Segundo a agência de notícias Forum 18, o assassinato de um pastor protestante no leste do Quirguistão acentuou as dificuldades que os quirguizes de origem muçulmana enfrentam nas áreas rurais ao se converterem ao cristianismo.
Saktinbai Usmanov, que se tornou protestante em 1990, foi assassinado em 29 de dezembro. O filho de Saktinbai, Ruslan Usmanov, foi visitá-lo no Natal e ficou até tarde da noite com seu pai. No dia 3 de janeiro de 2006, os vizinhos de Saktinbai encontraram seu corpo. Havia marcas de facadas e a cabeça dele havia sido esmagada.
Ao saberem da morte de Saktinbai, um grupo grande de pessoas da vila bloqueou a estrada, tornando impossível enterrar o corpo dele no cemitério local. As pessoas diziam que um não-muçulmano não poderia ser enterrado em um cemitério muçulmano. Só alguns dias depois as autoridades do distrito estabeleceram um terreno para o enterro de Saktinbai, fora do cemitério.
Saktinbai já havia sido intimidado antes. Há alguns anos, homens mascarados entraram na casa dele, colocaram uma faca em seu pescoço e ameaçaram matá-lo caso ele não voltasse à religião de seus antepassados.
Também isolaram Saktinbai por causa de sua fé. Seu filho Ruslan Usmanov contou sobre o mulá (título dado às personalidades religiosas do islamismo) da vila, que proibiu Saktinbai de participar de casamentos ou de funerais. Os quirguizes celebram juntos todos os eventos importantes da vida. "Foi doloroso para o meu pai não ser aceito nos eventos comunitários da vila."
O mulá da vila, depois da morte de Saktinbai, também começou a espalhar boatos de que um cristão havia sido morto pelos protestantes porque ele aparentemente tinha a intenção de voltar ao islamismo. Ruslan Saktinbai disse que até o "Agym" - o jornal da república - publicou essa informação.
Erkin Bekcheraeva, vizinho de Saktinbai, disse que "ele era um homem bom, gentil. Ele costumava ajudar os pobres. Mas o povo não o perdoou por rejeitar a religião de seus antepassados. Mesmo antes da tragédia, a casa dele foi arrombada várias vezes. Antes de sua morte, ele estava quase sem nada - não havia sobrado mais nada na casa dele".
A hostilidade dirigida aos muçulmanos que se convertem ao cristianismo é um vasto problema em todas as repúblicas da Ásia Central.
Em 1990, houve um ataque terrorista na igreja coreana em Dushanbe, no Tadjiquistão. Uma investigação descobriu que dois alunos de uma escola islâmica foram responsáveis pelo ataque.
De acordo com as autoridades do país, em janeiro de 2004 o pastor protestante Sergei Besarab, que fazia trabalho missionário entre os tadjiques, foi morto na cidade de Isfara. De acordo com as autoridades, membros de uma organização islâmica assassinaram Sergei.
Em 2001, um grupo de uzbeques do sul do Quirguizstão fez um julgamento ilegal e irregular, no qual uzbeques que se converteram ao cristianismo foram condenados.
No Uzbequistão e no Cazaquistão também houve casos nos quais convertidos muçulmanos foram vítimas de julgamentos ilegais, ignorados pelas autoridades. Shoazim Minovarov, chefe do Comitê de Assuntos Religiosos do Uzbequistão disse ao Forum 18: Quando adotamos a lei que bania a atividade missionária, os países ocidentais nos acusaram, dizendo que essa restrição infringia os direitos humanos. Mas o problema é que em nossas circunstâncias particulares, propagandas cristãs entre muçulmanos podem resultar em conflitos de morte.
As autoridades no Turcomenistão são explicitamente intolerantes aos convertidos ao cristianismo, especialmente os turcomanos de nascimento.
Sob a lei islâmica, o muçulmano que rejeitar a sua fé deve ser punido. Os tadjiques e os uzbeques são muçulmanos devotos. Os representantes dessas duas nacionalidades vêem aqueles que se converteram ao cristianismo como apóstatas. Entretanto, entre os cazaques e os quirguizes, o islamismo é praticado no dia-a-dia de uma forma superficial, e está bem ligado a credos pagãos. Apenas uma minoria insignificante de pessoas dessas nacionalidades observam os rituais islâmicos, e quase todos os homens consomem álcool - o que é proibido sob o islamismo.
Para o Forum 18, é possível que os povos cazaque e quirguiz vejam seus conterrâneos que se converteram ao cristianismo como alguém que perdeu sua identidade nacional. "A maioria da minha vizinhança bebe álcool e não observa os rituais islâmicos, mas eles se consideram muçulmanos. Eles vêem os que se converteram ao cristianismo como traidores que rejeitaram os costumes nacionais." Esse é um sentimento revelado diversas vezes por quirguizes e cazaques que se converteram ao cristianismo.
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