exército legalista está presente na capital provincial.
O EI é conhecido por sua brutalidade contra as minorias na Síria e no Iraque. "Este é um crime indizível. Eles queimaram casas, igrejas, mataram e sequestraram famílias, tudo isso por quê? Esta é uma pergunta que eu não tenho a resposta", diz Danny Jano. Apesar disso ele afirma: "Vamos voltar para casa. Se não for amanhã, será depois de amanhã".
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